O Grande Masturbador - Salvador Dali
Começo por aquilo que deveria ser, talvez, a conclusão deste
texto: um livro formidável onde a sexualidade é exposta de forma despudorada,
embrulhada num humor de levar às
lágrimas.
Portnoy é o nome de família. Uma família judaica a viver nos
EUA durante o período de terror do antissemitismo hitleriano. O jovem Portnoy,
Alexander, é uma criança superdotada mas asfixiada pela rigidez de costumes da
sua comunidade. O sexo, um escape
interiorizado de forma obsessiva. O judaísmo, uma religião e uma cultura
castradora. O humor, uma arma de Roth para troçar da vida.
Alexander Portnoy, um génio com um QI de 158, que avançou
dois graus na escola primária, agora com 33 anos, conta a sua vida e confessa
os seus dramas ao psicanalista. Toda a vida do jovem, todos os dramas e todas
as frustrações são assim explanados no divã da psicanálise.
Daqui resulta um
livro absolutamente fabuloso. Uma obra-prima!
Alexander acaba por atingir uma carreira política de
sucesso: aos vinte e cinco já era consultor especial de uma subcomissão de
Habitação do Congresso dos Estados Unidos. Mas a sua vida pessoal era uma
tempestade contínua.
A linguagem de Roth é
crua, por vezes cruel, incisiva e sem receio de ferir; talvez mesmo com
intenção de ferir com lê, numa mistura genial da crueldade com o humor… uma
mistura talvez sádica mas sem dúvida masoquista. Recorde-se que Roth é
judeu e sempre assumiu uma postura muito crítica face à sua comunidade.
Até o próprio humor é cruel, sádico.
Por detrás de tudo
isto está um sentimento de revolta para com o conservadorismo da comunidade
judaica. Ou contra o próprio Deus?
“Vergonha e vergonha e
vergonha e vergonha — para onde quer que me volte, dou com alguma coisa de que
me deva envergonhar.”Este é o trauma maior de Alex.
O desencanto perante a falta de uma identificação com o
grupo e com a sua cultura conduziram-no a uma sexualidade desenfreada e esta a
uma recusa frontal do amor romântico.
Episódios cómicos carregam consigo profundas cargas
simbólicas: uma sexualidade tão desenfreada que nem o fígado para o jantar
escapa. Excita-se em qualquer lugar; mas na Terra Prometida não consegue…
Só na parte final do livro, alguém põe os “pontos nos i’s”: Alex viajara para
Israel à procura das suas raízes mas, acima de tudo, à procura da sua própria
personalidade; era fora um judeu revoltado contra o anti semitismo mas também
contra o conservadorismo inútil e castrador da sua própria comunidade. Daí
resultou uma personalidade confusa, perdida entre desejos desenfreados e um
nunca acabar da procura da felicidade. Mas a felicidade interior, ele nunca a
encontraria nas mulheres que conquistou. Esta parecia ser, finalmente, a sua
musa da paz; uma jovem israelita que (mais uma vez) lhe fazia lembrar a mãe.
Mas é mesmo esta jovem quem vai, finalmente, desvendar o verdadeiro Alex: Auto depreciativo, Auto reprovador, Auto
escarnecedor. É assim que a israelita socialista responde ao pedido de
casamento de Alex.
Ele só queria ser normal… e ela era tão parecida com a mãe!
5 comentários:
Segue meu blog idealize-e.blogspot.com.br, obg!
Olá Manuel,
Belo comentário sobre um romance extraordinário.
Como vês, Philip Roth tem histórias divertidas. Esta é inesquecível.
Bjs.
Belo blogue este que acabo de descobrir.Parabéns.
Philip Roth é absolutamente fabuloso, já li toda a sua obra traduzida em Portugal e nunca li uma descrição tão monumental sobre a escabrosidade do ser humano como a descrita no "TEATRO DE SABBATH" e o inesquecível e inenarrável "PASTORAL AMERICANA", tudo bom deste grande, grande escritor americano
Parece-me obrigatório...
Hilariante! Gostei imenso do livro.
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