Sinopse:
Na primeira semana do primeiro mês do primeiro ano da segunda metade do
século XX, ao protagonista, que também faz as vezes de narrador, é dado o
nome de Hajime, que significa «início». Filho único de uma normal
família japonesa, Hajime vive numa província um pouco sonolenta, como
normalmente todas as províncias o são. Nos seus tempos de rapazinho faz
amizade com Shimamoto, também ela filha única e rapariga brilhante na
escola, com quem reparte interesses pela leitura e pela música. Juntos,
têm por hábito escutar a colecção de discos do pai dela, sobretudo
«South of the Border, West of the Sun», tema de Nat King Cole que dá
título ao romance.
Mas o destino faz com que os dois companheiros de escola sejam obrigados a separar-se. Os anos passam, Hajime segue a sua vida. A lembrança de Shimamoto, porém, permanece viva, tanto como aquilo que poderia ter sido como aquilo que não foi. De um dia para o outro, vinte anos mais tarde, Shimamoto reaparece certa noite na vida de Hajime. Para além de ser uma mulher de grande beleza e rara intensidade, a sua simples presença encontra-se envolta em mistério. Da noite para o dia, Hajime vê-se catapultado para o passado, colocando tudo o que tem, todo o seu presente em risco.
Mas o destino faz com que os dois companheiros de escola sejam obrigados a separar-se. Os anos passam, Hajime segue a sua vida. A lembrança de Shimamoto, porém, permanece viva, tanto como aquilo que poderia ter sido como aquilo que não foi. De um dia para o outro, vinte anos mais tarde, Shimamoto reaparece certa noite na vida de Hajime. Para além de ser uma mulher de grande beleza e rara intensidade, a sua simples presença encontra-se envolta em mistério. Da noite para o dia, Hajime vê-se catapultado para o passado, colocando tudo o que tem, todo o seu presente em risco.
in www.wook.pt
Comentário:
Esta é uma das obras aparentemente mais simples e linear
deste génio da literatura japonesa. A fantasia oriental, o encanto exótico e a
sensualidade misturam-se de forma genial com uma crítica social e política bem
marcada.
Os gatos e a música são elementos aparentemente secundários
que parecem fazer parte de todo o universo literário de Murakami e este livro
não é exceção. O título, encantador, baseia-se mesmo num tema musical de Nat
King Cole. A música e a literatura num todo coeso que é a arte. É música que
vai testemunhando todos os momentos fulcrais da vida do protagonista, Hajime,
talvez caraterizado com alguns traços autobiográficos.
No entanto, o aspeto mais marcante do livro é a importância
das fronteiras que o ser humano traça na sua vida.
Há fronteiras em tudo quanto constitui a nossa vida; e
algumas dessas fronteiras são bem difíceis de reconhecer; é o caso da eterna
separação possível entre o Bem e o Mal. Hajime tenta ser uma pessoa honesta,
frontal, coerente. No entanto, sem que dê por isso, acaba sempre prejudicando
alguém com as suas opções. O Mal é inevitável.
Outra fronteira fundamental e quase sempre impossível de reconhecer
é a que separa a nossa juventude da vida adulta; toda a vida de Hajime ficou
marcada pela dificuldade em reconhecer essa fronteira e pela forma como a sua
infância determinou o seu destino. Afinal, a infância não é demarcável por uma
linha de fronteira.
E, finalmente, a mais importante e a mais fatal das
fronteiras: aquela como que delimitamos o nosso mundo concreto, rotineiro e
banal, isolando o nosso sonho. O sul. A sul da fronteira há um destino de
sonho; um mundo só acessível àqueles que arriscam deixar para trás o comodismo,
o materialismo, o mundo pequenino do concreto e trivial. O problema é que a
segurança está no trivial. Até quando poderá Hajime suportar o apelo do sonho
que vem do sul da fronteira?
Aqui, o sul, o mundo do sonho é representado pelo elemento
feminino de forma muito bela; ao longo da vida Hajime irá confrontar-se com os
ecos de uma infância e adolescência onde se haviam semeado os sonhos; e eles
têm nomes concretos: Shimamoto e Izume, as suas paixões juvenis.
A partir de meados do livro a narrativa evolui para um caminho
algo diferente, onde os mistérios se adensam e vem ao de cima o aspeto mais
encantador da escrita de Murakami: a naturalidade com que as coincidências
surgem, como se o impossível não existisse. Assim, emerge aquele toque de
fantasia poética que tanto embeleza a narrativa deste génio nipónico.
Perante um mundo capitalista que o oprime mas que lhe dá
segurança, Hajime vai ser confrontado com o grande dilema: a felicidade só se
consegue com a perda dessa segurança. Há um certo paralelismo entre esse
conforto que o ser humano (a medo) procura e o mundo capitalista em que vivemos
mergulhados. O capitalismo é visto como o mundo do comodismo, da imobilidade,
mas também da exploração e da ausência de ética. Um mundo obscuro, cinzento,
mas envolto numa aparência de felicidade. Terá Hajime a força para lhe resistir?
4 comentários:
Adorei, quando o li! E suponho que tem realmente algo de autobiográfico, pois o próprio Murakami foi dono de um bar, tal como o protagonista... Não sei é se essa é a única "coincidência"! :)
Beijocas e continuação de boas leituras!
Olá Teté
E também apaixonado por música Jazz e clássica.
beijinhos
Este livro trata de um tema que acho fascinante: o das fronteiras.
«No entanto, sem que dê por isso, acaba sempre prejudicando alguém com as suas opções. O Mal é inevitável» - eu não acredito na existência do Mal, acho que todas as ações humanas que consideramos más têm uma explicação. Mas é verdade que é difícil (talvez impossível) vivermos a nossa identidade e a nossa integridade sem prejudicar ninguém. É verdade que o podemos fazer inconscientemente, mas não o poderemos evitar. Viver uma vida de submissão e humildade extremas, a fim de evitar esse "Mal" também não me parece boa solução. O que é permitido? Onde se delimita a fronteira?
«um mundo só acessível àqueles que arriscam deixar para trás o comodismo, o materialismo, o mundo pequenino do concreto e trivial» - mas aí é que está a segurança. Pois é! Mais uma fronteira, mais um dilema.
E eu que ainda não consegui ler Murakami...
Quantas questões o teu comentáriuo levanta, Cristina. O Mal, em si, também não acredito que exista. Nem o Bem. Existem apenas atitudes, opções. E, o pior de tudo: os sentimentos. Aquilo que de mais belo temos na vida pode gerar sofrimento atroz. Passamos a vida a procurar esse equilibrio entre a segurança e a loucura (ou o sonho, ou o que lhe queiramos chamar). Fazemos tudo para não pisar a linha da fronteira. Mas o pior é que nem sabemos ao certo onde está o raio da linha! Quando damos por ela já magoamos umas quantas pessoas! RAIOS...
Enviar um comentário