sábado, 8 de junho de 2013

O Túnel - Ernesto Sabato




Sinopse:
O Túnel é a única novela escrita pelo argentino Ernesto Sabato e que, conjuntamente com Heróis e Túmulos e Abaddón, o Exterminador e diversos ensaios, o tornaram um dos mais importantes escritores contemporâneos. O Túnel possui uma estrutura policial, tendo em Maria Iribarne uma personagem feita dessa alternância de luz e sombra que acaba por levar o pintor Juan Pablo Castel a assassiná-la, num processo em que os seus actos são analisados até à exaustão.
Livro sobre o amor, O Túnel é também uma obra sobre a criação e o que nela pode haver de obsessivo na ânsia de ultrapassar a solidão. «Existiu uma pessoa que poderia entender-me; mas foi precisamente essa pessoa que matei», diz Juan Pablo que se apaixonara pela mulher que fora capaz de compreender um quadro seu e de quem mais tarde não suportará o abandono.

Comentário:
Num tom marcadamente existencialista, Ernesto Sabato surpreendeu-me com este livro. Não esperava encontrar aqui uma obra tão pungente, tão bem escrita, tão profunda na análise da alma humana. O Túnel é um daqueles livros que associa os dois atrativos maiores num bom livro: uma estória que agarra o leitor, feita de uma narrativa emocionante e, por outro lado, um fundo cheio de conteúdo, de ideias assentes na psicologia do comportamento do criminoso e na análise de toda a humanidade que há mesmo nas almas mais revoltadas.
O Túnel é a arqueologia do ódio; é o esmiuçar das profundezas das emoções mais negativas que um ser humano pode experimentar, desde a solidão até ao ódio assassino. Mas sempre com um terrível sofrimento.
O protagonista do livro é um homem desesperado pela solidão que, à partida, sabemos ter cometido um crime hediondo. Depois, o autor oferece-nos um magnífico feed-back com toda a história de um amor obsessivo que conduzirá ao crime.
Pablo Castel é um homem terrivelmente tímido; este é o ponto de partida para um caminho em três andamentos: timidez, solidão, e loucura. O desajuste entre o pensamento e a ação conduz Castel aos mais sombrios mundos que a sua mente alimentou. A fobia ao social – o inferno são os outros – acentua este ensimesmamento e a loucura é o ponto de chegada.
A alma (ou o pensamento) pode ser o maior inimigo do ser humano quando se constrói um mundo interior feito de ilusões ou sombras de Platão. À volta de Castel tudo eram sombras até ao aparecimento de Maria. Ela tornou-se a Luz, mas depressa a mente conturbada de Castel a transformou numa nova sombra, mais negra que nunca: a sombra tenebrosa do ciúme; e à tríade inicial (timidez, solidão e loucura) soma-se agora o ciúme que levará ao extremo da loucura. E, por uma vez, o pensamento, alimentado por um novo e poderoso ódio construído sobre o ciúme, levará Castel à ação; à única ação objetiva que a sua alma encontrou: o crime.
No fundo, por detrás de todos estes fantasmas, um outro monstro se alimentou da mente conturbada de Castel: o medo. O medo, o grande monstro do ser humano… matar não é um ato de coragem; é um ato de medo.
É por tudo isto que considero o existencialismo como a corrente literária mais profunda e profícua: por esse mergulho às profundezas da alma humana, esmiuçando os seus cantos mais remotos e assim fazendo com que o leitor reconheça aí os seus próprios fantasmas, ilusões e sonhos.

5 comentários:

C. disse...

confesso uma certa irritação ao ler este comentário :P já não me lembrava de grande coisa. não é que sei que gostei do livro, que o considerei "Bom" e a única impressão que associo é de uma personagem (um pintor, até aí a memória ainda funciona) que vai alimentando uma ideia fixa ao ponto da obsessão até culminar numa tragédia.

a ler o "Sobre heróis e tumbas"

Boas Leituras :D

SEVE disse...

Mas ao fim de uns meses varre-se-nos tudo do livro que lemos...comigo só excepcionalmente isso não acontece.

Unknown disse...

C.e SEVE
foi por isso que criei este blogue: para combater a PDI :)

Cristina Torrão disse...

"esmiuçar das profundezas das emoções mais negativas (...) Mas sempre com um terrível sofrimento."
As emoções negativas estão sempre ligadas ao sofrimento, os seres mais odiosos são os mais tristes. A tentativa de preencher o buraco dentro deles é que os leva a cometer atrocidades.

É uma viagem interessante (e viciante), esta, pelo teu blogue, Manuel ;)

Unknown disse...

E como é bom saber que o meu bloguezinho pode ser um vício teu :)
Comentando o teu comentário: é por isso que ser positivo é tão importante! A vida parece que nos tenta constantemente, que nos quer obrigar a cair na negatividade! De tal maneira que isto de ser positivo é muitas vezes uma autêntica guerra...