Sinopse
Em Mudanças, Mo Yan descreve, na primeira pessoa, as
alterações políticas e sociais no seu país ao longo das últimas décadas, num
romance disfarçado de autobiografia, ou vice-versa. Ao contrário da maioria dos
escritos históricos sobre a China, que se limitam a narrar acontecimentos
políticos, Mudanças conta a história do povo, numa perspetiva mais intimista de
um país em transformação. Avançando e recuando no tempo, Mo Yan dá vida à
História, descrevendo com acutilância e muito humor os efeitos dos
acontecimentos do dia-a-dia na vida do cidadão comum.
Comentário:
Para quem, como eu, nunca havia lido Mo Yan é surpreendente a
falta de originalidade e mesmo de qualidade literária deste pequeno romance.
Pode ser uma “obra menor” do escritor, ou seja, pode não ser representativa da
sua bibliografia, mas vista assim isoladamente, esta é uma obra parca de
originalidade, com um enredo demasiado simples e previsível e que tem como
único atrativo a linguagem simples que propicia uma leitura rápida e fácil.
Em termos de temática o livro faz lembrar o neorrealismo
português do século XX: as dificuldades do povo, perante as classes dominantes
e a miséria material.
O enredo é marcado por nítidos traços autobiográficos; o
autor, tal como o personagem principal do livro cresceu num meio pouco favorecido
e viria mais tarde a encontrar o sucesso pela escrita. Pelo meio ficava a luta
política e um contexto social algo contraditório. O contexto político, marcado
pelo comunismo chinês, não é nunca alvo de uma crítica aberta por parte do
autor; ele próprio se adaptou ao sistema e o final do livro revela, por um
lado, a corrupção reinante no sistema, por outro lado a acomodação total do
autor ou, neste caso, do personagem principal.
Não posso evidentemente dizer que este é um mau livro, é um
livro simples e algo despretensioso. Em muitos aspetos é um livro pouco cuidado
e com um enredo demasiado linear. Mas nunca adivinharemos (se não o
soubéssemos) que é uma obra de um prémio nobel. Livros com melhor qualidade
literária que este “Mudanças”, temos em Portugal, seguramente, largos milhares.
Finalmente uma palavra para esta nova editora que agora
aparece, precisamente com este livro a marcar o seu arranque: Divina Comédia.
Este livro é-nos apresentado com uma qualidade excelente, em termos gráficos e
materiais. Esperemos que assim continue.
7 comentários:
Interessante, esta tua opinião. Sabes se se trata de uma obra antiga ou recente?
Olá Cristina
o livro foi escrito em 2010.
Beijinhos
pelo que li adoraste...
estás a ser irónico, né? :)
Mas olha que também não detestei; é um livro pequenino, de cerca de 160 páginas, que se lê com leveza e rapidez.
Pelo comentário dá vontade de ler ;-)
vale sempre a pena ler, Tiago :)
Acabei de ler recentemente o Peito Grande Ancas Largas e é uma história colossal, uma saga familiar cheia de personagens e situações que ficam connosco. Quando existirem outras obras do autor no nosso mercado, certamente vou repetir. Muito me interrogo sobre o que fica perdido na tradução uma vez que o livro é traduzido do inglês e a propósito desta reflexão, penso que uma das razões do sucesso do António Lobo Antunes, que não é dos meus autores preferidos, é que a sua prosa é fácil de adaptar à língua inglesa.
Enviar um comentário