Cada livro de Auster deixa, no final, a questão que se eterniza: o que vai o génio de Nova Iorque inventar de seguida? Grande contador de histórias, Paul Auster é o escritor que mais caminha para dentro de si, à medida que escreve. Nesta obra lê-se e vê-se o autor, os seus sentimentos, angústias e memórias. Cada novo livro parece caminhar mais um pouco na interiorização. A caminhada começou algures por volta da “Triologia de Nova Iorque”, uma caminhada do mundo para dentro de si. “Viagens no Scriptorium” parece ser, mais uma vez, o fim da caminhada. É Auster em 115 páginas.
As histórias rocambolescas como em “As loucuras de Brooklin”; as coincidências incríveis de que a vida é feita, como em “A noite do oráculo”; os enredos cinematográficos, cheios de imagens escritas quase com magia, como em “Mr. Vertigo” parecem já não fazer parte do universo de Auster. Mais ou menos a partir de “Leviathan” o autor parece ter-se voltado para si próprio, em definitivo. Alguém escreveu que este livro marca o confronto de Auster com a sua própria velhice. Não me parece. Mr. Blank é Auster à procura da sua própria identidade, não a explicar ou a questionar o final da existência. O diálogo interior, a introspecção, a procura do âmago mais profundo da alma humana em confronto com o mundo são temas que, afinal de contas, sempre fizeram parte da obra de Auster mas que apenas germinavam nos seus primeiros livros, para agora aparecer em pleno.
Mr. Blank está sozinho, num quarto-prisão sem saber onde nem quando, nem sequer porquê. É a solidão na sua máxima expressão. Porque estar totalmente só é não saber sequer quem é. Algo no seu passado o levou até aquele quarto. Alguém, algum dos seres fantasmagóricos que o rodeiam, o levou até ali. De entre esses seres alguém o ama, muitos o odeiam. Ele sabe que odeia alguém. Mas não sabe quem nem porquê. Mr. Blank tenta reconstituir a sua identidade. Nunca o conseguirá. Mas a maior angústia não é estar só. É depender de todos os outros: os que o amam e os que o odeiam. É o drama maior do ser humano: os outros são o inferno mas só eles podem dar sentido à sua existência, só eles lhe poderão devolver a identidade.
Por mais introspectivo que este livro possa ser (e é), nem assim Auster prescinde de uma das suas características mais interessantes como escritor: o enorme talento de surpreender o leitor com um final inesperado e belíssimo. Auster no seu melhor. Até ao próximo livro.
As histórias rocambolescas como em “As loucuras de Brooklin”; as coincidências incríveis de que a vida é feita, como em “A noite do oráculo”; os enredos cinematográficos, cheios de imagens escritas quase com magia, como em “Mr. Vertigo” parecem já não fazer parte do universo de Auster. Mais ou menos a partir de “Leviathan” o autor parece ter-se voltado para si próprio, em definitivo. Alguém escreveu que este livro marca o confronto de Auster com a sua própria velhice. Não me parece. Mr. Blank é Auster à procura da sua própria identidade, não a explicar ou a questionar o final da existência. O diálogo interior, a introspecção, a procura do âmago mais profundo da alma humana em confronto com o mundo são temas que, afinal de contas, sempre fizeram parte da obra de Auster mas que apenas germinavam nos seus primeiros livros, para agora aparecer em pleno.
Mr. Blank está sozinho, num quarto-prisão sem saber onde nem quando, nem sequer porquê. É a solidão na sua máxima expressão. Porque estar totalmente só é não saber sequer quem é. Algo no seu passado o levou até aquele quarto. Alguém, algum dos seres fantasmagóricos que o rodeiam, o levou até ali. De entre esses seres alguém o ama, muitos o odeiam. Ele sabe que odeia alguém. Mas não sabe quem nem porquê. Mr. Blank tenta reconstituir a sua identidade. Nunca o conseguirá. Mas a maior angústia não é estar só. É depender de todos os outros: os que o amam e os que o odeiam. É o drama maior do ser humano: os outros são o inferno mas só eles podem dar sentido à sua existência, só eles lhe poderão devolver a identidade.
Por mais introspectivo que este livro possa ser (e é), nem assim Auster prescinde de uma das suas características mais interessantes como escritor: o enorme talento de surpreender o leitor com um final inesperado e belíssimo. Auster no seu melhor. Até ao próximo livro.