sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Dom Dinis - Cristina Torrão - Divulgação

Não costumo fazer divulgação neste blogue mas abro aqui uma exceção para anunciar a reedição de um grande livro, já analisado neste blogue, Dom Dinis, de Cristina Torrão.


“DOM DINIS - A QUEM CHAMARAM O LAVRADOR” DISPONÍVEL EM E-BOOK

Foi no passado dia 24 de Fevereiro editado em eBook o livro “Dom Dinis - a quem chamaram o Lavrador”, da autoria de Cristina Torrão. O livro digital, que poderá ser adquirido na Leyaonline bem como nas livrarias online associadas, é uma reedição revista e melhorada da versão em papel, editada em 2010 pela Editora Ésquilo. O texto foi devidamente trabalhado, de forma a dar mais realce ao enredo do que aos factos históricos, que podem tornar fastidiosa a leitura de um romance histórico.

Sobre o livro:
Dom Dinis, o Lavrador ou o Poeta?
Há ainda quem lhe chame o Trovador. E, no entanto, para fazermos justiça ao sexto rei de Portugal, teríamos de ir mais longe. Podíamos chamar-lhe o Legislador, o Reformador, ou até o Defensor, tanto ele fez pela defesa e delimitação das fronteiras do reino, apesar de não ter sido um rei propriamente guerreiro.
Dom Dinis não foi, porém, apenas o homem público. Dele se diz que, não se furtando a amores adúlteros, muito fez sofrer a rainha com quem esteve casado durante cerca de quarenta e quatro anos, uma rainha que foi canonizada. E, apesar de ter ficado na história como um rei justo e culto, debateu-se numa guerra civil contra o seu próprio filho e herdeiro, uma guerra que massacrou o reino português e amargurou os últimos cinco anos de vida do monarca, talvez até lhe tenha acelerado a morte.

«Quantas contendas são provocadas e quantas mágoas se guardam por palavras silenciadas? Palavras que se adivinham, mas que não são ditas? Não se duvida do amor de um pai por um filho e, no entanto, se não for continuamente expresso, seja por falas, seja por atos, deixará o filho eternamente insatisfeito, desconfiando desse afeto. Qualquer pessoa, desde o mais baixo serviçal, ao mais alto dos soberanos, há mister da aprovação e do apoio expresso de seus orientadores. É um erro abrigarmo-nos sob a capa das evidências. Amar não é apenas um conceito, é prová-lo, todos os dias, a todas as horas. Quer se trate de um pai, de uma mãe, seja de quem for: quem não pratica o amor, não o recebe de volta. Quanto desprezo, quanto abandono e, muitas vezes, quanto sarcasmo aguentaram aqueles de quem se diz não serem bons filhos?»
(palavras da rainha Santa Isabel, neste romance)

Sobre a autora:

Cristina Torrão nasceu a 16 de Julho de 1965, em Castelo de Paiva. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Ingleses e Alemães) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Em Julho de 2007 venceu a segunda edição do Concurso Literário “O meu 1º Best-Seller”, levado a cabo pela Modelo/Continente em parceria com as Edições Asa e a revista Visão, com o livro “A Moura e o Cruzado”. No ano seguinte publicou, com a editora Ésquilo, o seu segundo romance histórico “Afonso Henriques - o Homem”, a que se seguiu uma reedição da sua primeira obra, que recebeu o título “A Cruz de Esmeraldas”, e “D. Dinis - a quem chamaram o Lavrador”. Em 2014 publicou, sob a chancela da Poética, “Os Segredos de Jacinta”, o percurso de uma jovem no século XII português.


Ficha do Livro:

Título: Dom Dinis - a quem chamaram o Lavrador
Autora: Cristina Torrão
Editora: edição de autor - Escrytos
ISBN: 9789892064505
Nº de Páginas: 300
Preço: 6,99 €

Lojas online onde o livro está disponível:
LeyaOnline, Amazon, Apple Store, Barnes & Noble, Fnac.pt, Gato Sabido, IBA, Kobo, Livraria Cultura, Submarino, Wook entre outras.



