Alma é uma aldeia fictícia, algures no distrito de Aveiro, no sopé da serra do Caramulo.
O enredo é-nos contado na primeira pessoa por uma criança. Este aspecto dá, desde logo, um certo encanto ao livro: os anos 40 vistos por uma criança; a guerra civil espanhola, ainda os ecos da oposição entre republicanos e monárquicos, a segunda guerra mundial, com os seus heróis, a resistência francesa, as vitórias dos aliados.
Naquela altura já o fantasma de Salazar atormentava as consciências e as vidas; a esperança, no entanto, ainda estava bem viva e naqueles tempos ainda residia no MUD e na campanha de Norton de Matos. No entanto, havia coisas que uma criança tinha muitas dificuldades em compreender: as prisões arbitrárias e as perseguições da PIDE eram inexplicáveis para o jovem Duarte, assim como a miséria de alguns; Duarte pertencia a uma família mais ou manos abastada, mas não compreendia porque é que alguns não tinham sapatos, roupas ou até comida. E ninguém lhe dava respostas; talvez porque ninguém as tivesse, excepto Salazar.
Os comícios da oposição, ainda mais ou menos tolerados. Uma espécie de festa popular que se misturava com o futebol regional, cheio de alegria e pancadaria.
Na escola, a palmatória estava sempre pronta. O professor era uma autoridade mais incontestável do que Salazar.
Ao longo do livro vamo-nos deliciando com excelentes descrições da vida de uma criança na aldeia, os pássaros, a camaradagem entre miúdos traquinas.
Um humor fantástico, delicioso que por vezes leva o leitor à gargalhada, principalmente na fase inicial do livro. Uma escrita poética mas surpreendentemente leve e graciosa. O livro ideal para férias, embora não deixe de ser um singelo documento da história de Portugal no Estado Novo.
Avaliação Pessoal: 9/10
Sem comentários:
Enviar um comentário