O comentário que aqui fiz ao livro do Luís Novais e a notícia do lançamento do livro “Conta-me com o foi” levaram-me a pensar na força que o saudosismo tem na mentalidade lusa. Nós, portugueses, somos por natureza saudosistas. Isto não é um cliché; é uma verdade confirmada por vários estudiosos e escritores de renome, desde Oliveira Martins até Eduardo Lourenço, passando por Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa, António Sérgio, etc.
O sucesso da série televisiva Conta-me Como Foi é um testemunho disso mesmo, assim como, por exemplo, o sucesso das centenas de vídeos alojados no YOUTUBE, com anúncios publicitários e programas de televisão e mesmo um blogue fantástico com um nome bem sugestivo: Santa Nostalgia (http://santa-nostalgia.blogspot.com/).
Este é um dos assuntos da cultura portuguesa que sempre me fascinou. No entanto, julgo importante distinguir três tipos de saudosismo:
- O sebastianismo, que é uma espécie de patologia: um sentimento mais ou menos patológico que nos leva, irracionalmente, a sonhar com um “Salvador” que nos livre da desgraça que, a todo o momento construímos e que se plasma constantemente em soluções politicas mais ou menos absurdas como tem acontecido nos tempos recentes. Em termos muito simplistas, podemos dizer que escolhemos os maiores “trastes” para governar e depois sonhamos com um D. Sebastião, mesmo que em forma de ditador, para nos salvar.
- O saudosismo fadista, que é, a meu ver, outra patologia grave de que sofremos: é o saudosismo chorão, melancólico que nos transporta para o passado, alimentando a apatia e a negação da vida. Mais do que patológico, este tipo de saudosismo é um verdadeiro empecilho à vida.
- A Santa Nostalgia é, na minha opinião, o saudosismo saudável: aquele que nos faz sorrir. Aquele que nos diverte. As memórias, as recordações, só são saudáveis se nos ajudarem a construir o presente ou, pelo menos, se nos divertirem.
É dentro do contexto deste saudosismo saudável que eu gostava de deixar aqui bem clara a minha admiração pela série de televisão e pelo magnífico blogue que sigo diariamente:
2 comentários:
Bom dia
Já adicionei o "Santa Nostalgia" aos meus favoritos.
E...Manuel, não digas mal do fado.O fado evoluiu.As letras já não são o que eram, nem os músicos...
Embora eu confesso,gosto dos fadistas actuais, mas também continuo a gostar muito da Amália, do Alfredo Marceneiro, da Teresa Silva Carvalho,todos esses nomes que fizeram história.Apenas oiço os fados tendo presente a época em que foram feitos.
Adoro fado.Gosto de ouvir e cantar. Foi uma coisa que nasceu comigo. Gostei desde sempre. Mas não sou uma pessoa saudosista. Muito pelo contrário.Vivo o presente.
Bom, ainda hás-de ouvir com atenção alguns destes novos fadistas, que qualquer dia ainda te havemos de ouvir dizer bem do fado.
Um abraço
Isabel
Isabel, nem me passou pela cabeça dizer mal do fado. Digo isso sim, que não gosto (ou ainda não aprendi a gostar). E digo também que há um determinado tipo de fado que cultiva o saudosismo e se torna, de alguma forma, deprimente.
beijinhos
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