Sinopse:
Um homem é incumbido de transportar uma estranha caixa contendo uma cabeça. Um excelso professor vê-se condenado a passar o resto dos seus dias numa prisão deveras invulgar. A história por detrás da internacionalização de uma das maravilhas culinárias de Portugal. Quatro professores reformados que o destino uniu num jardim municipal decidem aliar as suas bibliotecas. Um frequentador assíduo do metro calha em faltar com a sua palavra, despertando a indignação de um dos funcionários. Um comandante da Marinha incapaz de aceitar um não. As memórias da iniciação sexual de um jovem, num tempo em que os tios tomavam a seu cargo essa tarefa. Sete contos. Sete histórias que representam a multiplicidade de registos na escrita inigualável de Mário de Carvalho.
Um homem é incumbido de transportar uma estranha caixa contendo uma cabeça. Um excelso professor vê-se condenado a passar o resto dos seus dias numa prisão deveras invulgar. A história por detrás da internacionalização de uma das maravilhas culinárias de Portugal. Quatro professores reformados que o destino uniu num jardim municipal decidem aliar as suas bibliotecas. Um frequentador assíduo do metro calha em faltar com a sua palavra, despertando a indignação de um dos funcionários. Um comandante da Marinha incapaz de aceitar um não. As memórias da iniciação sexual de um jovem, num tempo em que os tios tomavam a seu cargo essa tarefa. Sete contos. Sete histórias que representam a multiplicidade de registos na escrita inigualável de Mário de Carvalho.
In fnac.pt
Comentário:
É absolutamente incansável, ler Mário de Carvalho. A sensação
que percorre o leitor ao deliciar-se com estas páginas de escrita singela mas
cinzelada é quase de perturbação, pela magia que se pressente: uma magia que
consiste em tornar delicioso o ato de ler. As palavras parece terem sido
esculpidas, não escritas. Cinzeladas em talhe precioso, cuidado ao mínimo pormenor,
escolhidas como quem colhe pepitas de ouro entre o cascalho.
E depois é aquela versatilidade, aquele escrever sobre tudo,
aquela multiplicidade de tons, como se cada conto fosse um quadro
impressionista, em que se deixa ao apreciador da obra de arte o prazer de
recompor as cores, consoante a paleta da sua própria mente.
O primeiro destes contos dá o mote: a Cabeça de Mânlio não é
uma estória; não nos conta uma narrativa, apenas um exercício literário
brilhante, de raiz nitidamente surrealista. O desfecho deixa-nos perplexos mas
encandeados com o brilho de uma escrita perfeita.
Depois vem o humor, muitas vezes absurdo. Sempre delicado,
suave mas permanente. O sorriso vai-se fixando no rosto de quem lê, mesmo
quando exposto à mais vil escravidão, como acontece com alguns dos personagens.
Sim, porque é de escravidão que muitas vezes se fala neste livro, mesmo quando
escondida por detrás de um biombo a que alguns chamam liberdade.
E mais adiante assoma à mente do leitor o maravilhoso léxico
do autor – palavras escolhidas a rigor, bem vestidas, por vezes trajadas de
gala. O leitor sente-se convidado para o festim das letras e pensa, atónito:
onde vai este homem buscar palavras tão certas, tão direitinhas, mesmo quando expressam
a desordem que há no mundo, ou seja, nas mentes de quem o faz?
E, acima de tudo, a crítica social e política: uma liberdade
limitada, enganadora. Dada a conta-gotas, sob exigência de beija-mão. Ou seja,
uma liberdade concedida em troca de algo. Vendida, portanto, mas com aparência
de dádiva. Por isso, uma liberdade que implica submissão; logo, uma liberdade
falsa como Judas. Uma liberdade restrita, pequenina, humilhante. É o nosso
mundo; o mundo da cegueira de Saramago; a cegueira de quem não quer ver e, pior
que tudo, a cegueira de quem aprecia a cegueira e ainda agradece beijando mãos
a esmo.
E é neste mundo que nos afundamos felizes e contentes porque
ainda há hipóteses de sermos ricos, como Fernando Faria que triunfa vendendo caldo
verde em Londres e ameaça arrasar os mercados com a açorda de alho.
1 comentário:
Gostei muito deste livro. Acho Mário de Carvalho um dos melhores contistas portugueses. Porventura será, neste momento, o melhor escritor português vivo (dos que conheço, pois tanto se publica que fico perdido). O conto que mais gostei foi o do negócio londrino do Caldo Verde. Foi genial a ideia de ser contado naquela corte de província.
Concordo absolutamente na referência às "palavras trajadas de fato de gala". Uma maravilha, MC (dou agora que o autor tem as mesmas iniciais que o crítico, e o cumprimento assenta bem aos dois). Apenas um lamento: "Liberdade de Pátio" vale cada cêntimo do que custa. Mas custou caro para o seu tamanho. Pois, bem sei que um livro não vale o seu número de páginas e também que o prazer que deu lê-lo valeu bem mais do que o seu custo. Ainda assim os ordenados vão minguando e os preços... Mas liam este livro e ganhem tempo de vida!
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