quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Qual o traço da genialidade? Parte I


A mini-polémica que já se gerou neste blogue em torno da eventual qualidade literária de O Braço Esquerdo de Deus levou-me a pensar nisto: qual será a característica fundamental de um grande escritor? Qual será a marca distintiva de um génio literário?
Depois de uma breve reflexão identifiquei TRÊS traços que julgo caracterizar esses génios. Melhor ainda: estou convencido que os grandes escritores se podem encaixar em QUATRO categorias: três grupos que equivalem a essas três dimensões e os génios supremos que eu julgo serem os que aliam essas três dimensões.
Hoje ficarei pela primeira dimensão: os escritores cujo talento de baseia na IMAGINAÇÃO.
Se Paul Hoffman fosse um grande escritor, pertenceria a esta categoria. Mas não é. Na minha opinião, obviamente.
A imaginação fértil de alguns escritores permite-lhes contar estórias que nos encantam; eles fazem da criação a sua arma. Inventam situações e desfechos que nos deixam maravilhados.
Alguns dos exemplos mais brilhantes que recordo assim de repente:
Dan Brown, pelo menos em Anjos e Demónios; Arturo Perez-Reverte, principalmente na primeira fase da sua carreira, em que nos maravilhou, por exemplo, com as aventuras do Capitão Alatriste; o também espanhol Carlos Ruiz Zafón, com centenas de páginas de pura criatividade; estes são verdadeiros artistas da imaginação. Na literatura sul-americana há vários exemplos destes génios da imaginação, como o verdadeiramente fantástico Gabriel Garcia Marquez, mas também Isabel Allende e Luís Sepúlveda.
Gostava de destacar, um pouco acima de todos estes, dois enormes contadores de histórias: Paul Auster e Haruki Murakami. No entanto, a genialidade destes já os aproxima das categorias seguintes e já os coloca bem perto da categoria dos génios supremos.

3 comentários:

Cristina Torrão disse...

A imaginação é um talento apreciado na tradição americana. Já a europeia dá primazia a reflexões, numa linguagem literária, mesmo que o enredo seja pobre. Num programa de TV, acho que no Canal Arte, um grande editor francês dizia que recusou o manuscrito do Código Da Vinci, quando este começou a ter sucesso nos EUA, por achar que não se adaptava ao público europeu! Arrependeu-se, claro, pois perdeu um negócio de milhões.

Acho uma pena que na Europa não se dê valor ao talento imaginativo. Muitos escritores são recusados por terem uma linguagem pobre em figuras de estilo, apesar de conseguirem construir um bom e lógico enredo, que nos agarra e surpreende a todo o momento.

Unknown disse...

Sim, Cristina, os americanos parece que "democratizaram" mais a escrita e a leitura; veja-se o sucesso de escritores como Jodi Picoult.
No entanto, não te parece que eles também têm vindo, nos últimos tempos, a cultivar uma maior tendência para o mundo das ideias? estou a lembrar-me, por exemplo, de Phillip Roth...
mas, na verdade, se queremos levar as pessoas à leitura e se queremos fazer da leitura um passatempo agradável, algo que contribua para a nossa felicidade, penso que temos de dar mais valor a estes artistas da imaginação que continuam a fazer-nos sonhar.
Eu gosto de um livro com "umas ideiazinhas" mas gosto sobretudo de um enredo que me "agarre" :)

Cristina Torrão disse...

Claro que os americanos também têm autores ao nível da genialidade, que conseguem reunir vários tipos de talento na sua pessoa. Mas acho que aqui na Europa e, nomeadamente, em Portugal, há muito preconceito contra autores que usam uma linguagem simples. Ao ler um manuscrito de alguém desconhecido, qualquer editor o põe de lado, se a primeira página não ostentar uma escrita pomposa, mesmo que pouco diga.

Ao mesmo tempo, editam trabalhos medíocres de gente famosa, claro!