Sinopse:
Este é o livro número 4 das aventuras do Capitão Alatriste,
figura criada por Arturo Perez-Reverte e que já vendeu mais de CINCO MILHÕES de
exemplares!
De regresso a Espanha, (após a Conquista de Breda) o capitão
Alatriste vê-se envolvido numa missão de vida ou de morte…
Sevilha, 1626. No seu regresso da Flandres, onde
participaram no assédio e rendição de Breda, o capitão Alatriste e o jovem
pajem Íñigo Balboa recebem a incumbência de recrutar um pitoresco grupo de
bravos e espadachins, entre eles, Saramago, o Português, para uma missão
perigosa, relacionada com o contrabando do ouro que os galeões espanhóis trazem
das Índias. O submundo da turbulenta cidade andaluza, o Patio de los Naranjos,
o calabouço real, as tabernas de Triana, os areais do Guadalquivir, são os cenários
desta nova aventura, onde os protagonistas reencontrarão traições, lances e
estocadas, na companhia de velhos amigos e de velhos inimigos.
Comentário:
A literatura espanhola passou já a ser, para mim, um mundo
misterioso e de uma beleza artística extraordinária. No entanto, cada livro de
Reverte já não é uma surpresa mas mais uma confirmação. Neste caso específico,
trata-se de mais um episódio de uma série que Reverte escreveu na fase inicial
da sua carreira, sem grande profundidade literária mas com um traço de génio
que lhe permitiu vender mais de cinco milhões de exemplares em todo o mundo, em
mais de 30 traduções.
Ler um destes livros é regressar à adolescência em que todos
nós nos deixámos deleitar por livros e filmes de capa e espada. É deixarmo-nos
levar pelo entusiasmo do picaresco, da emoção de um duelo, do encantamento dos
espadachins a fazer lembrar os mosqueteiros de Dumas.
Mas este Capitão Alatriste tem algo de ainda mais
interessante: um suave tom quixotesco, tanto no idealismo quase épico do herói
como na tonalidade humorística com que todo o livro é polvilhado. Alatriste é herói
e anti-herói, justiceiro e vilão. Esta dualidade deriva de uma outra, bem mais
profunda que perpassa toda a obra literária de Reverte: o patriotismo bem
latino em paralelo com uma tremenda dimensão crítica face à história de
Espanha.
Na realidade, este génio espanhol da literatura não deixa
nunca de apontar o dedo aos defeitos estruturais da alma espanhola, bem similar
à portuguesa: apesar da vocação marítima, o governo sempre tendeu a desprezar
aqueles que, de facto, revelavam talento, em favor dos seus protegidos. A
corrupção não é, de facto, exclusivo de Portugal nem dos tempos atuais.
Por outro lado, o mal eterno da Espanha como de Portugal: “aquela
riqueza acabou por ser aproveitada por todos menos pelos espanhóis: com a Coroa
sempre endividada, gastava-se antes de receber.”
Mas não é pelas interpretações históricas que este livro nos
deixa agarrados à leitura; é pela emoção, pela incerteza no desenlace.
A parte final do livro é verdadeiramente emocionante, com o
assalto ao navio que pretendia desviar o ouro da coroa espanhola. É nesta fase
que entra em cena um personagem português, o Saramago, que mais não é que uma belíssima
homenagem de Reverte ao imortal José Saramago. Às vezes, de Espanha também veem
bons ventos…
Em suma, não é uma obra-prima porque não é um livro que nos
ofereça pontos de vista originais ou nos surpreenda de qualquer forma. Mas é
uma leitura tão agradável como qualquer clássico de capa e espada. Penso que só
isso já é suficiente para valer a pena percorrer esta primeira fase da escrita
deste que é, em minha opinião, o melhor escritor espanhol da atualidade.