Depois de magníficos livros como A Máquina de Fazer Espanhóis e, principalmente, O Remorso de Baltazar Serapião, as expectativas eram altas para este livro de Valter Hugo Mãe. Anunciava-se o regresso às maiúsculas e o assumir de uma perspectiva mais positiva e uma escrita mais suave. Desde logo, anunciava-se o abandono de uma linha pessoal que VHM ia seguindo nas suas obras anteriores.
Esse abandono de um estilo bem pessoal não me agradou mas devo dizer antes de mais nada que estamos perante um bom livro. A leitura é agradável, a escrita poética dá uma certa musicalidade ao livro e a sensibilidade do autor está sempre “à tona da água”.
Conta-se a história de um homem que, como o autor, cruza os quarenta anos de idade e questiona o sentido da sua existência, decidindo-se pela procura de algo que o complete: uma mulher e um filho.
Crisóstomo, pescador, era metade. Fez 40 aqnos e sentiu-se só. Procurou um filho e encontrou-o: Camilo, catorze anos. Encontrou uma mulher e sorriu: Isaura (o nome mais belo que existe). Sorriu.
Uma anã sem nome era infeliz. Só. Mas 15 homens, quase todos os que havia na aldeia a visitavam. E da doença e da solidão nasceu um filho. A mãe, anã, completou-se e morreu.
Isaura com 16 anos cedeu ao amor carnal e começou a morrer. Conheceu um maricas e casou. Mais tarde o maricas será chamado pelo seu nome (Antonino); antes disso foi sempre renegado porque maricas não é ser gente. Um dia o maricas foge e Isaura descobre que o amor é esperar. Chora.
Camilo, o filho da anã, é adoptado pelo velho Alfredo. Alfredo morrerá e Camilo herda a solidão. Para Isaura “ser o que se pode é a felicidade”. Assim foi até conhecer Crisóstomo e Camilo, entretanto adoptado pelo homem que fez 40 anos. Todas as metades se completaram e o maricas voltou. Antonino é acolhido pela nova família: Isaura, Crisóstomo e Camilo. A união entre os pobres, solitários deserdados da vida. Ainda havia tempo para que todos sorrissem.
Como se vê a mensagem é bonita, o enredo é interessante mas falta aqui (na minha opinião, é claro) Valter Hugo Mãe. Falta o cunho pessoal, o estilo “tsunami” a que VHM nos vinha habituando.
A solidão foi derrotada, assim como o preconceito, esse monstro devorador da vida, do qual nasce a solidão.
Independentemente da qualidade inegável da obra, a palavra chave que me assoma à mente é esta: cedência.
Avaliação Pessoal: 8/10
6 comentários:
Este está na lista de livros a ler em breve! :)
Manuel, talvez te interesse ler o post de hoje da editora Maria do Rosário Pedreira da Leya e os comentários, que, na altura que escrevo isto, já vão em 70! Embora muitos dos comentários, embrenhados numa polémica incrível, fujam ao tema, será interessante, já que penso que se trata do mesmo livro:
http://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt/86623.html
Vou já ver isso, Cristina. Afinal não fui só eu a ficar desiludido (um pouco)
Já o comprei...
Olá, Manuel :)
É curioso como as pessoas têm diferentes opiniões sobre os livros que lêem.... Afinal, ao fim e ao cabo, isso é que dá graça ao mundo :)
Curiosamente, e sendo Válter Hugo Mãe um dos meus autores favoritos da actualidade, "O Filho de Mil Homens" e "Desumanização" são os dois de que mais gostei. Os meus preferidos, sem qualquer dúvida. São seguidos de muito perto por "O Remorso de Baltazar Sarapião" , e aí concordamos, mas voltamos a discordar, tendo em conta que aquele de que menos gostei foi precisamente "A Máquina de Fazer Espanhóis". Gostei, mas foi, de todos , aquele de que gostei menos.
O único que ainda não li dele é "O Nosso Reino", que foi o primeiro, mas espero ler, porque adoro a escrita do autor :)
Abraço :)
São, a Literatura é uma arte e não uma ciencia. É aí que reside o seu encanto e é por isso que, felizmente, as opiniões são por natureza subjetivas.
Pode parecer blasfémia, mas sinto-me um pouco cansado de VHM. Talvez porque adorei os primeiros que li,talvez pela deformação profissional de estar ligado à história e esses primeiros livros terem tanto de histórico
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