sábado, 16 de abril de 2011

As traduções: algumas brilhantes, muitas miseráveis

Por sistema evito dizer, nos meus comentários, qualquer coisa que desincentive a leitura. Portanto, em geral não falo das traduções. Mas a verdade é que, para além de os livros em Portugal serem dos mais caros da Europa, as traduções são geralmente más. Frases sem qualquer sentido, erros ortográficos, tempos verbais errados a fazer lembrar as traduções do Google, são marcas indeléveis de trabalhos de tradução apressados. Isto para já não falar da nítida ausência de compreensão do espírito da obra e do autor, que seria essencial para que a tradução fosse bem feita.

Evidentemente que há excepções; muitas e boas, como as obras de Murakami na Casa das Letras, a magnífica tradução de Guerra e Paz na Presença ou as obras de Auster na ASA. Nos casos de Auster e Murakami o segredo está numa estratégia bem sucedida que foi entregar todas as obras do autor ao mesmo tradutor. Um bom tradutor tem de intervir na obra, não pode simplesmente servir de dicionário. Nesse aspecto lembro-me de um caso brilhante: Jorge de Sena quase reescreveu a Condição Humana. É caso para dizer que também não é preciso exagerar…
Mas, globalmente, as traduções portuguesas são fracas e nalguns casos que me escuso de nomear são absolutamente miseráveis. Pelo que oiço por aí, isso parece que tem a ver com a forma também miserável como as editoras pagam esse serviço. Será verdade?

3 comentários:

Beatrix Kiddo disse...

"Mas a verdade é que, para além de os livros em Portugal serem dos mais caros da Europa" pois são, e isso irrita-me de uma maneira...

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o comentário. Muitas vezes vejo-me quase "obrigado" pela qualidade das traduções a comprar e ler livros em inglês. Além de considerar melhor as traduções (e aqui evidentemente também há excepções) os preços são muitos mais acessíveis. Relembro de ver, por exemplo, um livro do Miguel Sousa Tavares em versão inglesa muito mais barato que a versão portuguesa (não se colocando aqui a questão da tradução). Um livro que me deu muito prazer em ler, na minha opinião mais pela tradução do que pela história, foi Rayuela do Julio Cortázar, editado pela Cavalo de Ferro. Embora não tenha lido o original, pelas variações literárias que o livro contém achei muito bem escrito e traduzido. Esperemos com o tempo que as editoras portuguesas comecem a ganhar outra sensibilidade, que nós leitores gostaríamos que já existisse há muito.

Luís Azevedo disse...

Acho que muitas das más traduções se devem efectivamente à ridícula soma que as editoras pagam aos tradutores. Pessoalmente estava a considerar enveredar por esta saída profissional até descobrir que a tradução é uma das profissões qualificadas mais mal pagas em Portugal.
Não me incluindo no lote, mas uma profissão pouco apelativa monetariamente perderá quase todo o apelo para os melhores dos melhores. Esses são afastados para outras áreas.
A baixa remuneração também obriga os tradutores a uma carga horária maior para auferir um maior vencimento; mais trabalho, mais pressões, pior traduções.

Até há bem pouco tempo não dava muita importância às traduções. Partia do princípio que fossem sempre fiéis ao original; até que comecei a ler o Oliver Twist em ortuguês. Simplesmente não acreditava que um autor como o Dickens pudesse escrever tão mal. Guess what, estava certo! O original fazia a tradução parecer uma daquelas adaptações de livros de gente graúda para crianças. A magia do original tinha desaparecido por completo.
É uma pena que isto aconteça.