Sendo o primeiro livro que li do autor, parti para a leitura
sem grandes expectativas. No entanto, devo dizer que a literatura espanhola
contemporânea raramente me tem desiludido. E este livro veio confirmar a
tendência.
Trata-se de um romance muito interessante sobre um período traumático
da história de Espanha: a Guerra Civil. As feridas profundas abertas pela
absurda vitória do fascismo de Franco, ainda não fecharam na alma espanhola.
Ignacio Del Valle retrata muito bem essa angústia.
Arturo é um agente da polícia franquista secreta que, depois
da guerra, ainda sob a euforia da vitória fascista, procura recuperar um quadro
famoso, com o título que é dado ao livro e que havia desaparecido quando os
republicanos tentaram desviar para França a maioria do espólio do museu do
Prado.
À medida que vai seguindo as pistas que o levarão ao quadro,
Arturo vai revelando toda a insanidade de um regime violento, injusto e
absurdo. É o triunfo da irracionalidade, do inquestionável culto do chefe.
Mas o mais interessante neste livro é a forma como o próprio
Arturo vai revelando as suas fraquezas: aquele que à partida nos é apresentado
como um polícia duro, inflexível, irracional pela forma fanatizada como segue a
autoridade do ditador, vai sendo desmistificado na sua dimensão humana; à
medida que o enredo avança vamos descobrindo um Arturo inteligente, capaz de
questionar a injustiça e sensível a essas mesmas injustiças. A partir daqui constrói-se
mesmo uma interessante história de amor impossível. Afinal, Arturo é um ser
humano!
São evidentes os referentes
quixotescos: a Dulcinea que Arturo procura, distante e encantada e a demanda de
justiça que o agente empreende, embora sem nunca se libertar do jugo da
ditadura que o doutrinara tão profundamente.
Em suma, trata-se de um livro sem a dimensão de uma obra prima
porque não nos oferece qualquer inovação em termos de estilo ou de enredo mas
que se lê com imenso prazer; com um rigor histórico apreciável, uma análise psicológica
muito interessante e uma emoção que nos leva até ao final do livro na tradição
do bom romance policial.
Avaliação Pessoal: 8/10
5 comentários:
Estes nuestros irmanos estão em grande, na literatura, futebol, ciclismo, etc...
Gostei do teu comentário, Manuel
Abraço
Mais um a pôr na lista!
Também gosto da literatura espanhola contemporânea.
Humm... parece bom :)
Gostei bastante desta opinião e fiquei com curiosidade em ler este livro que já tinha ouvido falar.
Gosto particularmente de ler sobre este periodo de tempo em Espanha, embora não seja um tempo de grandes alegrias.
Por falar nissso... já leste o Tempo entre costuras? de Maria Dueñas.
Não, Nuno, não conheço esse escritor.
Quanto a este, acho que encaixa perfeitamente nos teus gostos.
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