Nunca a história de D. Inês de Castro e de D. Pedro I foi contada com tanta sensibilidade.
Nesta obra, maiores do que os factos são os sentimentos: o amor intenso de Pedro e Inês, a malvadez interesseira dos irmãos de Inês, a frieza e insensibilidade do rei Afonso IV, o sentido de justiça de D. Pedro e o amor do povo por este rei injustiçado mas justiceiro e apaixonado, também, pelo povo.
João Aguiar revela nesta obra toda a sua enorme vocação para narrar os acontecimentos de forma quase cinematográfica: uma linguagem concisa e precisa, emocionante na narração, objectiva nas descrições e precisa nos factos históricos fundamentais.
Aguiar aborda os acontecimentos com uma profundidade na análise psicológica que vai muito além do amor trágico de Pedro e Inês. Por exemplo: a maioria dos historiadores relegam para segundo plano uma situação que, numa abordagem preconceituosa deixaria pouco favorecida a imagem do rei justiceiro: a amizade “colorida” que nutria pelo escudeiro Afonso Madeira, uma amizade a que o próprio cronista Fernão Lopes se referia nestes termos: “que o amava muito mais do que aqui se deve dizer”.
Outro pormenor que Aguiar desenvolve com perspicácia é a importância da opinião pública no desenrolar dos acontecimentos: ontem como hoje, a maledicência parece ter tido um papel fundamental na decisão trágica de Afonso IV de mandar decapitar Inês: os murmúrios da corte, as intrigas palacianas e até o típico maldizer popular, que manchavam o amor com os fantasmas hipócritas do pecado. Ontem como hoje, foi o triunfo da mais antiga e estúpida tradição nacional: a maledicência.
Em conclusão: um livrinho que se lê com imenso prazer, sem esforço, com emoção e que faz justiça àquele que foi um dos personagens mais brilhantes da História de Portugal: D. Pedro I, o rei que foi homem, que amor e odiou, que foi cruel mas justiceiro, impiedoso mas capaz de trazer sempre o povo no coração.
O livro serviu de guião ao filme de José Carlos de Oliveira, com Cristina Homem de Mello no papel de Inês e Heitor Lourenço como D. Pedro.
3 comentários:
Aguçou-me o apetite esta sua opinião... Gosto muito de livros que nos ensinem algo.
O mesmo se passou com o que acabei de ler: "Meio sol amarelo".Dê uma espreitadela no meu blog:http://otempoentreosmeuslivros.blogspot.com
O do João vou buscá-lo à biblio, de certeza!
Boas leituras!
Um autor que quero conhecer, mas vou começar pelo o outro que também já falaste aqui, "A Voz dos Deuses".
Cris, também acho que um bom livro deve ensinar algo. Mas, acima e tudo, deve ensinar divertindo. Já conheço o teu blog :)
Tons de azul, trata-se de dois livros muito diferentes, embora ambos sejam romances históricos e ambos sejam emocionantes. É um autor que merece toda a nossa atenção pela forma objectiva e emcionada e emocionante como escreve.
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