Sinopse
Ao acompanhar a vida de Francisco, o personagem central
deste romance, ao longo das suas escolhas, da sua procura, ao acompanhá-lo ao
longo das suas deambulações pelo mundo, pela história, ao sabor dos acasos e
encontros e, muito especialmente , da intimidade de algumas mulheres cúmplices
da mesma procura, o autor instaura uma forma de questionamento radical.
Radicalidade que decorre do facto, inédito na sua escrita, de ser toda uma vida
que é posta em balanço, tendo por contraponto esse limite que é a morte. Deus?
Possivelmente. Mas um deus que ri, joga, um deus apaixonado pela pura alegria
de existir.
Comentário:
Francisco é o seu nome. Com ele viajamos às profundezas do
espírito humano. Mais fundo, mais longe da superfície, mais distantes desta
crosta a que chamamos vida, Alçada Baptista encaminha-nos para dimensões tão
reais quanto estranhas.
Tão grande é a
profundidade da análise da alma humana que tudo quanto se possa dizer deste
livro soará sempre a uma enorme superficialidade. O que aqui escreverei não
passará, portanto, de uma pequena coleção de impressões pessoais sobre os
mundos distantes a que o autor nos conduz.
Deus está sempre presente, mesmo que disfarçado, nas viagens
interiores de Francisco. Esta preocupação do autor e do personagem torna-se
mesmo obsessiva. Deus e os outros e uma imensidão de questões. Poderá Deus
transportar-nos para longe do mundo, conduzir-nos ao abandono ou, pelo
contrário, encontrar-se-á ele precisamente entre os outros?
Ao contrário do que a sinopse do livro afirma, não me parece
que o riso de Deus a que Alçada Batista se refere seja um riso de alegria;
parece-me mais tratar-se de um riso
sádico de quem, lá de cima, observa o ser humano perdido no mundo, uma barata
tonta que não encontra o melhor buraco onde se refugiar. O homem sente-se
perdido, sente-se um joguete nas mãos de deus, que ri altivamente e quase de
forma egoísta.
Resta ao homem a liberdade. Mas uma liberdade que de pouco
lhe serve; ele próprio constrói as suas prisões ao longo da vida. Francisco é
livre, pelo menos tanto quanto a sua independência financeira lhe permite. Mas…
e o que os outros esperam de nós? Uma servidão permanente ao trabalho e às
correntes que nos prendem aos outros…
Mais do que um relato da vida, mais do que um conjunto de
reflexões sobre o mundo humano, este livro é um manancial de questões às quais
teimamos em não saber nem querer responder. O nosso cérebro encarrega-se de
construir a nossa própria escravidão, ignorando essa grande verdade que a Rita
do romance nos ensina: as coisas são sempre mais simples do que aquilo que o
nosso cérebro nos mostra.
Rita é o raio de luz numa leitura algo tenebrosa da alma
humana que o autor nos proporciona na pessoa de Francisco. Todo este pessimismo
filosófico, toda esta viagem infindável do autor pela alma humana leva-me a
colocar esta tão simplista mas pertinente questão: faz sentido gastar a vida a pensar?
1 comentário:
Olá Manuel!
Um livro que gostei muito, lido há alguns anos mas cujo conteúdo ainda permanece fresco na memória :)
Boas leituras!
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