sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Constantino Guardador de Vacas e de Sonhos - Alves Redol

Constantino Guardador de Vacas e de Sonhos é um livrinho ingénuo, puro, transparente, apaixonado. Alves Redol, um dos maiores vultos da literatura portuguesa do século XX apresenta-nos aqui um dos exemplares mais puros do neo-realismo português, no seu estado mais puro e naif.
Constantino é um menino como qualquer outro. Frequenta a escola primária, é inteligente mas prefere contar ninhos em vez de saber de cor os afluentes do Mondego ou do Guadiana. O único afluente que lhe interessa é o Trancão, que no seu sonho o levará ao Tejo e ao grande Mar. Constantino guarda vacas como quem guarda sonhos, transportando-os numa alma risonha que encara o futuro com aquela nuvem de sonhos que só a infância nos pode oferecer.
Para quem, como eu, cresceu no campo, ler este livrinho é uma bela viagem à infância; ou melhor, ao que de mais belo tem a infância no campo: os ninhos que se contam e cujo segredo se guarda como tesouro, o trepar às árvores como quem do alto vê o futuro, as aventuras no rio onde se aprende a nadar à custa de sustos e goladas de água, as travessuras nos quintais e, acima de tudo, aquele viver irmanado com a natureza, com os pássaros, as plantas, os animais domésticos, etc.
Nem a impiedosa palmatória, nem as más condições da vida no campo, impediam Constantino de ser feliz. Porquê? Porque ele tinha um sonho. Não interessa se o realizou; não interessa sequer se era realizável; o importante é que o guardou. Assim, por detrás de uma narrativa aparentemente ingénua, Alves Redol transmite-nos uma mensagem que devemos reter e recordar sempre: o sonho é que nos guia; o sonho é que nos faz viver.
Em resumo, um livrinho imperdível, de leitura muito agradável, numa linguagem simples do povo que somos nós; um testemunho cristalino das raízes mais profundas de onde todos nascemos: da terra-mãe.

5 comentários:

Anónimo disse...

É uma pena que as crianças de hoje tenham perdido a oportunidade de viver a infância dessa forma livre e despreocupada, no contacto com a natureza, sem grandes dramas ou complicações .Recordo com saudade as férias na aldeia, e as brincadeiras na rua, na minha cidade sem perigos.
Foi roubada uma parte saudável da infância às crianças de hoje.
Já li o livro há anos.Fiquei com vontade de o reler.

Isabel

susemad disse...

Parece ter uma história muito singela! Nunca li nada, pelo menos que me lembre, de Alves Redol. Mas sei que estudei o autor na escola. :)
Ando para comprar "Gaibéus".

Unknown disse...

Isabel, não sou saudosista mas também eu sinto que as crianças de hoje perderam muito em relação a infância como a minha.
Por outro lado, não podemos esquecer que este livro, no seu bucolismo, no seu aspecto romântico, explora apenas o lado mais lírico daquelas infâncias. O outro lado é aquele que o mesmo Alves Redol desenvolveu em Gaibéus: a tristeza de um tempo de vacas magras", um tempo de pobreza, de injustiças, de repressão.
Tons de azul, "singela" é a palavra que procurei e não encontrei quando escrevi este comentário :). Tinha-a debaixo da língua :)
Gaibéus é um livro muito diferente; é um livro bem mais triste mas, se calhar, bem mais real.

Anónimo disse...

qual e o editor?
local e data da publicação??
algumas frases do livro que sejão engrçadas???



preciso de saber isso urgentemente
por favor

gidinis disse...

Relembro com muita saudade este livrinho maravilhoso que tive como material de estudo no meu 7º ano de escolaridade. Um livro simples mas apaixonante que conta a história de um pequeno adolescente da provincia que, ao invés de ir á escola tinha muito mais prazer em guardar os seus rebanhos e descobrir os segredos da mãe natureza...uma delicia!