segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Lendo Vida e Destino, de Vassili Grossman


Vida e Destino é uma obra monumental. E não me refiro só às dimensões físicas da obra (quase 900 páginas de letra miúda) mas também (e sobretudo) ao seu significado histórico. Vassili Grossman viveu e sentiu na pele os dois maiores dramas do século XX: o estalinismo e o nazismo. Por isso, neste livro, ele procura descrever através da ficção a realidade cruel a que foram submetidos milhões de seres humanos.
Na segunda guerra mundial, aqueles dois monstros da política europeia  confrontam-se numa guerra onde poucos foram poupados. No entanto, para um judeu soviético tudo era mais difícil ainda…
Na tradição da grande ficção russa, Grossman faz lembrar, pelo menos em termos formais, a grandes narrativas de Tolstoi, nomeadamente Guerra e Paz. No entanto, em termos de ficção, as semelhanças são apenas aparentes.
Amanhã ou depois, aqui, a opinião completa

11 comentários:

susemad disse...

Um livro que, apesar de me ter despertado devido à temática, nunca o cheguei a comprar devido ao número de páginas. E não é que me assustem, mas como tenho muitos livros volumosos por ler...
Vou aguardar pela tua opinião. ;)

Paula disse...

Fico a aguardar a tua opinião :)
Gostei do fundo do blogue :D
Bjs

Anónimo disse...

até doeu ...
Jorge Amado - "O mundo só vai prestar para nele se viver no dia em que a gente ver um maltês casar com uma alegre andorinha saindo os dois a voar" ...

no dia em que a gente ver? Será que ele escreveu assim?

Unknown disse...

O comentário está a demorar; a vontade de ler não tem sido muita, ultimamente...
caro Anónimo
doeu onde? não entendo porquê... a frase do grande Jorge Amado é literariamente correcta. Ou correta, se preferir :)

Unknown disse...

Manuel,
se me permite a ousadia gostaria de lhe fazer um pedido.
Solicitei ao Nuno Chaves opinião sobre o Lobo Antunes. Qual a opinião sobre o autor e quais os melhores livros para começar a sua leitura, caso a recomende.
Quando toca a esse autor fico com os seus livros nas mãos, lendo sinopses e excertos, mas nunca me resolvo a lê-lo. O Nuno respondeu-me, no meu blogue, que o Manuel é a melhor pessoa para me aconselhar...
Cá estou! :)
Que me pode dizer sobre este assunto?
Cumprimentos e obrigado!

Anónimo disse...

Caro Manuel,

Das duas uma: Ou o grande Jorge Amado escreveu isso mesmo ou a transcrição de sua frase foi adulterada.
É só procurar numa qualquer gramática de língua portuguesa a conjugação do verbo VER para achar o erro crasso contido nesta citação.
Se eu VIR (verbo ver)
Se eu vier (verbo vir)
É realmente de fazer doer os olhos. Seria uma atitude correcta, ou correta, se preferir, corrigir tal citação logo à entrada de um blog que até me pareceu interessante.
Saudações.

Unknown disse...

Caro Anónimo
tal como escrevi, esta citação está literariamente correcta. Não me refiro à gramática. Note-se que sou especialista nesse campo.
Fui consular o livro, verifiquei na net e pedi a alguém que me confirmasse numa edição diferente. Das três fontes verifiquei que foi EXACTAMENTE isso que Jorge Amado escreveu e o próprio Anónimo poderá confirmar com uma simples pesquisa na net. Não sei se tem o livro em casa mas gostava que verificasse e me desse a sua opinião sobre o que terá levado o escritor a optar por uma forma que não é gramaticalmente correcta.
A mim parece-me que se trata de um acto de liberdade poética. repare que "ver" dá uma certa musicalidade à frase porque constitui rima com "viver".

