segunda-feira, 26 de junho de 2017

O Assalto - Daniel Silva


Comentário:
Quem disse que comercial é sinónimo de mau? Dostoievski ou o nosso Camilo escreveram para vender, para sobreviver. Daniel Silva não escreve para sobreviver mas escreve para vender o mais possível. No entanto, tem a sua qualidade. O livro absorve-nos a atenção, não permite distrações e, como tal, é só por si um magnífico passatempo. Tem todas as caraterísticas “boas” da escrita do género: linguagem simples e atrativa, pouca adjetivação, frases curtas, diálogos abundantes, capítulos pequenos, muita emoção no enredo. Tem também um bocadinho (só mesmo um bocadinho) do pior do género: o recurso a clichés. No entanto, este ponto e alguma previsibilidade do enredo são largamente compensadas por uma base pedagógica interessante.
Dessa base pedagógica há a salientar na primeira parte do livro uma interessante visita a Florença e outras cidades do renascimento italiano. Não há dúvida que Daniel Silva se preparou bem para escrever este livro, nomeadamente ao nível da pintura e da história da arte; fala-nos dos grandes pintores daquele período com grande à-vontade e num estilo sempre atrativo e dinâmico. Na segunda parte do livro o cenário muda radicalmente; chaga-se mesmo a um ponto em que parece que o foco inicial (o quadro desaparecido) deixa de estar em cena, tal é a facilidade com que o autor viaja para outras paragens, nomeadamente para o Médio Oriente. O presidente Sírio, nunca nomeado, é o alvo de toda a crítica e o autor aponta-o como líder de uma grande rede criminosa. No meio desta trama encontramos mais uma vez elementos pedagógicos interessantes e bem assentes no real conhecimento de causa.
Em suma, trata-se acima de tudo de um livro agradável, que não exige grande reflexão ou esforço de compreensão. Mesmo assim, salienta-se o aspeto pedagógico da obra. 

Sinopse: (IN WOOK.PT)

O lendário restaurador de arte e espião ocasional Gabriel Allon está em Veneza a restaurar um retábulo de Veronese quando recebe uma chamada urgente da polícia italiana. Julian Isherwood, o excêntrico negociante de arte londrino, deparou com o cenário de um homicídio brutal e agora é suspeito do crime. Para salvar o amigo, Gabriel tem não só de descobrir os verdadeiros assassinos, como também encontrar a mais famosa das obras de arte desaparecidas: a Natividade com São Francisco e São Lourenço, de Caravaggio.
A sua missão levará Allon de Paris e Londres aos submundos do crime em Marselha e na Córsega e, finalmente, a um pequeno banco privado na Áustria, onde um homem perigoso guarda a fortuna suja de um cruel ditador. Ao seu lado, o espião tem uma jovem corajosa que sobreviveu a um dos piores massacres do século XX e que tem agora a possibilidade de se vingar da dinastia que lhe destruiu a família.
Um livro elegante, sofisticado e de leitura compulsiva que deixará os fãs de Gabriel Allon cativados desde as primeiras páginas.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Um Dia na vida de Ivan Denisovich - Alexander Soljenítsin



Comentário:
“Solidão” é a palavra que ribomba na minha mente terminada esta leitura. Este livro de Soljenístin é uma espécie de evangelho da solidão. Ivan nunca está sozinho. No Gulag ( campo de trabalhos forçados) ele tem sempre os seus camaradas junto de si. Mas a proximidade física nada significa. Cada prisioneiro é uma ilha porque lhe cortaram a capacidade de sonhar, recordar e ter esperança. Tudo está morto na alma de Ivan; ele sabe que um dia a pena terminará (fora condenado a dez anos) mas não sabe se lá chegará; o que ele vê todos os dias é camaradas a tombar, exaustos, condenados em vida.
Por outro lado, as autoridades (o regime soviético do louco Estaline) assassinara o socialismo em nome do socialismo. A solidariedade era o âmago da teoria de Lenine, mas o truque usado pelo regime para obter a subjugação total dos seus súbditos é a morte da solidariedade; essa viria mais tarde a ser a arma quando Walesa fundou o “Solidariedade” em Gdansk. Mas o regime de Estaline sabia que era preciso cortar todos os laços entre os prisioneiros, como, se possível, entre todas as pessoas. Aqui, se um erra, todos são castigados. Este princípio não visa a criação de laços entre eles mas precisamente o contrário: que o verdadeiro culpado crie ódio entre eles. Assim, os próprios prisioneiros vigiam-se uns aos outros e são habituados à denúncia, obrigando-se mutuamente a obedecer.
Assim, a solidão significa ausência de liberdade mas também ausência de afeto; as relações sociais são fundadas sobre a competição, nem que seja por uma beata que não chega a ser deitada ao chão – é disputada arduamente por vários prisioneiros enquanto o privilegiado fuma o seu cigarro.
Este livro, publicado pela primeira vez em 1962, constituiu uma pedrada no charco da sociedade russa, justamente no período de alguma abertura proporcionada pelo presidente Nikita Khrushchov. Mais tarde Brejnev, seu sucessor viria a proibir o livro, obviamente. Esta obra fica na história essencialmente pelo facto de se basear na própria prisão do autor, crítico do regime no tempo de Estaline e também por ser uma espécie de ensaio para aquela que viria a ser a sua grande obra-prima, Arquipélago Gulag, publicado pela primeira vez em 1973.

Sinopse (in wook.pt):

Alexander Issaievich Soljenitsin nasceu em 1918, em Rostov, nas margens do Dom. O pai era "manga-de-alpaca", a mãe, professora primária.
Soljenitsin licencia-se em Matemática na Universidade de Rostov e pouco depois é chamado para o Exército Vermelho. Em 1942, com 24 anos, é promovido ao posto de capitão.
Em 1945 é preso sob acusação de ter feito comentários pejorativos acerca de Estaline. Os oito anos seguintes passa-os, nessa situação, em diversos campos de trabalho. O campo no qual Soljenitsin - e, com ele, o seu herói Ivan Denisovich Shukhov - cumpre grande parte da sua pena ficava na região de Caraganda, no Norte do Cazaquistão.
Em 1953, ano da morte de Estaline, Soljenitsin foi libertado. Contudo, só depois de passar mais três anos no exílio e de Kruchtchev ter denunciado a política de Estaline, é que o seu caso é revisto e a sentença anulada.
Em 1962, o nome de Soljenitsin apareceu pela primeira vez nas páginas duma revista literária russa - Novy Mir ("Novo Mundo") - narrando, com uma autenticidade que assentava na sua própria experiência de concentracionário, a história de um dia vivido por um simples carpinteiro de aldeia num dos campos de trabalho da Sibéria, no período de Estaline. Publicou seguidamente O Pavilhão dos Cancerosos e O Primeiro Círculo.
Banido da União dos Escritores Soviéticos, foi, no entanto, galardoado com o Prémio Nobel da Literatura de 1970, para o qual contribuiu em grande parte o excelente livro Um dia na Vida de Ivan Denisovich. Deste livro foi extraído um filme com o mesmo nome.