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sábado, 14 de julho de 2012

O Americano Tranquilo - Graham Greene

Sinopse:
O Americano Tranquilo é um dos grandes romances com a guerra do Vietname como pano de fundo. Contudo, antecipa, através da sua personagem principal, Alden Pyle, um agente da CIA, o que posteriormente veio a ser a intervenção norte-americana naquele país do Extremo Oriente. Livro sobre a guerra mas que se não detém em descrições bélicas. Livro, isso sim, sobre a condição humana, onde o que está verdadeiramente em causa é o amor, o ódio, a traição, a morte de inocentes e o sacrifício de civis.

Comentário:
O pano de fundo é fornecido pela Indochina francesa nos anos cinquenta, quando alguns grupos terroristas (ou patriotas, consoante o ponto de vista) começam a exigir a independência do Vietname. Isto conduziu a uma verdadeira guerra colonial.
Fowler é um jornalista inglês cansado do jornalismo. Ele abomina a política medíocre e interesseira. Adora o Vietname e apaixona-se, tal como Pyle, por uma bela vietnamita, Phuong. Este triângulo amoroso dá corpo à estória.
Indo direto ao aspeto mais importante deste livro, parece-me que há nele um traço de génio, na forma como Greene nos apresenta um enredo profundamente moralista sem nunca cair num tom apologético ou catequético. É de forma lenta e gradual que o leitor se vai apercebendo deste carater moralista, ao verificar que nenhuma das personagens pode aspirar a ser feliz; todos eles esbarram com a realidade, com a guerra, o ódio, os interesses materiais, numa palavra, a imoralidade.
Assim, veja-se o caso de Phoum; bela e inteligente, porém interesseira. Quando Fowler afirma não ter dinheiro para a fazer feliz, ela, aconselhada pela irmã, propõe que ele faça um belo seguro de vida! Fowler, jornalista ateu, procura e não encontra a paz de espírito que outrora tinha tido no seu casamento católico. Agora, a tentativa de divórcio e o sonho do casamento com Phuong são vistos como um jogo ou um negócio. Fowler representa sem dúvida a ausência de moral, se bem que se trate de um personagem ingénuo e bom.
Pyle é um homem com sonhos. Católico, ele simpatiza com um curioso movimento religioso, o caodaísmo. Trata-se de uma tentativa de juntar as três religiões mais praticadas naquela zona do Oriente: o catolicismo, budismo e islamismo. É esta ingenuidade que leva Pyle a apoiar determinados atos terroristas, aparentemente inofensivos, para lutar pela independência do território. Quando se verifica que um desses atentados provocou a morte de inocentes, Pyle limpa o sangue das botas e comenta: “Não sabia”… era suposto combater o comunismo.
A falácia desta luta entre o bem e o mal é a tom fundamental da crítica de Greene: uma crítica à guerra como forma de negação radical da moral.
Trata-se, enfim, de um livro profundamente sentimental, talvez o mais moralista de Greene, escrito, como todos os seus romances de uma forma fluida e fácil. Talvez o livro mais elaborado, mais sério e mais inteligente de Greene.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Agente Secreto - Graham Greene



Sinopse:
D., um ex-professor de Literatura Medieval, foi enviado a Inglaterra com a incumbência de adquirir carvão... a qualquer preço. Falhar significaria a derrota... a derrota para um governo continental com uma guerra civil entre as mãos. Escrito em cerca de seis semanas durante o ano de 1938, O Agente Secreto é uma brilhante antevisão dos dramas que iriam assolar a Europa e o mundo nos anos subsequentes.

