Sinopse:
Manuel Galeano - que sempre tivera "o contrabando no
sangue" - sumiu antes do segundo encontro. Inesperadamente, como cruzara o
caminho do seu velho conhecido em Amesterdão. O primeiro encontro, seguido de
uma conversa saborosa no bar de um hotel, cheia de memórias de juventude e de
algumas confidências do presente, é o ponto de partida para uma longa evocação
e uma viagem sentimental: da história do tráfico entre o Minho e a Galiza -
tráfico de cigarros, uísque, barras de ouro, gado e café e mais recentemente de
narcóticos - e os seus protagonistas - Diogo Romano, El Min, Sito Miñano, o
Pardal, o Pepe, Mustafé e o Laurestim-, que durante décadas enformaram o
imaginário pícaro local; e a viagem de revisitação que o autor deste livro faz
aos lugares da infância e da primeira idade adulta.
La Coca é também uma investigação literária - que se materializa neste livro - e um pequeno tratado dos mecanismos da memória.
Um romance breve, profundamente irónico e terno. E a escrita clara, brilhante, de Rentes de Carvalho.
La Coca é também uma investigação literária - que se materializa neste livro - e um pequeno tratado dos mecanismos da memória.
Um romance breve, profundamente irónico e terno. E a escrita clara, brilhante, de Rentes de Carvalho.
Comentário:
Confesso que nunca tinha tido conhecimento da obra deste
escritor; o meu interesse foi despertado por um post no blogue http://queroumlivro.blogspot.pt e em
boa hora segui a recomendação da sua autora, N. Martins.
Ler Rentes de Carvalho foi, para mim, uma das melhores
surpresas dos últimos tempos.
Este livro consegue algo impensável para a maioria dos
escritores de ficção: agarrar o leitor do princípio ao fim sem dispor de um
narrativa minimamente recheada daquilo a que gosto de chamar estória. Quer dizer:
aqui não há suspense, não há incerteza no desfecho; o que há é uma autêntica
conversa com o leitor. O autor não conta uma estória mas acaba por contar
centenas delas, como alguém que conhece a fundo aquele meio, ao mesmo tempo
assustador e maravilhoso do contrabando. Desde o mais pequeno do
contrabandista, que age à margem da lei para sobreviver, até ao autêntico “padrinho”
que comanda verdadeiros cartéis, Rentes de Carvalho dá-nos a conhecer um mundo
impensável para a maior parte de nós, o mundo da criminalidade na Galiza e Alto
Minho.
Poucos como Rentes de Carvalho expressam tão bem esse
sentimento vago e maravilhoso que é a nostalgia da memória: o bom e o mau, o agradável
e o detestável, o heroico e o criminoso, todas estas aparentes antíteses não
passam de faces das mesmas moedas, porque no coração dos homens raramente está
a consciência do bem ou do mal: está uma forma de viver. A nostalgia do passado
é evocada sem juízos de valor; apenas interessa a vida e os sentimentos de quem
vive.
Ao longo da leitura várias vezes me vieram à mente imagens
daqueles homens cuja experiência de vida fez deles grandes contadores de histórias;
em Rentes de Carvalho a imaginação e a criatividade misturam-se com um palco de
memórias e tudo isso é levado à escrita de uma forma fácil, fluida e muito
agradável de ler.
Não é um livro do qual se possam fazer muitos comentários; é
um livro simples, singelo, capaz de entreter quem lê. Aqui não há mensagens de
fundo nem lições de moral: há uma narrativa cheia de valor antropológico, onde
se visitam lugares e, acima de tudo, emoções de pessoas simples, de seres
humanos a quem o destino encaminhou para múltiplos caminhos.
4 comentários:
Efectivamente J. Rentes de Carvalho é um belíssimo escritor que se lê com muito,muito agrado (até o seu blogue -tempo contado- é excelente).
Por exemplo, o primeiro livro que li deste autor apanhou-me logo (COM OS HOLANDESES), seguiram-se outros que confirmaram a excelência deste escritor (MAZAGRAN, OS LINDOS BRAÇOS DA JÚLIA DA FARMÁCIA).
Vejo que Seve já te chamou a atenção para o blogue de Rentes de Carvalho. Caso ainda não conheças:
http://tempocontado.blogspot.com
Agora, por acaso, está um post enorme na página principal, mas ele também publica textos curtos, todos fantásticos ;)
Já li quase todos os livros publicados em português.
O "Ernestina" é uma delícia.
Uma pena que se editem tantos livros sem conteúdo, e que, por outro lado se tenha negligenciado por mais de 30 anos este mestre da escrita.
Fico contente que tenhas gostado. :)
Agora é avançar para os outros dele. Como a Catarina diz, no comentário anterior, Ernestina é delicioso. Se como homem do norte te identificaste com La Coca, não podes deixa de ler o Ernestina.
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