Sinopse:
Depois de Terra Sonâmbula estas estórias fazem regressar o
imaginário moçambicano pela mão de Mia Couto. Se o romance deste autor
moçambicano nos transportou para o universo trágico da guerra, estas breves
histórias são flagrantes do renascer do país, depois da assinatura do Acordo de
Paz. Reúnem-se aqui contos, alguns já publicados em jornal, em que se inscreve
o mesmo estilo e a mesma capacidade de sonhar já consagrados em anteriores
obras (Vozes Anoitecidas, Cronicando, Cada Homem é uma Raça, Terra Sonâmbula).
Os contos já publicados foram, no entanto, revistos e alterados para publicação
em livro. Em todas as estórias se reconhece o trabalho profundamente pessoal de
recriação da linguagem, o aproveitamento literário da fala popular moçambicana
e o pleno exercício da poesia.
In wook.pt
Comentário:
Antes de mais nada, o título: duas palavras magníficas. O
termo “estórias” é uma palavra que gostava de ver mais usada quando nos referimos
a literatura de ficção. “Abensonhadas” é uma palavra que exemplifica bem a
poesia e a criatividade da escrita de Mia Couto.
Já poucos adjetivos me sobram para comentar uma obra deste
grande escritor moçambicano. Resta-me talvez dizer que, na minha opinião, é o
melhor escritor vivo da língua portuguesa.
Tal como acontece em todas as suas obras, também em Estorias
Abensonhadas, Mia Couto brinca com a Língua Portuguesa de forma hábil e divertida;
e nesses trocadilhos há uma poesia por vezes genial, como quando do sorriso de
uma mulher se diz que “nem água fosse mais cristalinda”. É raro encontrarmos
uma beleza como esta na língua portuguesa.
E depois há aquele toque de maravilhoso, de mágico, como no
conto “O Cego Estrelinho”, em que o guia do cego, o miúdo Gigito, lhe inventa
um mundo maravilhoso, se bem que todo ele inventado. No entanto, para que serve
a realidade se podemos inventar mundos muito mais belos?
De notar que estas estórias foram escritas no final da
guerra civil que assolou Moçambique. Mas é para lá da guerra que Mia Couto
escreve; e para lá da guerra há a terra. A terra maravilhosa, imortal, a
terra “perfumegante que semelha a mulher”; a terra sobre a qual cai a chuva que
lava o sangue; a terra que é a “mãe das mães”. E o apelo da terra é tão forte
que o velho Felizbento, que tem de ser deslocado por causa da guerra, não sai
sem levar consigo a árvore da sua terra.
Uma referência para o conto “A Guerra dos Palhaços”.
Trata-se de uma bela alegoria da guerra: dois palhaços simulam uma briga e a
partir daí provocam uma verdadeira guerra na cidade; e depois de recolherem os
seus lucros, vão provocar a mesma guerra noutra cidade…
Finalmente, um destaque muito especial para o último conto: cheio
de uma inexcedível e singela beleza…
4 comentários:
muito bom
Olá Manuel,
A tua opinião deixou-me curiosa.
Tenho de ler estas "estórias".
Bjs.
Tenho um outro Mia Couto cá em casa à espera na estante mas não é este, é que ando a tentar ler pelo menos grande parte das muitas obras adquiridas e ainda não lidas antes de novas aquisições... mas já ando com saudades de compras de livros
Também terminei um livro de contos de Mia Couto. Foi uma releitura dos "Contos do Nascer da Terra".
Não há melhor para a alma do que ler estas estórias de Mia Couto! :)
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