Sinopse
Depois do extraordinário êxito de repercussão internacional
alcançado pelo primeiro livro desta trilogia, A Queda dos Gigantes, retomamos a
história no ponto onde a deixámos. A segunda geração das cinco famílias cujas
vidas acompanhámos no primeiro volume assume pouco a pouco o protagonismo, a
par de figuras históricas e no contexto das situações reais, desde a ascensão
do Terceiro Reich, através da Guerra Civil de Espanha, durante a luta feroz entre
os Aliados e as potências do Eixo, o Holocausto, o começo da era atómica
inaugurada em Hiroxima e Nagasáqui, até ao início da Guerra Fria. Como no
volume anterior, a totalidade do quadro é-nos oferecido como um vasto fresco
que evolui a um ritmo de complexidade sempre crescente.
Comentário
A análise que fiz do primeiro volume desta trilogia já
revelou que não me tornei um adepto incondicional de Follett. Não vou dizer que
é um mau livro, nem sequer um livro vulgar. Mas não é uma obra de exceção. Este
segundo volume não me entusiasmou muito mais que o primeiro, embora reconheça
uma maior fidelidade histórica e um pouco mais de criatividade no domínio
ficcional.
Follett tem nestes três volumes um projeto muito ambicioso:
sintetizar a história europeia do século XX (ou pelo menos os seus principais momentos)
envolvendo-a num plano de ficção construído em torno de cinco famílias de
diversas nacionalidades. Assim, torna-se incontornável a comparação com Guerra
e Paz, essa obra imortal de Tolstoi. No entanto, não era difícil adivinhar que
a obra de Follett fica a perder. Por um lado, o âmbito cronológico da obra é
imenso, em comparação com o muito mais restrito espaço temporal de Tolstoi; por
outro lado, em termos de ficção, o enredo parece-me demasiado previsível e
recheado de lugares comuns: casamentos e divórcios, triângulos amorosos,
desencontros e reencontros nas circunstâncias mais inesperadas (as famigeradas
coincidências que têm sempre as “costas largas”).
Não quero com isto, de maneira nenhuma depreciar a obra, até
porque ela tem o imenso valor de divulgar fenómenos históricos que precisam
sempre e cada vez mais de ser relembrados, nesta época de incertezas que
vivemos. Na verdade, o século XX, o século do povo na feliz expressão de Mário
Soares, foi também um século de imensas desgraças. Melhor dizendo, um século de
enormes erros humanos que custaram a vida a milhões de pessoas. Foi um século
de extremos; de imensa e belíssima criatividade artística, de inacreditáveis
progressos tecnológicos mas também foi o século em que mais de cem milhões de
pessoas morreram em guerras. Cerca de trinta destes cem milhões morreram nos
dois conflitos bélicos que este volume aborda: a guerra civil espanhola e a
segunda guerra mundial; duas desgraças provocadas, em grande parte pela loucura
insana de alguns líderes políticos, como Hitler, Mussolini, Franco, Estaline,
etc.
Neste âmbito mais pedagógico, de divulgação do conhecimento
histórico, esta obra tem imenso valor. A isto podemos somar um esforço louvável
e bem conseguido de isenção na análise, se bem que a simpatia do autor pelas
ideias de esquerda me pareça clara.
Trata-se, e suma de uma obra que devia ser lida por todos os
estudantes de História e por todos os que se intessam pela história do século
XX, bem como pela evolução das ideias políticas no mundo contemporâneo. Muitos
assuntos mais pontuais me levam a valorizar ainda mais o livro: a análise fria
e límpida do papel de Churchill no desfecho da guerra, a análise dos movimentos
fascistas nos países democráticos, a compreensão correta do drama dos súbditos
da ditadura estalinista na URSS, o heroísmo da resistência francesa, o papel
assinalável dos voluntários no trabalho humanitário de socorro às vítimas da
guerra, etc. etc. Numa apreciação muito subjetiva devo dizer que a dimensão
histórica me fascinou, ao contrário do enredo ficcional; mas nem assim deixa de
ser uma obra de qualidade e de leitura muito fácil.
3 comentários:
Só li um livro de Follett e gostei. Mas trilogia terá de esperar, que a próxima a ler será a de Murakami...
Mesmo assim, parece-me que esta será a meu gosto, gosto desse panorama histórico de fundo, com tudo o que o século XX teve de bom e de mau! :)
Parabéns pelo teu texto!
Sim, numa obra tão ambiciosa como esta, não me admira que o enredo fique um pouco pelo caminho. Conheço esse problema: dar ênfase aos factos históricos, ou construir um enredo excitante e imprevisível (dentro das possibilidades)? A dificuldade é maior, quanto mais aspetos históricos se quer incluir no romance; num espaço cronológico mais curto, podemo-nos concentrar melhor no enredo.
De Follett ainda só li "Os Pilares da Terra" e confesso que me dispersei um pouco com a quantidade de tramas e personagens principais (é esse o problema: haver tantas principais).
De qualquer maneira, a capacidade de organização, de pesquisa e a imaginação de Follett são admiráveis.
Teté
tenho a certeza que vais adorar a trilogia do Murakami. Esta obra é bem diferente; eu diria que o Murakami tem o dom da fantasia. Follett é muito real.
Cristina; é isso: Follett é demasiado real; acho que nessa balança de que falas, tu encontraste o equilibrio. Follett procura encaixar ficção na realidade mas de uma forma algo forçada.
beijinhos
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