Penso que nunca me foi tão difícil comentar um livro; talvez
porque este livro seja “inclassificável”. Diferente. Não é um romance nem um
ensaio. Não é um diário embora esteja escrito nesse formato. Não é poesia
porque escrito rem prosa. Aliás, alguém disse que o livro não teve o sucesso
merecido porque na época foi classificado como poesia em prosa. Eu não entendo
muito bem isso na medida em que considero que um dos seus maiores méritos, o
que faz dele um libro belo é o facto de ser precisamente poesia em prosa.
Antes de mais convém dizer que ao ler “Húmus” nos
apercebemos imediatamente que estamos perante um marco na história da
literatura portuguesa, de tal maneira é nítida a sua influência em escritores
posteriores como Agustina Bessa Luís, Vergílio Ferreira ou António Lobo
Antunes.
A escrita de Raúl Brandão carateriza-se por uma força
notável, na forma de transmitir a melancolia e o drama da alma humana na busca
de um sentido para a vida. NA vila onde se desenrola a ação “não andam só os
vivos”. Estes por vezes vivem como mortos; recusam a vida enquanto momento de
descoberta, de ação, de procura. Este tom faz-nos lembrar o existencialismo português; uma espécie de existencialismo antes do existencialismo, entenda-se. Percursor de Vergílio Ferreira, sem
dúvida.
Um dos aspetos mais importantes da mensagem de Raúl Brandão
ó o drama da existência ou não de Deus. Para o protagonista do livro, Deus não
existe mas, mesmo assim, condiciona toda a sua existência. Talvez pouco importe
saber se Ele existe ou não. A sua presença, mesmo que virtual, é marcante. É
decisiva. É revoltante. Consoladora, às vezes. Depois, coisa bem diferente, a
Consciência. Outro fantasma; outro monstro que condiciona, sempre, a vida
humana. E a vida transforma-se, aos poucos, nessa longa, interminável,
reflexão. A vida foge e os dramas ficam; as incertezas; a procura de algo que,
desgraçadamente, mal sabemos definir.
Perante tanto conteúdo, é difícil perceber porque é que este
livro não obteve a receção pública de outros. A resposta é bastante simples: a
sua leitura não é fácil nem agradável. Por vezes chega a ser uma experiência
dolorosa tão profundos são os dramas apresentados pela alma atormentada do
personagem principal e, quiçá, do autor.
No entanto, o esforço é largamente compensado; este é um livro que nos faz pensar e mesmo sofrer. Mas também, e principalmente, aprender. Uma obra magnífica.
No entanto, o esforço é largamente compensado; este é um livro que nos faz pensar e mesmo sofrer. Mas também, e principalmente, aprender. Uma obra magnífica.
7 comentários:
essa resenha ficou bem empolgante, fez eu querer ler a historia, deve ser mesmo bem interessante.. confesso que não conheço nada do autor.
É um dos meus livros mais que preferidos! Assim que o comecei a ler apaixonei-me de imediato.
Lembro-me que o descobri por intermédio de uma opinião que li no Jornal de Letras.
Excelente opinião, Manuel!
Kézia, o mais interessante não é a história, é o sentimento, a reflexão, a alma...
Tonsdeazul, foi por teres falado tão bem do livro que eu o li. Em boa hora! Obrigado, portanto :)
"Para o protagonista do livro, Deus não existe mas, mesmo assim, condiciona toda a sua existência. Talvez pouco importe saber se Ele existe ou não" - estas palavras convenceram-me a inscrever o livro na minha lista de obras a adquirir ;)
Cristina, eu também achei esta perspetiva muito interessante. E verdadeira. Quer ele exista quer não, ele determina muitas coisas na nossa vida...
Tenho de ler este livro para fazer uma apresentação para portugues, mas nao consigo entender nada do livro, pode-me ajudar?
Você pode me falar dos personagens e a reflexão que o livro traz pra si?
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