quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Estepe - Anton Tchekhov

Na senda dos grandes escritores russos, Anton Tchekhov, presenteia-nos com uma escrita incrivelmente fluida, sem rodeios mas também sem deixar de nos maravilhar com descrições bucólicas das imensas estepes russas onde se desenrola a acção.
Tcheckov escreveu poucos romances; era essencialmente um escritor de contos e peças teatrais. Mas este pequeno romance é deslumbrante na sua simplicidade.
Trata-se de um relato escrito na primeira pessoa da viagem de um jovem desde casa dos seus pais até à cidade onde lhe é prometido um futuro que ele construirá a partir do estudo. Para uma criança pobre na Rússia do final do século XIX, ter acesso à escola era um verdadeiro sonho. Ao longo da viagem, acompanhado pelo padre Crisóstomo e por um tio comerciante que lhe pagará os estudos, o nosso jovem vai conhecendo personagens da verdadeira Rússia que não dos Czares e Príncipes mas de gente simples e pobre. Ao longo da viagem, o tom da escrita vai-se tornando mais sombrio. Aliás, a paisagem da estepe é-nos apresentada em tons cada vez mais sombrios à medida que o estado de espírito do jovem também vai "escurecendo". O final, no entanto, é o regresso à esperança e ao sonho.
Todo o livro é um retrato da solidão e da miséria que se vivia nas imansas estepes da Rússia, num cenário que faz lembrar Tolstoi. Tudo é triste, monótono, pobre.
No entanto, a mensagem final do livro é clara: o conhecimento é a única forma de procurar a felicidade e construir o progresso. O padre Crisóstomo parece ser o elemento-chave neste contexto: ele remou contra a maré e foi o clérigo iluminado que agora tenta incutir ao jovem Iegoruchka essa luz do saber.
O livro termina com um raio de luz; uma luz de esperança e uma expressão de crença na bondade humana, personificada por Natássia Petrovna.
Num mundo de pobres, salteadores e assassinos havia ainda lugar para a bondade.
E para a esperança!
Avaliação pessoal: 8.5/10

4 comentários:

Anónimo disse...

Anton Tchekhov
Gosto muito!
Bjs Manuel.

Miguel Nunes disse...

agora que me habituava às classificações acabaste com elas Manuel? ;)

Unknown disse...

ops, tem-me esquecido, Sr.
Vou já repor a verdade :)

Anónimo disse...

Para mim, Tchekhov é o maior contista de todos os tempos. É simplesmente maravilhoso como, por exemplo, em três páginas, nos apresenta o homem e a sua condição. Refiro-me ao conto «O gordo e o magro».
Oportunamente deixarei um comentário mais completo sobre este inexcedível contista/dramaturgo que nada fica a dever às chamadas «grandes» figuras do séc. XIX russo.