Comentário:
Um dos maiores motivos do tremendo sucesso dos livros de Greene é o seu caráter premonitório e a atualidade dos temas que desenvolveu nos seus livros. Neste caso, O Agente secreto, é um livro escrito pouco antes do eclodir da segunda guerra mundial e nele Greene descreve um conflito armado na europa que viria a ser determinado, em grande parte pela posse e desenvolvimento das fontes de energia. Todos sabemos como a energia nuclear contribuiu para a afirmação das grandes potências mundiais que venceram a 2ª Guerra Mundial. No caso do livro de Greene trata-se do carvão; aquelas nações (só a Inglaterra é nomeada, como exportadora de carvão) dependiam dessa fonte de energia e o seu domínio podia significar a vitória na guerra. Da mesma forma que hoje quem tem petróleo tem poder, naquela altura o poder político dependia do poder económico. E a espionagem era a melhor forma de estender os tentáculos sobre as outras nações. Por outro lado, a extração do carvão não se podia fazer sem os mineiros; no entanto, eles são os que menos interessam. Não chegam sequer a ser peões no xadrez da política internacional.
Trata-se, portanto, de uma obra em que Greene demonstra toda a sua capacidade de análise e de reflexão sobre o mundo em que viveu, no caso deste livro no final desses terríveis anos trinta do século passado.
Tecnicamente talvez este seja um dos livros menos brilhantes de Greene. Não há nele o caráter reflexivo ou ambiente perturbador de Um Americano Tranquilo; não há a emoção e o ritmo narrativo de O Fim da Aventura; não há o humor desconcertante de O Cônsul Honorário ou do Nosso Agente em Havana. Mas há uma obra equilibrada, uma obra que tendo sido escrita em poucos dias demonstra a capacidade narrativa do seu autor e o aproposito com que aborda os grandes temas do século XX.

terça-feira, 10 de julho de 2012

O Nosso Agente em Havana - Graham Greene


Sinopse:
Um representante de uma pequena empresa inglesa de aspiradores, lojista quase arruinado, vive angustiado com os eternos motins de Cuba. Os negócios vão mal, muito mal e Milly, a sua bela filha, atormenta-o com os seus caprichos.
Então, sob a forma de Mr. Hawthorne, um enigmático cavalheiro que faz apelo ao seu sentido patriótico, explica-lhe coisas tão estranhas como o modo de usar um livro de cifra, ou tinta invisível, ou a utilidade das chaleiras elétricas para a abertura de cartas - a tentação surge. Pouco a pouco, como aliás explica Hawthorne aos seus superiores hierárquicos em Londres, a imaginação do pobre comerciante põe-se a trabalhar. E como, no nosso mundo, a realidade não é coisa que se enfrente, a imaginação assim estimulada virá a revelar-se mais verdadeira do que o próprio real…

Comentário:
Graham Greene é, definitivamente, um dos melhores contadores de estórias da literatura do século XX. Na verdade, este escritor católico inglês deixa-nos sempre sem fôlego perante uma escrita tão fluente e tão “limpa”, despojada de qualquer adorno desnecessário ou divagação estéril.
Esta escrita sintética, onde nada é inútil ou dispensável, nunca cai, no entanto, naquele laconismo da frase curta, estilo SMS que por vezes encontramos por aí. Greene consegue, a meu ver, o equilíbrio perfeito na economia da escrita.
Este romance é, em grande parte, uma espécie de paródia à euforia quase histérica da espionagem internacional nos tempos da guerra fria. No entanto aqui encontramos alguns estereótipos do humanismo literário, muito bem explorados:
O agente secreto que é personagem principal da estória, Mr. Wormold, não passa de uma caricatura do espião, um personagem ao mesmo tempo credível e risível, com um toque de ridículo. No entanto, é impossível não simpatizar com ele, que engana os ingleses sistematicamente inventando situações de espionagem que o deixariam visto como um espião genial.
A filha, Milly, é uma adolescente boémia, desmiolada, mas católica e até algo beata; trata-se de uma personagem excelente por causa deste contraste que Greene aproveita muito bem para deixar um certo traço de cinismo crítico.
Mas o aspeto que mais agrada neste livro é sem dúvida do sentido de humor, bem na linha daquela que é, a meu ver a sua obra prima (O Cônsul Honorário). Trata-se de um humor sarcástico, cínico e perfeitamente encaixado no período em que Greene escreveu: o início da guerra fria. Um exemplo bem expressivo: Wormold, para satisfazer os ingleses, desenhou as peças de motor de um aspirador, numa escala muito maior. Os ingleses adoraram o seu trabalho genial porque acreditaram tratar-se de terríveis máquinas de guerra russas instaladas pelos rebeldes apoiados pelos russos. Obviamente tudo se complicará quando os ingleses exigem fotografias…
Em suma, estamos perante uma obra leve, que faz rir e sorrir, num estilo fácil e desenvolto mas que não deixa de refletir um lado sério da questão: a guerra fria e o jogo por vezes ridículo da espionagem internacional que marcou uma época.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Fim da Aventura - Graham Greene