Caro Arame Farpado
muito me honra com a sua afirmação :) E o Nuno exagerou um pouco; li uns livritos de ALA, mais nada :)
É um autor muito peculiar.
A minha opinião é que não se pode ler ALA da mesma forma que se lê qualquer outro autor. A maior parte das pessoas diz que é um autor muito difícil porque procura sempre uma estória. MAs ALA quase nunca quer contar estórias. Eu não sei se o Arame Farpado leu O Som e a Fúria, de Faulkner; é que ALA é um admirador confesso de Faulkner e é muito influenciado por ele neste tipo de narrativa difusa, sem uma linha de rumo definida, com múltiplos narradores e alucinantes mudanças de cenário e de tempos narrativos. Isto baralha qualquer um!
A solução, a meu ver, é ler ALA como que lê poesia; deixando-se levar pela beleza das palavras; pela música daquela prosa, que é única! Depois, a mensagem emerge sem esforço. Não é preciso sequer saber se quem fala é o personagem A, B ou C. O que importa são os estados de espírito; a alma; as alegrias e os dramas dos personagens e que, afinal são os nossos proprios dramas e as nossas próprias alegrias. Ou seja, o melhor é apenas passear pelas letras de ALA em vez de querermos ver ali grandes narrativas.
Quanto à questão com que livro começar, penso que se quiser algo ainda narrativo poderá começar com os Cus de Judas mas se quiser o ALA autêntico, maduro, poético, acho que os mais belos são "Ontem não te vi em BAbilónia" e "Sobolos rios que vão".
É isto. Mas note-se que só li uns 6 ou 7 livros dele. Ele tem uns vinte e tal escritos...

Anónimo disse...

Pois é, caro Manuel, até os Mestres erram. Mais do que eu sabe você, certamente. Acredito que assim esteja escrito no livro, que não possuo. No Brasil, mais do que em Portugal, há imensa dificuldade na conjugação desses dois verbos - o ver e o vir. Até Jorge Amado, que tanto admiro como escritor e como a pessoa que foi, se confundiu, vá-se lá saber ... Tudo me leva a crer que não foi essa tal "liberdade poética". Imensa pena de ele já cá não estar para nos poder esclarecer ...
Agradeço-lhe pelas respostas e peço-lhe que aceite minhas desculpas pela "alfinetada". Cumprimentos.

Unknown disse...

Não tem que pedir desculpa, Anónimo. A única coisa que me irrita (perdoe a frontalidade) é a sua qualidade de anónimo.
Mas a sugestão, como vocês dizem aí: valeu! Acho que se não tem chamado a atenção, eu nunca teria reparado nisso. Ainda assim custa-me a acreditar que seja erro de um escritor como ele! Vou perguntar a alguém que sabe mais que eu destas coisas e depois direi, se voltar aqui, ok?

Unknown disse...

Caro Manuel,
agradeço-lhe a disponibilidade em dar-me uma resposta e logo tão esclarecedora. Parece-me que quaisquer palavras do Nuno a seu respeito foram totalmente justas.

A peculiaridade de ALA, fazendo fé na sua qualidade de "connoisseur", será precisamente o que, pelo menos de momento, me afastará do autor (bem como me afasta de Faulkner).
Enquanto leitor valorizo um certo cuidado no respeito dos papéis. Passo a explicar. Enquanto leitor compete-me ler. Enquanto o faço tenho o direito de "ir escrevendo o meu próprio livro" com as palavras do autor. Não tenho, todavia, a obrigação de o fazer PELO escritor, no caso de ele não estar virado para me apresentar uma coisa lógica. Confesso-lhe que penso que essa forma de escrita tem mais de preguiçosa do que poética ou genial.
Reconhecerá o meu caro Manuel que Saramago, por exemplo, não é (era...) ortodoxo na sua escrita mas nunca deixou de ser rigoroso e perceptível apesar da sua tarimba.
Enfim, estou a divagar.
Quero apenas deixar-lhe os meus cumprimentos e o agradecimento pela sua simpatia e disponibilidade.
Um abraço.
André.

Unknown disse...

André
Compreendo-te perfeitamente e em muitos casos concordo contigo. Como já escrevi muitas vezes, ler é um prazer não deve nunca limitar-se a um exercício intelectual ou um trabalho de descodificação.
Mas há excepções. ALA é, para mim, uma excepção porque me divirto ao ler o que ele escreve. Porque há beleza nas palavras independentemente de um enredo que me recuso a construir se isso implica esforço intelectual para além, claro está, daquele esforço inerente à própria leitura.
Mas esta conversa levar-nos-ia muito longe se verificarmos como a arte do séc. XX, após o chamado modernismo, se refugiou num simbolismo que deixa muito do trabalho de interpretação a quem vê ou lê.