A lenda (e/ou a história) de Inês de Castro contada por uma escritora espanhola. Foi a curiosidade por conhecer uma versão castelhana que me levou a ler este livro. E em boa hora o fiz. Depois de tantas vezes contada, era difícil fazer algo diferente sem fugir à realidade histórica e à “verdade” que a lenda perpetuou. Mas Queralt del Hierro” consegue-o de forma muito interessante.
O que mais me encantou nesta forma de contar a história foi o facto de a autora ter incidido toda a narrativa no papel feminino.
Na minha opinião, a melhor narrativa desta lenda foi feita por João Aguiar (Inês de Portugal) e nessa obra, o grande romancista português centra todo o enredo na figura do rei D. Pedro, na sua paixão violenta, no seu carácter justo mas irascível e na amizade com o seu escudeiro Afonso Madeira.
Esta escritora espanhola, pelo contrário, escolhe para epicentro da história a relação de amizade entre D. Constança e Inês; uma amizade pura e intensa que, de facto, não havia sido suficientemente esmiuçada pelas versões portuguesas. Esta análise chega a ser de uma profundidade psicológica notável, recuando até à infância das duas para melhor explicar as paixões que haveriam de determinar os seus destinos.
D. Constança é vista neste livro como uma verdadeira heroína que manteve até ao fim a fidelidade a uma amizade de infância. Só isto explicaria um dos grandes enigmas que a lenda deixara em aberto: porquê o interesse permanente de D. Constança em ter Inês perto de si, mesmo sabendo da paixão que esta nutria pelo seu esposo, paixão aliás correspondida? Na verdade, só a amizade justificaria tal conduta.
Mas a incidência deste livro no feminino não fica por aqui: é interessante verificar como a autora encara as freiras de Santa Clara como verdadeiras heroínas do amor ao condescender com o amor carnal que Pedro dedicava a Inês, pactuando com os seus encontros escaldantes em plenos aposentos do convento.
Um outro aspecto interessantíssimo é a forma como Del Hierro introduz na história Teresa Lourenço (a última paixão de D. Pedro, após a morte de Inês). Esta mulher viria a ser a mãe do grande herói da história de Portugal que foi o rei D. João I, Mestre de Avis) e entra nesta narrativa como uma autêntica heroína, ao lado do rei justiceiro.
Em suma, trata-se de uma versão original e muito interessante de um dos temas mais encantadores da História de Portugal. Vale a pena ler, se bem que esta edição de 2004 já ande um pouco perdida pelas estantes mais recônditas das livrarias. É pena…
A Belíssima imagem acima reproduzida foi copiada daquiAvaliação Pessoal: 8.5/10
3 comentários:
Sempre tive curiosidade em relação a este livro, mas hesitei sempre por não saber o que esperar. Fica na lista!
Eu desta autora li Memórias da Rainha Santa e confesso que gostei, pois deu-me uma nova visão sobre o que se passou.
Este livro não conheço.
Olá Cat e Angelina
eu fiquei surpreendido... não é que este livro seja uma obra-prima; não é. Mas adorei ler a história contada no feminino; e acho fundamental deixar bem claro o papel de D. Constança, tanats vezes injustiçada nas leituras mais simplistas da lenda e da verdade histórica. Aquela mulher foi uma verdadeira heroína.
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