quinta-feira, 3 de junho de 2010

João Aguiar R.I.P.

Faleceu hoje o autor daquele que considero o melhor romance histórico alguma vez escrito em Portugal: A Voz dos Deuses.
Editado em 1984, li-o por volta de 1990. Ao contrário do que aconteceu com muitos outros livros, vinte anos não foram suficientes para eliminar da minha memória algumas impressões que hoje quero parilhar convosco.
A Vos dos Deuses narra a história de Viriato, mítico herói português da ocupação romana do território Lusitano.
Nesse livro, João Aguiar dá-nos a imagem de um herói de carne e osso, um homem que encarnava o carácter português antes de Portugal. Os Lusitanos não são descritos como heróis do passado apenas. Todo o contexto da narrativa caminha para a caracterização do ser português, com as suas crenças, as suas qualidades e defeitos.
O Viriato de João Aguiar é o português que não desiste, corajoso até ao fim, perante a avassaladora presença do exército romano. É a imagem da perseverança, da crença, do espírito de sacrifício e capacidade de sofrimento que caracterizam a alma lusa.
Por outro lado, este romance teve o mérito de lembrar aos portugueses que o nosso passado não se resume à epopeia dos descobrimentos; as nossas raízes encontram-se num mundo bem mais distante, um mundo pré-cristão, dos povos sucessores da tradição céltica, com crenças herdadas da mitologia nórdica e centro-europeia.
Mas Viriato não é apresentado como o tradicional herói supra-humano. É um ser humano com todas as limitações e defeitos que tal condição implica. Nem a sua missão era qualquer causa superior, para além da defesa da honra e da terra. Da alma, talvez.

4 comentários:

Teresa Fidalgo disse...

Manuel,

Uma grande perda! Do homem, do escritor e do "historiador" (não nos podemos esquecer que até as obras juvenis eram pinceladas de história).

Concordo com cada uma das palavras que escreveste.
Li este livro por duas vezes (a última ainda recentemente), mas com o mesmo entusiasmo.
De facto, “A Voz dos Deuses” transporta a nossa alma para outros tempos e faz-nos sentir lá. Imprime-nos o gosto, a honra de sermos descendentes de um povo de luta, de coragem, que resiste – aqueles foram os nossos antepassados. Por várias vezes, no decorrer dos tempos, demonstramos que somos capazes de ter a mesma garra e determinação. É esse espírito (embora às vezes adormecido!) que não nos faz desistir.

N. Martins disse...

Foi com muita pena que soube da morte dele. É, realmente uma grande perda.
Nunca li esse que referes, terei de corrigir essa falha brevemente.

Atlantida disse...

Peço desculpa pela verborreia, ainda agora aqui cheguei, e não me contenho...
Terei lido "A voz dos Deuses", pela primeira vez, no início dos anos 90, ainda adolescente, e foi um dos livros que mais me marcou. É um dos meu favoritos. Já reli, há uns anos, e continuo fã.

Unknown disse...

Também tenho de reler...