Aomame vai olhando a lua e esperando por Tengo. Ela matara o
velho e prepotente líder da Vanguarda; na hora da morte ele prometera-lhe que
Tengo se salvaria se ela se suicidasse. Mas isso seria um paradoxo porque
Aomame tem uma missão mais importante: a última e mais decisiva das missões –
esperar por Tengo.
Neste terceiro livro deparamos com uma nova personagem:
Ushikawa, o detetive ao serviço da Vanguarda para tentar capturar Aomame; mas
ao contrário do previsto, a perspicácia do detetive levá-lo-á apenas até ao
amor entre Tengo e a assassina justiceira. Aliás, a característica que mais
surpreende neste terceiro livro é o romantismo em que Murakami caiu; alguém
comparou já este livro ao Romeu e Julieta. Não vou tão longe porque, ainda assim,
a obra de Murakami tem dimensões maiores que a estória romântica. Mas que é o
livro mais cor-de-rosa do japonês, isso é inegável.
Mais do que em qualquer outra obra de Murakami está aqui bem
patente um confronto quase titânico entre o bem e o mal. Este maniqueísmo surge
associado a um tom romanesco e a um estilo mais narrativo do que nos seus
livros anteriores, tornando a escrita fluente e agradável. É talvez o livro
mais fácil, mais direto e atrativo do escritor nipónico. Longe está a escrita
filosófica e profundamente mística de Kafka à Beira Mar, por exemplo. No
entanto, não quero com isto estabelecer qualquer hierarquia nem muito menos
desvalorizar este livro. Esta diferença em relação às obras mais antigas de
Murakami só comprova a enorme versatilidade do escritor que, de uma vez por
todas, merece o Nobel.
Mas voltando ao maniqueísmo a que me referia acima: não
deixa de ser curioso que o Mal nos apareça aqui associado a uma seita
religiosa. Sinal dos tempos?
Em suma: em termos de gostos pessoais, agradou-me mais o
primeiro volume desta série. No entanto não podemos avaliar estes três livros
separadamente; eles constituem um todo onde Murakami percorre diversos estilos
de escrita. Mais místico no volume segundo, com um interessante tom de literatura
fantástica que curiosamente desaparece no volume três, mais narrativo. Penso
que o primeiro episódio é o mais bem conseguido. Sem chegar aos patamares de
excelência que já atingiu noutros livros, Murakami presenteia-nos aqui com três
livros de inegável qualidade literária, difícil de igualar por qualquer outro
romancista atual.