O grande William Faulkner escreveu sobre este romance: “Para mim é um dos mais verdadeiros e comovedores romances do meu tempo, em qualquer língua.”
Esta opinião, vinda de quem vem, convence qualquer leitor a devorar o livro. Posso dizer que o li numa noite: 264 páginas devoradas quase sem parar. É mágico, este livrinho. Greene tem uma capacidade enorme de agarrar o leitor, de utilizar todos os aspectos da narrativa para convencer o leitor a voltar só mais uma página, depois mais uma, e só mais outra, até ao fim da leitura.
A ideia inicial do livro é bem simples e peculiar: um homem, funcionário público (Henry) é casado com Sarah. Esta não o ama. Ama Maurice. Mas este é um amor impossível, mau grado os encontros escaldantes que têm, sob os bombardeamentos de Londres na Segunda Guerra Mundial. Um dia, Henry, sabendo que é traído (não sabe por quem) põe a hipótese de contratar um detective para vigiar Sarah. Confidencia esta intenção a Maurice, de quem se tornara amigo. Henry recua na intenção mas é Maurice quem avança com a contratação do detective. E aí temos: um marido e um amante unidos na procura de um terceiro rival.
Esta situação, que podia ser cómica, levar-nos-á a um caminho inesperado; a uma busca constante do sentido do amor, de quatro destinos marcados pela paixão. Mais ainda: a vida, aos poucos, desvendada de Sarah revela os grandes dilemas do ser humano: a natureza das paixões, os caminhos, por vezes absurdos, da felicidade e a natureza do sagrado a interferir constantemente nos destinos. Este, aliás é um dos aspectos mais perturbadores do romance: o sagrado e a forma como as nossas vidas são influenciadas por ele.
O final do livro é ao mesmo tempo perturbador e encantador. O leitor, estupefacto, conclui que Greene é um enorme contador de histórias mas, acima de tudo, tem uma capacidade imensa para deixar o leitor a pensar no sentido da vida. Depois de 5 ou 6 horas de leitura ininterrupta tem de haver ainda espaço na insónia para digerir as mensagens perturbadoras e encantadores que o livro nos deixa.
Não se trata de uma obra-prima; trata-se de um livro escrito de forma simples como a vida, mas que deixa uma marca de realidade, uma marca que o leitor identifica com a sua própria vivência.
Avaliação Pessoal: 9/10

segunda-feira, 6 de setembro de 2004

O Cônsul Honorário - Graham Greene

A relação com o pai mais uma vez na linha da frente, a condicionar a primeira fase do romance e a percorrer todo o enredo. "o pai continuava a seguir o filho por toda a vida - era o mestre-escola, depois o padre, o polícia, o guarda da prisão e, por fim, o próprio general" (pág. 130). Charley Fortnum era um bom homem. E, como quase todos os homens bons, era incompreendido e desprezado. Lugar comum? Talvez, mas real... terrivelmente real! Alcoólico, traído pela mulher, cônsul por piedade, raptado por engano... o enredo e o rosário da desgraça. De Edward Plarr todos diziam que, esses sim, era um bom homem. Na verdade, amigo de Fortnum, era o amante da sua mulher. Fortnum amava Clara. Plarr dormia com ela. Plarr era feliz. Fortnum escondia-se por detrás do álcool e da ilusão. Um romance feito de coisas simples, correntes, banais como a traição. E Deus... uma profunda reflexão sobre a religião. Uma obra simples e eficaz que se lê com aquela ânsia juvenil de chegar ao final. E Fortnum, afinal, ganhou o jogo porque sabia amar...