Sinopse:
Leonor, Alcipe, condessa d’Oeynhausen, marquesa de Alorna -
nomes de uma mulher única e invulgarmente plural. Chamei-lhe Senhora do Mundo.
Poderia ter-lhe chamado senhora dos mundos. Dos muitos mundos de que se fez
senhora. Inconfundível entre as elites europeias pela sua personalidade forte e
enorme devoção à cultura, desconcertou e deslumbrou o Portugal do séc. XVIII e
XIX, onde ser mãe de oito filhos, católica, poetisa, política, instruída,
inteligente e sedutora era uma absoluta raridade.
Viveu uma vida intensa e dramática, mas jamais sucumbiu. Privou com reis e
imperadores, filósofos e poetas, influenciou políticas, conheceu paixões
ardentes, experimentou a opulência e a pobreza, a veneração e o exílio. Viu
Lisboa e a infância desmoronarem-se no terramoto de 1755, passou dezoito anos
atrás das grades de um convento por ordem do Marquês de Pombal e repartiu a
vida, a curiosidade e os afectos por Lisboa, Porto, Paris, Viena, Avinhão,
Marselha, Madrid e Londres.
Marquesa de Alorna, Senhora do Mundo é uma história de amor à Liberdade e de
amor a Portugal. A história de uma mulher apaixonada, rebelde, determinada e
sonhadora que nunca desistiu de tentar ganhar asas em céus improváveis, como a
estrela que, em pequena, via cruzar a noite.
In wook.pt
Comentário:
Aqui está um romance histórico que é muito mais “histórico”
do que “romance”. Na verdade, o esforço da autora para não fugir à verdade
histórica faz com que a obra se aproxime um pouco da biografia, deixando os
adeptos do romance um pouco desencantados com uma certa “aridez” dos factos. O
livro inicia-se com uma (mais uma, ufa!) descrição do terramoto de Lisboa e a
autora não consegue escapar ao estafado cliché
da menina sobredotada que deteta os sinais do terramoto antes deles surgirem. A
partir daí, Maria João Lopo de Carvalho arranca para uma triunfal epopeia de
louvor à Marquesa de Alorna. Ninguém duvida da enorme importância histórica
desta notável mulher, mas é claro que, como ser humano, tinha as suas
limitações e defeitos. No entanto, a autora encaminha todo o enredo no sentido
de um “endeusamento” da protagonista, mesmo quando veste a pele da aristocrata
conservadora.
Comecei este meu comentário pelos aspetos que menos me
agradaram mas eles são também compensados por outros que me levaram a
empreender a leitura com algum prazer. Na verdade estamos perante um livro que
se lê com prazer, quer pelo encanto que, de facto, rodeia a personagem principal,
quer pelo estilo leve, claro, puro, da autora. Com frases curtas, pouca
adjetivação e algum sentido de humor, a vida da Marquesa é exposta de forma
bastante agradável ao leitor.
Por outro lado, este livro não deixa de ter um notável valor
pedagógico; é com obras como esta que, realmente, se promove a História de
Portugal.
No entanto, esse valor pedagógico acaba por ser prejudicado
por um outro pecadilho muito comum neste tipo de abordagens: a autora não
consegue (ou não quer?) fazer uma leitura isenta da figura do Marquês. Ele é
visto sempre no seu lado mais nefasto, apresentando-se como uma figura quase
diabólica. Fica por abordar todo o lado positivo e progressista da sua
governação. Por outro lado, a nobreza de Portugal, representada pelas suas famílias
aristocráticas nunca é referida como causa (que foi real) do conservadorismo e
de parte do atraso económico em que o país mergulhou, para além das graves
injustiças sociais a que estiveram associadas.
Mesmo assim, podemos afirmar em abono da autora que apenas
se pretendeu realçar a figura, magnífica, sem dúvida da marquesa de Alorna. Ela
foi uma “Madame Stael” portuguesa,
defensora do progresso, das ciências, da cultura e não uma simples feminista
antes do feminismo. Um aspeto histórico poucas vezes notado quando se fala
desta época, entre o auge já passado da Inquisição e a austeridade burguesa de
costumes que marcará o século XIX, é uma verdadeira fase de libertação da mulher,
pelo menos ao nível intelectual. O próprio Marquês de Pombal (em mais uma das
suas contradições) foi um impulsionador das ideias iluministas em Portugal, que
defendiam a igualdade de oportunidades, se bem que de uma forma muito titubeante.
Como se vê, trata-se de uma obra que encerra algumas
contradições; alguns motivos para a considerar um livro de grande importância
para o conhecimento da época e divulgação da personagem principal, mas uma obra
que não escapa a alguns preconceitos ideológicos.
3 comentários:
Olá
venho só dizer-te que finalmente a actualização do teu blogue desbloqueou. Hoje apareceu no cimo da lista. Há uns 3 meses que não actualizava. Até ontem, ainda estava com a imagem do D.Quixote.
Pensei que talvez gostasses de saber.
Tenho este livro, mas ainda não o li.
Boa semana!
Olá Isabel.
Vou já espreitar :)
Este não li mas li o excelente "MARQUESA DE ALORNA" da Maria Teresa Horta (um tijolo maior do que este).
Enviar um comentário