Sinopse:
«Estarei acordado, estarei a sonhar? Nunca mais conseguirei
saber. Shakespeare sabia: "Somos feitos da mesma matéria de que são feitos
os sonhos."»
António Valadares, escritor, vive submerso num sonho obsessivo e recorrente, de onde não há fuga possível. Numa derradeira tentativa de encontrar um sentido naquilo que não o tem, aventura-se a escrever sobre a sua vida onírica. Tem assim início uma viagem a um mundo repleto de situações ilógicas e incontroláveis, de intrigas e contradições; um mundo onde personagens reais e fictícias convivem e se fundem.
O que ele não prevê é que o seu empenho em narrar o inenarrável o aprisionará num caleidoscópio de sonhos e obsessões onde realidade e sonho, sonho e ficção já não se distinguem e o próprio espaço e tempo são subvertidos, desde a discussão com Lenine e Trotsky em plena revolução russa até às manifestações em Lisboa e à Mão Invisível que invade a vida e o sonho.
António Valadares, escritor, vive submerso num sonho obsessivo e recorrente, de onde não há fuga possível. Numa derradeira tentativa de encontrar um sentido naquilo que não o tem, aventura-se a escrever sobre a sua vida onírica. Tem assim início uma viagem a um mundo repleto de situações ilógicas e incontroláveis, de intrigas e contradições; um mundo onde personagens reais e fictícias convivem e se fundem.
O que ele não prevê é que o seu empenho em narrar o inenarrável o aprisionará num caleidoscópio de sonhos e obsessões onde realidade e sonho, sonho e ficção já não se distinguem e o próprio espaço e tempo são subvertidos, desde a discussão com Lenine e Trotsky em plena revolução russa até às manifestações em Lisboa e à Mão Invisível que invade a vida e o sonho.
Comentário:
Para além de António Lobo Antunes, estou convencido que há
em Portugal dois nomes enormes que não digo serem candidatos ao Nobel porque
este prémio há muito está desvirtuado mas que são, com todo o mérito, expoentes
máximos da nossa literatura. Refiro-me a Mário de Carvalho e a este sempre magistral
Manuel Alegre.
Este é o seu último romance. Como sempre, contido nas palavras
que não nas emoções; sintético no dizer, expansivo no deixar transbordar a alma.
Alma de poeta, sem dúvida, alma de gente grande que soube enfrentar os
tormentos do obscurantismo que avassalou Portugal noutros tempos. Mais uma vez,
Alegre presenteia-nos com uma escrita magnífica.
No entanto, em termos de qualidade literária, este livro não
traz nada de novo. Simplesmente porque a imensa obra literária de Alegre já não
deixa margem para grandes novidades. Quem começar as leituras deste autor com
este livro, poderá sem dúvida acha-lo excelente; no entanto, quem conhece a sua
obra já não se deixa surpreender.
Mesmo assim, em termos de mensagem, esta obra traz algo de
novo: traz-nos um Manuel Alegre mais introspetivo que nunca. Será o pensar no
fim do caminho? Espero bem que não, mas há aqui algo de profundamente
melancólico.
O acento tónico deste livro são os sonhos; mas não se trata
aqui de um sonhar voltado para o futuro; trata-se de fantasmas revividos, de
manchas do passado, de fragmentos de memória que assaltam o narrador. Sonhos, ficção
e realidade: o sonho como uma espécie de ilha, ou de meio caminho, ou ainda de
território híbrido entre a ficção e a realidade.
É nestes espaços duvidosos, lamacentos, de fronteira, que o
narrador vive, procurando o amigo psicanalista como a única pessoa que o poderá
ajudar a viver, interpretando os seus sonhos.
Se há desânimo neste livro não sei, deixo a palavra aos
críticos literários. Amargura, angustia, isso sim. É um Manuel Alegre ainda à
procura de um autocarro…
Finalizo o meu comentário dizendo que se há aspeto do
carater de Manuel Alegre que se mantém poderoso é o seu espírito crítico; e nem
os “deuses” da literatura lhe escapam:
“Nunca Marx foi tão atual, os governos são conselhos de
administração dos especuladores. Mas a literatura é dominada por
pseudomarginais que são um poder oculto e mafioso, não é melhor que o da
política e dos negócios, é mais hipócrita, domina as páginas literárias,
distribui prémios aos compadres, é uma outra forma de censura e totalitarismo.”
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