Este é o primeiro romance de João Tordo, publicado em 2004 e reeditado recentemente pela D. Quixote. Trata-se de uma obra que surpreende pelo mistério mas também pela originalidade, principalmente ao nível da estrutura do romance.
Histórias cruzadas de pessoas infelizes…
Um homem vive em Londres, sozinho e o seu trabalho é contabilizar acidentes que não acontecem; mais tarde seguirá pessoas pelas ruas, sem saber porquê…
Joseph é padeiro em Londres durante a segunda guerra mundial; juntamente com Helena, é soterrado num abrigo durante um bombardeamento…
Joseph é padeiro em Londres durante a segunda guerra mundial; juntamente com Helena, é soterrado num abrigo durante um bombardeamento…
Um rapaz trabalha numa biblioteca e sofre de insónias; a sua vida é a tortura da solidão…
Estas e outras personagens, todas enigmáticas e errantes cruzam-se em episódios aparentemente dispersos, num tom de cinzento carregado.
Na contracapa desta edição pode ler-se: “Com ecos de Kafka e Auster…”. Na verdade são nítidos os elementos kafkianos: a “metamorfose” de Joseph no último capítulo; a monotonia, a rotina, como alienação; o absurdo da vida. E de Auster é notório o desespero das personagens na procura da sua própria identidade e a luta sempre inconsequente contra a solidão como se esta fosse um desígnio incontornável da existência humana.
Mas este livro é muito mais do que um repositório de influências, sejam elas de Poe (de quem também julgo descortinar alguns traços), de Auster ou de Kafka. É um livro brilhante pela construção e pela estrutura do enredo: as “pontas soltas”, largadas ao longo do livro, são depois unidas num trabalho conjunto do autor e do leitor, num esforço permanente mas que envolve um aspecto lúdico para o leitor atento. Tudo se passa como se o enredo fosse um enorme puzzle, cujas peças o leitor vai colocando no lugar, tanto no que se refere às personagens como nos múltiplos tempos narrativos. As personagens vão encontrando pontos de contacto entre si, o que surpreende constantemente o leitor, numa espécie de jogo que nos envolve até à última página.
Sem dúvida um livro belíssimo e surpreendente.
Avaliação Pessoal: 8,5/10
3 comentários:
Gostei muito do único livro que li do João Tordo, As Três Vidas e fiquei cheia de vontade de ler os outros dele. Estou à espera de uma Feira do Livro "simpática", em termos de preços, para este autor. :)
É um escritor surpreendente.
E eu estou morto por ler as Três Vidas, N.
De facto fiquei surpreendido com este escritor. Quando aparecem assim uns filhos de pais ilustres, como este, eu desconfio, porque muitas vezes fazem sucesso por causa do pai e não por terem talento. MAs este tem mesmo talento :)
Também eu receava que fosse mais um dos muitos casos de pai famoso, mas arrisquei e investi no Bom Inverno; boa surpresa; recomendo.
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