Blogues da autora:


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Oliver Twist - Charles Dickens


Comentário:
Segundo livro de Dickens, apresenta-nos as bases daqueles que serão os traços fundamentais da sua magnífica bibliografia: escrita muito visual, simples e fluída, servindo de base a uma temática de âmbito social que hoje talvez apelidaríamos “de intervenção”. Numa fase pré-socialista e pré-sindical, o capitalismo ainda mais selvagem que o de hoje imperava no ambiente vitoriano. A sociedade “british”, altiva e hipócrita, encaixava no seu seio a mais rude e desumana pobreza, encarando-a com naturalidade, como se os homens desprotegidos pela sorte constituíssem uma espécie de casta menor, que esses mesmos cidadãos “asseados” tinham de suportar.
Oliver, o miúdo órfão representa toda essa classe de crianças que a sociedade londrina rejeita, empurrando-a para a sarjeta da criminalidade e da miséria.
Este é um dos primeiros livros de Dickens e talvez por isso é um dos mais lineares e mais “ingénuos” na medida em que privilegia a narrativa, o humor e a emoção, a incerteza no evoluir da narrativa. Na sua tendência para a narrativa biográfica de ficção (que viria a reforçar e desenvolver com Nicholas Nickleby e David Copperfield, toda a ação é centrada nas personagens, nas suas emoções e sentimentos. Neste aspeto talvez Dickens tenha sido um dos percursores do género “novela”, entendido como romance ligeiro e que dá preferência às histórias “de vida”. Não sei, deixo isso aos especialistas da literatura. No entanto, o que interessa reter é que, sendo uma obra publicada em fascículos, Dickens, mesmo nesta fase inicial da carreira, manobra como ninguém a emoção e a incerteza na mente do leitor levando-o a devorar página sobre página.
Embora seja um crítico da austera sociedade vitoriana com todos os seus problemas. Dickens não deixa de ser, a seu modo, um moralista, como se vê numa parte essencial do livro em que um assassinato é seguido por uma violenta crise de consciência, um remorso a fazer lembrar o Crime e Castigo de Dostoievski.
Neste livro, o génio britânico desmente um pouco aquela ideia que por vezes fixamos a respeito das suas ideias, segundo a qual o autor defende incontornavelmente os elementos hierarquicamente mais baixos da sociedade; na verdade, aqui ele acusa claramente esse tipo de pobre que se refugia na criminalidade e por vezes roça até um certo moralismo. Mas depressa esse moralismo se desvanece e é substituído pelo humor com que a sua crítica atinge, por exemplo, os elementos da polícia londrina, supremos exemplos de estupidez.
O sentido de humor é finíssimo que deixa um sorriso permanente e não a gargalhada efémera. Exemplo, um trecho de um diálogo entre um bedel (funcionário paroquial) e a mulher de meia-idade, beata e bem nutrida:
“A dama não pôde resistir. Caiu nos braços do bedel, e este depôs um apaixonado beijo no nariz da matrona. 
— Que perfeição paroquial! — Exclamou o Sr. Bumble!”
Posteriormente, o casamento destes personagens serve a Dickens para uma corrosiva e brilhante crítica social, apresentando-nos um bedel que deixa de ser o altivo funcionário para se transformar no submisso marido, capaz de encaixar uma valentes “porradas” por parte da matrona.
O livro termina de forma algo melodramática, num quadro profundamente emotivo que Dickens não repetirá (pelo menos de forma tão vincada) nas obras subsequentes.
Uma nota final para esta histórica e excelente tradução de Machado de Assis: aqui nada é supérfluo. Assis terá optado por uma tradução bastante interventiva que tornou o livro mais sintético mas, ao mesmo tempo, mais atraente ao leitor.

Sinopse (in wook.pt)
Obra maior de Charles Dickens, Oliver Twist destaca-se pelo seu realismo, retratando pela primeira vez a rudez dos gangs londrinos, até então descritos com glamour e romantismo. Realça a vida de escravatura das crianças de rua e um submundo paralelo ao mundo imperial da Grã-Bretanha.
Ladrões, assassinos, mentes perversas, prostitutas, a dureza da vida na sarjeta num mundo sem esperança povoam o universo de Oliver Twist, o órfão que personifica a resistência ao sofrimento à corrupção e à luta pela vida que faz dele um verdadeiro sobrevivente. Diversas vezes adaptado ao cinema e à televisão, Oliver Twist tem agora uma nova versão cinematográfica pela mão do mestre Roman Polanski.