quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Qual o traço distintivo da genialidade? Parte II


Ontem referi-me aqui àqueles escritores que baseiam a sua genialidade na imaginação.
Hoje quero referir-me a outro tipo de escritores: aqueles cujo talento se baseia na capacidade de retratar o ser humano na sua individualidade; na sua alma e no seu intelecto; nas emoções e sentimentos. Conhecer interiormente o ser humano, compreender os nossos comportamentos em todas as suas dimensões, explicar os nossos sofrimentos e alegrias, os nossos desejos e anseios mais profundos, são talvez tarefas quiméricas. Mas na literatura como na vida, as quimeras são os faróis que iluminam as auto estradas do comportamento humano.
E da imensa mole de escritores que se aproximaram dessas quimeras e nos deram visões absolutamente geniais da alma humana, destaco aqui alguns que me ficaram na memória como génios intemporais:
Fiodor Dostoievski foi talvez o escritor que melhor conheceu e compreendeu o ser humano em todas as suas dimensões. Ninguém como ele compreendeu a loucura “normal” de O Idiota, a mente criminosa e o remorso em Crime e Castigo, o ser religioso e o misticismo em Os Irmãos Karamazov.
Alguns escritores germanófilos são especialmente dotados deste talento especial para a interioridade: por exemplo Herman Hesse, nessas obras-primas que são Sidartha e O Lobo das Estepes, Gunter Grass no monumental O Tambor.
Num domínio um pouco mais abstracto, talvez mais artístico destaco o imortal William Faulkner.
Na literatura portuguesa não posso deixar de destacar António Lobo Antunes; ele é talvez o escritor luso que melhor conhece a alma humana.

3 comentários:

Cristina Torrão disse...

Olha, vou-te confessar que não me encantei por aí além com Sidartha e O Lobo das Estepes. Já os li há vários anos, talvez tenha de os ler outra vez. Muitas vezes, há livros que só conseguimos apreciar com uma certa idade, ou num certo momento da vida.

Mas os escritores germanófilos são muito introvertidos, sim, muito interiores.

Nunca li Gunther Grass. Gosto de Thomas Mann. E gostei da Sentença de Kafka (penso que se chamará assim, em português, mas ainda vou averiguar), que já li há muitos anos, na Universidade. É um autor que, decididamente, tenho de ler outra vez.

Unknown disse...

Será que O Processo é "A Sentença" em alemão?
Eu considero Kafka um escritor do terceiro tipo, que abordarei no próximo post :) É um génio, sem dúvida, mas não se enquadra no meu tipo I (escritores da imaginação) nem no II (escritores que se baseiam na interioridade).
Acho que ias gostar de O Tambor, de Gunter Grass. QUanto ao Hess, adorei o Lobo das Estepes.
mas os alemães, em geral, são muito tristonhos para o meu gosto :)

Cristina Torrão disse...

Fui averiguar e há "A Sentença" (Das Urteil) e "O Processo" (Der Prozess). Na wook não há a versão portuguesa de "A Sentença", só uma francesa.

Lembro-me de esse conto me ter agradado, mas foi há mais de vinte anos! Tenho-o em casa, hei-de lê-lo outra vez. Não li mais nada de Kafka, embora saiba de que trata "A Metamorfose" (acho que toda a gente sabe).

Tristonhos? Talvez. Uma coisa é certa: não se pode gabar os alemães de terem muita imaginação ;) E, quanto à ironia, principalmente, a auto-ironia, também deixam muito a desejar ;)