Sinopse:
O Arroz de Palma fala de família. Considerada
falida nos anos 60 e condenada ao desaparecimento, a família situa-se, agora,
neste início do século XXI, como a mais sólida das instituições. Surpreendente?
Nem tanto. Embora sacudida por radicais transformações de comportamento, ao
longo das últimas quatro décadas, a família tem sabido superar suas
deficiências, passar por testes dificílimos e, com base em diálogo mais franco,
obter um maior entendimento entre seus membros: a aceitação do sexo antes do
casamento e da homossexualidade, a união entre pessoas de religiões, raças e
níveis sociais diferentes, a possível amizade entre casais que se separam e a
natural convivência entre filhos de casamentos diferentes são apenas alguns
exemplos de como essa instituição tem sabido evoluir e responder a novos
desafios.
Embora ainda com resistências e intolerâncias aqui e ali, e
apesar de aparentes sinais de fragilidade, a família apresenta-se hoje como a
instituição mais credenciada para reger de forma responsável as mudanças que a
sociedade vem exigindo. Em O Arroz de Palma todos esses temas
e mudanças estão presentes. Antonio, o narrador da história, é naturalmente
envolvido por elas. A história pretende mostrar que, apesar de todos os seus
erros e tropeços cotidianos, a família busca se aprimorar. Ao se empenhar pelo
acerto, essa milenar instituição parece querer provar que nós, seres humanos,
pelo próprio instinto de sobrevivência, estamos fadados ao entendimento.
(da página do autor: http://franciscoazevedo.com/o-arroz-de-palma
)
Comentário:
O clube de leitores Bertrand de Braga ofereceu-me esta
possibilidade de ler pela primeira vez este escritor brasileiro. Não posso
dizer que seja uma obra-prima nem que a escrita de Francisco Azevedo seja
genial. Mas é muito agradável. Talvez pelo facto de ter feito carreira como
guionista, Azevedo presenteia-nos com uma escrita fluida, muito musical, sem
ornamentos desnecessários mas também sem cair na aridez da escrita do tipo SMS.
Grande parte da musicalidade e de um certo exotismo nesta
forma de escrita advém do respeito quase total pela linguagem falada e pelo
sotaque brasileiro; lemos como ouvimos.
A estrutura narrativa é interessante, se bem que demasiado linear:
trata-se dos cem anos de história de uma família brasileira resultante de um
casal pobre português, de Viana do Castelo.
O contexto da aventura iniciada por esse casal apresenta-nos
um retrato muito fiel e historicamente correto do Portugal dos últimos tempos
da monarquia (1908) em que a fome se generalizara, em consequência de uma
política monárquica decadente, corrupta e antiquada. Passava-se fome em
Portugal e o Brasil era uma espécie de terra prometida.
No Brasil, como acontecia com a generalidade dos emigrantes,
também o casal José Custódio e Maria Romana, bem como a Tia Palma,
destacaram-se pela humildade e capacidade de trabalho que os levou a um estatuto
socioeconómico bem distante da miséria portuguesa.
Mas é da geração seguinte que aqui mais se fala; o narrador
é um dos filhos do casal, Antonio, o mais velho dos quatro filhos de José e
Maria (curiosa escolha de nomes) um apaixonado por culinária que se torna um empresário
bem-sucedido.
Mas o fio condutor do livro é o misterioso arroz da Tia
Palma, o mesmo que fora atirado sobre o casal aquando do casamento, em Viana do
Castelo, 1908. O caráter mágico do arroz, experimentado ao longo de um século
por toda a família confere à obra um tom tipicamente sul-americano de realismo
mágico. No entanto, o enredo, a partir de determinada altura perde ritmo e a
estória torna-se algo previsível. Os milagres do arroz de Palma quase se tornam
triviais, tal a sua eficácia e os contextos pouco variáveis em que ocorriam.
Mesmo assim, estamos perante uma leitura agradável de um
escritor que vale a pena conhecer.
1 comentário:
Deu vontade de ler.
bjs nossos
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