Há coisas que não consigo explicar. Uma delas é esta: reconheço em Musil a escrita de um génio mas as suas obras não me cativam nem um pouco. Li há muitos anos O Homem sem Qualidades, depois tentei ler O Jovem Törless acabando por desistir da leitura e agora atrevi-me a ler este Três Mulheres. Confesso um certo masoquismo por não ter abandonado a leitura.
Dividido em três contos, este Três Mulheres aborda o tema do amor e do ciúme, a partir da história de três mulheres em situações e contextos completamente diferentes. Três estórias tristes, em que o sofrimento humano é abordado de uma forma bastante forte. Reconhece-se em Musil um humanista, um homem sensível ao drama da vida humana mas é inegável o traço germânico da sua escrita, profunda, melancólica e muito reflexiva. Isto dá às suas estórias um tom, cinzento, sóbrio, onde a esperança não existe, apenas o sofrimento e o drama da vida.
As personagens de Musil vêem a vida como uma espécie de castigo sem redenção. Nelas não há sequer uma aproximação à alegria; há uma procura de felicidade que esbarra inexoravelmente nos dramas do pensamento, como se o acto de pensar fosse um obstáculo à vida.
Um aspecto que não ajuda mesmo nada à leitura fluida desta obra é uma tradução que me pareceu bastante infeliz; muitas frase sem sentido e alguns abusos de linguagem, como o infelizmente cada vez mais usado verbo “realizar” como sinónimo de “compreender”.
Em conclusão, aconselho este livro a quem gosta de obras mais reflexivas, na linha da literatura germânica.
Sem comentários:
Enviar um comentário