Como já tenho afirmado, não gosto de literatura fantástica. Não que não lhe reconheça méritos, mas porque entendo a literatura como uma forma de expressão da vida em todas as suas dimensões e não apenas no aspecto onírico.
No entanto, gostei muito deste livro. Talvez porque ultrapassa em muito a literatura fantástica. Aliás, penso que poucas vezes se misturou história, mitologia e ficção de forma tão feliz e genial.
Segundo a crença, foram os antepassados da Atlântida que construíram os círculos de pedras a que hoje chamamos cromeleques (como o famoso monumento megalítico de Stonehenge). Curiosamente, essa crença explica da mesma forma os primeiros monumentos proto-cristãos. Isto é muito significativo porque aponta, desde logo, para a universalidade do pensamento religioso: a concepção das forças do Bem como forças universais, independentemente dos nomes atribuídos aos deuses. Por oposição, este livro apresenta-nos o nascimento da ortodoxia católica, autêntico travão à tolerância religiosa, em percurso contrário à crescente tolerância manifestada pelo Império Romano.
Por outro lado, este livro é também um importante testemunho histórico; ele divide-se em três partes que acompanham três momentos fundamentais da história do ocidente: o momento de afirmação do Império Romano, no primeiro século da era cristã; o nascimento do chamado Império Britânico, com o Imperador Caráusio e, finalmente, o tempo das invasões bárbaras com o estertor do Império e o terror imposto por Saxões, Anglos e outros povos germanos que viriam a provocar a mescla de povos das actuais ilhas britânicas.
Intrinsecamente ligadas a este percurso histórico, o mítico povo de druidas e feiticeiras de Avalon surge como o reino maravilhoso onde a história se alicerça na mitologia céltica. Mito e História, crença e realidade, sonho e tragédia, guerra e misticismo, são os elementos com que se compõe esta maravilhosa narrativa, capaz de nos fazer sonhar e reflectir sobre os destinos que a humanidade impõe a si própria.
Mas o âmago do maravilhoso é o que está para além de toda a realidade: é o misticismo de uma mitologia baseada na natureza, na terra-mãe. Uma mitologia onde o mundo é Deus e Deus é a Terra, o vento e o mar; onde o Bem emana da terra; onde a paz está ao alcance do espírito.
Avaliação Pessoal: 9/10
8 comentários:
Olá Manuel, gostei bastante desta tua opinião. sou fã de marion Zimmer Bradley, já leste por acaso as brumas de avalon? se não leste acredito que vas gostar bastante.
Gostei muito da tua opinião. É uma boa análise dos vários elementos desta obra. Recomendo-te os outros livros dela, pois também têm este misto de conteúdo histórico e vertente religiosa, se bem que acho que As Brumas de Avalon são talvez mais "fantásticas" que esta Senhora de Avalon.
Vou ler, Nuno e Cat. Aliás devia ter lido primeiro as Brumas mas ofereceram-me este a em boa hora aproveitei :)
Ainda não li nada desta escritora e tenho aqui na estante mas tenho a ideia que será uma escrita muito dificil... vamos lá ver quando a mão vai para esse lado;)
Carlinha, escrita difícil? Como é que aconteceu teres ficado com essa ideia? o.O
É uma escrita madura, mas nada difícil. Li A Casa da Floresta aos 14 ou 15, seguido das Brumas e deste, e não achei nada difícil :)
Olá
Gostei muito desde livro, se bem que não tanto quanto do "As Brumas de Avalon". Este foi um dos últimos livros desta "saga" que li e pelo que me lembro fazia a ponte entre o "A casa da floresta" e As Brumas (e o "A Sacerdotiza de Avalon" está algures ali pelo meio).
Uma das coisas que me encantava na MZB era a capacidade de encaixar umas histórias nas outras fazendo tudo bater certo.
Pelo seu post imagino que vá gostar mais do "A casa da floresta" do que das "Brumas de Avalon". É que apesar do "As Brumas de Avalon" retratar um periodo muito muito conhecido da história mas é muito menos um romance histórico que o "A casa da Floresta".
Boas leituras
Olá Patrícia
sem dúvida hei-de ler os outros livros, pelo menos as Brumas, sobre o qual já li tantos elogios :)
Olá Manuel!
Gostei muito do seu comentário. Marion é uma das minhas escritora preferidas,e a saga de Avalon é sem dúvida brilhante. A ordem (apesar de não precisar seguir) é A Casa da Floresta, A Senhora de Avalon e As Brumas de Avalon. E há ainda Os Corvos de Avalon, que antecede A Casa da Floresta, mas este não fopi escrito por Marion, mas por sua discípula, Deborah Ross (acho), depois da morte da escritora.
Se você gostou da mistura de Marion, eu recomendo também As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell, outro dos meus escritores favoritos.
Só mais uma coisa: eu sou brasileira, mas minha família toda é portuguesa!Meu pai nasceu em Mirandela, mas veio para cá aos sete anos. E meus avós maternos também são de Trás-os-Montes.
E ta,mbém tenho um blogue, natrilhadoslivros.blogspot.com. Eu adora fantasia, mas também romances históricos tanto quanto. Convido você para uma visita, e eu também fiz a resenha de As Crônicas de Artur, que eu mencionei, se quiser saber mais.
Um abraço do Brasil!
Fernanda
PS: parabéns pelo blogue!
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