Os livros de António Lobo Antunes deixam-me sempre surpreendido por um fenómeno estranho: o assunto é de uma tristeza avassaladora, os ambientes são cinzentos, os personagens infelizes e toda a estória é angustiante. Mas não consigo parar de ler; ainda ontem discutíamos aqui no blogue quais os ingredientes de um bom livro e concordamos que é preciso emoção; é preciso que o livro nos emocione. E António Lobo Antunes ensina-nos que não são só as emoções agradáveis que dão beleza e encanto à arte das letras; é também esta tristeza que ALA espalha pelas páginas; os tons cinzentos da memória de Antoninho, um homem com cancro que, no hospital, vive os seus últimos dias.
É a beleza da tristeza, em todo o seu esplendor. E a beleza das palavras por si só; a arte de passear pelas palavras.
A meio da leitura, fico com a sensação de que este não é o melhor livro de ALA; está longe da raiva exultante de Os Cus de Judas ou da profundidade psicológica de Ontem não te vi em Babilónia. Mas não deixa de ser um excelente livro.
5 comentários:
"A beleza da tristeza" - que expressão bonita, Manuel :) Na verdade, a melhor maneira de superar a tristeza, será vivê-la. A maior parte de nós evita ficar triste, na ilusão de que podemos banir a tristeza da nossa vida. Mas não podemos. Fiquemos tristes, quanto temos razão para isso! Só assim, aprendemos a não ter medo da tristeza. Para dar um exemplo, é mais ou menos como quando sofríamos desilusões amorosas na adolescência. Só queríamos metermo-nos no quarto, ouvir uma música triste e chorar. Aliviava sempre, não era? ;)
Nunca li um livro de ALA. Antigamente, ele escrevia umas crónicas na revista "Visão", que eu assinava. De umas gostava muito, de outras, nem por isso.
É isso mesmo, Cristina :) É o que nós chamávamos de "curtir a tristeza" :)
Obviamente, a tristeza pode ser bela quando a sabemos controlar e superar, porque quando nos afundamos nela encontramos um poço sem fundo. Acho que as personagens de ALA estão, quase sempre nesse poço. Mas nós, leitores, só vemos o poço, não entramos nele, por isso podemos saborear esse vislumbre de negritude sem cair lá dentro.
Eu sou assinante da Visão e costumo ler as crónicas, mas prefiro, de longe os livros. Nunca gostei muito de crónicas, não sei porquê. É mais ou menos como ver uma fatia de bolo numa pastelaria, em vez de ver o bolo inteiro. Nós podemos até gostar de comer a fatia, mas o bolo inteiro tem outro fascínio :)
Sim, há casos em que se cai nesse poço. Isso já é mais grave e deve ser naturalmente tratado de outra maneira.
ALA ainda escreve essas crónicas? Como já há anos que deixei de assinar a Visão, não sabia. Deixei de assinar apenas por falta de tempo, quando comecei a escrever ;)
Então, se quiseres matar saudades, tens aqui algumas:
http://aeiou.visao.pt/antonio-lobo-antunes=s23489
diverte-te :)
Na minha opinião, ALA é daqueles autores que falam muito sobre o comportamento humano. Todos nos sem excepção temos problemas, os seus livros ao mostrar-nos os extremos ajuda-nos a sermos mais fortes e encararmos os problemas de outra maneira.
Até agora Sôbolos Rios que Vão foi o único livro que li do autor. Não sei se tem melhor, mas este foi um dos melhores livros que li até hoje.
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