No âmbito da leitura conjunta realizada no DESTANTE.
Nitidamente influenciada por W. Faulkner na estrutura da obra (múltiplos narradores) e por Harper Lee na temática (o racismo do sul dos EUA; note-se que Por Favor Não Matem a Cotovia é citado no livro por mais de uma dezena de vezes), Kathryn Stockett apresenta-nos um romance de leitura fácil e fluida, sem grandes ideias de fundo mas com um estilo fácil, agradável e inteligente.
A primeira fase do livro deixa-nos algo expectantes; por vezes o leitor sente que falta ao livro uma linha de rumo, um objectivo final. Mas à medida que avançamos na leitura vamos vislumbrando onde a autora quer chegar. A emoção aumenta, ao ponto de as ultimas cem ou cento e cinquenta páginas nos acorrentarem totalmente ao livro.
Para além do interesse da “estória”, este livro é um testemunho interessante de uma época de charneira na afirmação dos direitos cívicos nos EUA; uma caminho que se inicia com a luta de Martin Luther King mas que ainda não está totalmente percorrido.
No centro da questão está o feminino. As mulheres. A mulher branca mais insensível e implacável que os homens e a mulher negra mais sofrida mas também mais inteligente, talvez porque o seu espírito submisso a faça cultivar aquela paciência que conduz à sabedoria. Acima de tudo, neste livro, a luta pela igualdade de direitos é a luta da mulher negra; é a luta da solidariedade e da união. Mas a questão do racismo não se resume a uma luta linear entre brancos e negros. A segregação racial provoca dramas terríveis no relacionamento entre brancos e entre negros. Como diz o escritor Howel Raine, na nota final da autora: “a desonestidade sobre a qual uma sociedade é fundada torna todas as emoções suspeitas, torna impossível saber se aquilo que flui entre duas pessoas era um sentimento honesto, pena ou pragmatismo”. Na verdade, o peso de aceitar ou não tradições tão arreigadas como as normas de segregação racial tornam suspeitas as relações sociais, criando um clima de conflito permanente. Em parte é ainda esta triste realidade que se vive nos nossos dias. E não só no sul dos EUA.
Uma outra ideia fundamental deste livro é o poder que os livros e a escrita assumem na vida dos personagens. Aibeleen escrevia as orações e era quase sempre atendida nos seus pedidos. Talvez Deus também goste de ler… e é um livro que está no centro do romance; o livro como único meio de mudar o mundo daquelas pessoas.
Stockett demonstra neste livro ser uma alma nobre; uma alma grande, daquelas que tem o dom de mostrar à humanidade o que é, realmente, ser HUMANO.
Avaliação Pessoal: 8.5/10