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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Santuário - William Faulkner

Num crescente tom de absurdo, fazendo lembrar o surrealismo literário que, nessa altura despontava em França com Breton, este livro, publicado em 1930, é o primeiro grande marco na carreira literária deste monstro sagrado das letras chamado William Faulkner. Aliás, é nítido neste livro algum esforço do autor para obter sucesso. Ao contrário do que se passa por exemplo na sua obra-prima (O Som e a Fúria) neste livro há uma certa linearidade no enredo. Mesmo assim, quem lesse este livro naquela altura certamente sentiria que estava ali um génio em potência.
Santuário aborda a decadência dos estados sulistas, a solidão e a procura da identidade por parte de personagens sui-generis, como sombras que vagueiam pelo mundo sem um sentido definido, numa procura de algo que nem eles próprios identificam. Nunca sabem para onde se dirigem, o que procuram, qual o sentido dos seus rumos… Temple é o melhor exemplo deste desnorte: estudante de dezoito anos ou pouco mais, filha de um juiz abastado, abandona a faculdade e perde-se num mundo de homens desnorteados e degradados. Degradados como a casa em ruínas onde decorre a maior parte do enredo, onde vai parar Temple: a deusa no santuário das almas perdidas.
Por todo o lado, a violência entranhada na vida das pessoas;
Uma casa em ruínas – 3 homens em ruínas… 3 mortes se seguirão até ao fim do enredo…
um negro na prisão – a monotonia da normalidade
um negro condenado à morte – banal…
uma criança numa caixa de cartão – silenciosa – inútil…
uma cidade sem luz, sem alegria. Cinzenta…
mulheres, essas, sempre arruinadas, sempre perdidas no surreal da vida…
E Popeye, o fantasma, imperador da desgraça, monstruoso e protector; Popeye personifica o poder que há na violência, na força bruta. Pelo contrário, Horace, vítima do amor, é o justiceiro, infeliz, impotente…
Em suma, trata-se de uma obra complexa, profunda, sem o fôlego de outras que se lhe seguiriam mas brilhante pela forma como são descritos a solidão, a tristeza e o desespero humano.
Avaliação pessoal: 8.5/10

quinta-feira, 5 de agosto de 2004

O Som e a Fúria - Wiliam Faulkner

Um enredo sem linha de rumo preciso navega num tempo sem definição, ondeando entre memórias e prenúncios, desprezando a linearidade, a lógica. Como se ao longo da estrada 66, como se caminhando descalço sobre o alcatrão das estradas do Iowa, como se sem destino nem rumo certo...
Respira-se o desprezo pelo concreto, a recusa do próprio tempo. O simbolismo, intenso e sempre presente, enreda-se permanentemente numa linguagem barroca, de formas por vezes sublimes mas nunca frívolas. 
Jogos de palavras, simples prazer da escrita e da leitura. Um grito colectivo de revolta: uma família apodrecida pela América da falsa prosperidade, rodeada de negros acorrentados à humilhação de ter nascido. Personagens enlouquecidas, devassas, horríveis, infelizes, perdidas num vazio de humanidade. 
E a Disley… a criada negra desgraçada e feliz… normal. 
Benji é louco, Jason alucinado, Quentin lunático, e... um bando de pretos. 
Faulkner constrói assim um quadro quase sem nexo, quase sem sentido, como a vida. Quando chegamos ao fim as estórias ganham, finalmente, forma e sentido. Mas nessa altura fica-nos na mente a frustração de não haver mais páginas… como se todos os Compsons tivessem morrido de súbito. Apetece então voltar ao início… como na vida: uma circunferência que nunca se fecha e assim se transforma em espiral… perpetuamente… sem tempo…
Sem dúvida (pelo menos na minha opinião), um dos melhores livros de toda a história da literatura mundial.
Para ler e reler...