Num jogo de futebol, um avançado corre com a bola para a baliza e é derrubado. O árbitro assinala grande penalidade, que é o castigo máximo. O jogador que vai marcar a grande penalidade tem a bola colocada no solo a 11 metros da baliza. Esta, tem mais de sete metros de largura: uma enormidade. Apenas o guarda-redes pela frente. No entanto, por vezes, o jogador atira ao lado ou permite a defesa do guarda redes. Foi o que fez Daniel Glattauer: conquistou uma grande penalidade, teve a oportunidade maior, mas atirou ao lado.
Por outras palavras: teve uma grande ideia, concretizou-a da melhor maneira em termos formais mas atirou ao lado falhando, a meu ver, no destino que deu aos personagens.
Especificando:
A ideia é brilhante porque, sendo original na literatura de ficção, aborda um assunto actual; situações destas acontecem, de facto na vida. Leo Leike e Emmi Rothner conhecem-se por acaso através de um e-mail extraviado. Quer dizer, conhecem-se virtualmente; um e-mail recebido por engano é o ponto de partida para uma longa troca de correspondência em que a intimidade e o sentimento crescem incessantemente.
No entanto, aquilo que à partida é uma situação divertida vai-se transformando num turbilhão de sentimentos contraditórios, medos, desconfianças e acusações. No bom estilo germânico, Glattauer conduz os personagens para um verdadeiro beco sem saída, em que o medo vai vencendo. Nunca Leo e Emmi serão capazes de viver uma realidade divertida e positiva, porque nunca se encaixam no presente que vivem; apenas alimentam o turbilhão de dramas mentais, baseados no medo do futuro.
Escrevi acima que o autor desperdiçou uma excelente ideia porque deu ao enredo um rumo inverosímil pela negatividade que os personagens teimam em atribuir à sua relação. Tudo se torna negro: o contexto familiar dos personagens, a interpretação tendencialmente negativa que cada um dá às mensagens do outro e a dificuldade quase infantil em manter o segredo da relação.
Não quero, evidentemente, revelar o final da estória. Mas devo dizer que me decepcionou pelo simplismo. No entanto, a decepção que este livro me causou tem mais a ver com essa negatividade, esse pessimismo, essa frieza que, no fundo, advém de uma emoção humana tão inútil e nefasta: o medo.
Ainda assim, acredito que não é isto que acontece na vida real.
Para finalizar, e porque tudo na vida tem lados positivos, dois aspectos que me agradaram neste livro: a fluidez da escrita, que permite uma leitura rápida e agradável e uma capa magnífica, a que a Porto Editora já nos habituou.
Avaliação Pessoal: 7/10
7 comentários:
Manuel vamos pensar positivo, haverá continuação e quem sabe, no que diz respeito ao final, o autor não se consiga corrigir? :)
**
Comparo este livro a uma mousse de chocolate. Uma autentita delícia, quando começamos só conseguimos parar quando não há mais na taça :P
Eu sei que o final não é muito feliz, eu diria que é real :D
Abaço
Elphaba. este livro vai ter continuação?
Espero que o Glattauer seja menos germânico :)
Paula, desta vez não concordo comigo; pareceu-me mais uma daquelas mousses que no início são deliciosas, a gente devora 2 ou 3 colheradas e depois começa a dar aquele enjoo... e a gente tem de comer até ao fim para não desiludir os outros...
Achas aquele final real???
Sim Manuel, vai ter continuação. Não poderia ser de outra forma com aquele final! Não te sei é confirmar se ainda sai este ano, mas penso que sim.
Só pela capa já me parece livros para galinhas, nem preciso de folhear......e não sou de preconceitos...
...eu gosto da capa... alguém tem de gostar do amarelo, né? :)
Olá!
Eu li este romance e fiquei cidrada...até à última página. Na verdade, todos queremos fins felizes, mas sabemos que a realidade não é bem assim. Também queria uma continuação da história, mas por outro lado, penso que o autor quis dizer que devemos aproveitar o momento atual e usufruir das suas delícias. O depois...virá doce ou amargo. Carpe Diem.
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