Comentário:
Esta incursão do autor pelo romance tem todas as características de uma atrevida aventura literária. Fracassada, diga-se desde já, pelo menos na minha opinião. O que salva o livro é o estilo. A objetividade da escrita, a clareza, a facilidade de leitura. Aliás,dizer que VGM escreve bem seria uma terrível banalidade. Pode não ter sido um grande romancista mas foi um poeta notável e um grande homem das nossas letras.
Fica claro que VGM não é romancista nem nunca o poderia ter sido. Nesta obra há uma ideia inicial, um leitmotiv bem claro, mas pouco mais que isso. Como o próprio autor confessou, a aventura e a obsessão do personagem principal teve origem num conto que VGM resolveu "encher" com considerações, reflexões e descrições avulsas, transformando o livro numa imensa manta de retalhos, um amontoado de assuntos triviais, misturados com reflexões tão profundas quanto enfadonhas. Pelo meio fica um enredo que parte de uma ideia-base muito interessante mas que não chega para preencher uma estória que se pretendia um pouco mais emocionante.
Também a incursão pelos assuntos políticos é dececionante, tendo em conta a experiência e a cultura do autor, deixando-nos uma leitura simplista e quase primária dos conflitos laborais.
O ritmo narrativo é muito lento, em grande parte devido ao cruzamento da narrativa com as tais incursões reflexivas e descrições exaustivas. A partir de certa altura o livro parece mesmo perder o sentido, deixando mesmo a impressão que o autor hesita sobre o rumo a dar ao enredo. Isto acontece porque, de facto, a estória é "curta"; a obsessão do cinquentão divorciado e solitário não chega para preencher o romance e o autor tenta colmatar esta falta com devaneios aborrecidos para quem lê e a inclusão de personagens secundárias que em nada enriquecem o enredo.
Há pouco tempo li as mais de seiscentas páginas das Novelas do Minho em cinco dias. Para ler as 230 páginas deste livro levei os mesmos cinco dias e só não desisti a meio por mera teimosia.
Finalmente, uma referencia para uma capa que, na minha opinião, em nada favorece o livro, nesta edição da Bertrand.
Sinopse:
Alfreda ou a Quimera é a história de uma obsessão, de uma paixão por uma bela e misteriosa mulher com quem o protagonista deste romance - um bibliófilo portuense - se relaciona intima e fugazmente. Essa paixão passa a reger a sua vida, os seus interesses, os seus actos, os seus pensamentos, enquanto ele tenta reencontrá-la. Quando a reencontra, ou quando a verdade sobre ela é revelada, apesar do desapontamento que o atinge e do seu desinteresse em reencontrá-la carnalmente, João de Melo renuncia a uma vida normal, a um amor tranquilo e equilibrado que entretanto encontrara com outra mulher, para se entregar à quimera de Alfreda. As histórias que acabam bem não fazem história; mas alguns episódios obscuros e mal resolvidos marcam-nos para sempre. Além da história central do livro, destaquem-se ainda a relação do protagonista com Pips, o seu amigo homossexual inglês, e a relação apaixonada que mantém com o mundo dos livros e com a sua cidade do Porto.
in www.wook.pt
2 comentários:
Interessante! Há bem poucos dias num blogue li rasgados elogios a VGM por um romance que o bloguer acabara de ler... não era este o romance em causa, só que já não me lembro do nome.
Contrastes...
Até podia ser este; a minha opinião é só isso mesmo: uma opinião e admito que outras pessoas gostem:) Por isso é que a literatura é ARTE e não ciência
Um abraço, Carlos
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