Comentário:
Moby Dick é um clássico da literatura mundial. Escrito e publicado em meados desse grande século que foi, para a literatura, o XIX, não obteve desde logo grande sucesso e a sua genialidade só viria a ser reconhecida no século XX.
Não é, reconheçamos, um livro capaz de agradar a todos os leitores; quem aprecia narrativas cheias de ação e de incerteza (vulgo suspense) não será certamente o livro ideal. Pelo contrário o livro deixará maravilhado aquele leitor que gosta de aprender algo e que aprecia uma leitura com um toque filosófico. Penso ser o meu caso e por isso “devorei” o livro; foram 830 páginas que sorvi com interesse e deleite.
Moby Dick não é uma baleia branca; é um cachalote branco com o tamanho magnífico de 90 pés (mais de 27 metros) e o livro, a propósito da caça movida a esse animal, leva ao autor a “ensinar-nos” tudo quanto no seu tempo se sabia sobre baleias e cachalotes. Assim, o livro é antes de mais extremamente pedagógico sobre estes animais mas também sobre a vida marinha, sobre a navegação à vela, sobre os hábitos e sobre a vida dos caçadores. Tudo isto é contado no discurso direto do personagem Ismael, um marinheiro de segunda ao serviço dessa personagem magnífica que é o capitão Ahab.
Para lá desse lado pedagógico há, evidentemente, a narrativa da viagem. E aí perpassa um profundo humanismo como ideia básica da filosofia de Melville – da tripulação fazem parte brancos, asiáticos, índios e negros, o que é curioso tratando-se de um conjunto de apenas vinte e poucos homens; e a relação entre estes diferentes personagens é perfeita na solidariedade, na amizade mesmo.
Mas a ideia fundamental do livro é esta: quão pequenos somos nós, humanos, perante a natureza; é a mesma ideia que o Antigo Testamento nos apresenta quando nos descreve o episódio de Jonas no ventre da baleia - a pequenez, a humildade que o ser humano deve ter sempre perante o natural e o sobrenatural. Aqui, Ahab, o capitão que persegue Moby Dick, não cai nos extremos de odiar nem de venerar o enorme animal; o seu sentimento é de respeito. E esse respeito leva a que a luta entre homem e animal tenha de ser igual. No final dá-se o confronto do qual, evidentemente não vou revelar o resultado; posso apenas dizer que é um final magnífico.
SINOPSE
Mas Ahab, quando se dirige à tripulação apelando para que o ajudem na sua demanda vingativa de caçar e matar a invencível Moby Dick, a branca baleia-leviatã, consegue reunir todos à sua volta, incluindo Starbuck, o relutante primeiro-oficial. Independentemente do grau da sua culpa (a escolha da tripulação era livre, ainda que apenas a recusa geral pudesse detê-lo), é melhor pensar no capitao do Pequod como num protagonista trágico, muito próximo de Macbeth e do Satanás de Milton. Na sua obsessão visionária, Ahab tem em si algo de quixotesco, apesar da sua dureza não ter nada em comum com o espírito de jogo do Quixote.
Mas Ahab, quando se dirige à tripulação apelando para que o ajudem na sua demanda vingativa de caçar e matar a invencível Moby Dick, a branca baleia-leviatã, consegue reunir todos à sua volta, incluindo Starbuck, o relutante primeiro-oficial. Independentemente do grau da sua culpa (a escolha da tripulação era livre, ainda que apenas a recusa geral pudesse detê-lo), é melhor pensar no capitao do Pequod como num protagonista trágico, muito próximo de Macbeth e do Satanás de Milton. Na sua obsessão visionária, Ahab tem em si algo de quixotesco, apesar da sua dureza não ter nada em comum com o espírito de jogo do Quixote.