Sinopse:
As Pupilas do Senhor Reitor, romance de Júlio Dinis publicado pela primeira vez em 1866.
Nesta obra, os filhos do fazendeiro José das Dornas, Pedro e Daniel, envolvem-se em disputas relativas a duas órfãs, Clara e Margarida, entregues ao reitor da aldeia.
Daniel, ainda seminarista, apaixona-se por Margarida. O pai vê-se forçado a enviá-lo para estudar medicina. Aquando do seu regresso à aldeia interessa-se por Clara, então noiva de Pedro, colocando em causa o bom nome da família.
Comentário:
Toda a imensa beleza deste livro assenta em dois pilares
essenciais: a limpidez da linguagem,
objetiva e cristalina e, por outro lado, um enredo construído com base num conhecimento profundo da bondade humana.
Os personagens de Júlio Dinis são pessoas do campo, pessoas simples e singelas
mas a sua caraterização evidencia uma crença enorme na bondade natural, numa
visão otimista do ser humano.
É claro que também não faltam aqui os personagens menos positivos:
as “beatas” maledicentes ou o comerciante interesseiro. Mas eles são,
claramente, as exceções que confirmam a regra.
Numa aldeia rural, algures no Minho, Clara e Margarida vivem
os seus amores num quadro idílico que nem as peripécias dos desencontros
amorosos conseguem ensombrar. José das Dornas, o pai dos rapazes (Pedro e Daniel)
é o lavrador abastado, fanfarrão mas sensível, poderoso mas cheio de bondade. O
Reitor, um velho abade seria hoje considerado um padre moderno: bem disposto,
alegre e tolerante.
Se, por um lado, este enredo demonstra a “veia” romântica do escritor, por outro não deixa de marcar já os alvores do realismo que viria a
marcar o nosso século XIX. É nítido o traço do romantismo literário ao centrar
o enredo nos dramas individuais das personagens, cujas vidas decorrem mais das
paixões do que da razão, assim como um certo tom idealista e onírico. Da mesma
forma, o culto da natureza e a inserção dos personagens num enquadramento natural
bucólico completam o quadro do romantismo literário de Júlio Dinis. Mas, por
outro lado, anuncia-se ali qualquer coisa que marcará o realismo nascente: a abordagem
cuidada do quotidiano, a crítica mais ou menos velada ao poder do preconceito e
uma certa abordagem no sentido da análise social da aldeia.
Teorias à parte, estamos perante uma obra de leitura muito agradável, que nos faz sorrir e sonhar com
esse Portugal em que a agricultura não era só o escape para os disparates que o
mundo moderno construiu…