quinta-feira, 30 de junho de 2011

Enciclopédia da Estória Universal - Afonso Cruz

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Enciclopédia da Estória Universal é um livro que alguns, mais distraídos ou levianos poderão considerar humorístico. Nada disso. Trata-se de uma obra de profundo alcance filosófico.
Seguem-se alguns exemplos de assuntos muito sérios:
Por exemplo, no domínio da exegese de um conto infantil e respectivas interpretações: a tese segundo a qual o beijo num sapo envolve uma prática condenada pela Inquisição; tal beijo permite o contacto com uma substância alucinogéna presente na pele do anfíbio que, inclusivamente, pode fazer alguém “ver” um príncipe. Segue-se a respectiva refutação, segunda a qual o sapo representa o demónio. No conto infantil, trata-se de um demónio carente; ele só precisa de amor; de um terno beijo…
No domínio sempre delicado e escorregadio da Teologia, analisa-se a hipótese, já debatida e testemunhada pela historiografia, de substituir o cálice de vinho da missa por uma caneca de cerveja. Uma simples caneca de cerveja poderia substituir o vinho com evidentes vantagens, porque substituiria também o pão, o que é cientificamente correcto uma vez que é feita de cereal; é uma espécie de pão líquido. Mas o valor transcendental da cerveja advém de nascer de um cereal que apodrece, fermentando. Assim, a cerveja é a vida que nasce da morte!
No domínio, sempre tão polémico quanto actual da análise sociológica, abre-se a polémica entre dois grandes pensadores: Umit Arslan, que era muito alto, defendia que “o que está em cima é como o que está em baixo”, enquanto Ari Caldeira, pelo contrário, afirma: “O que está em cima é sempre o rico e o que está em baixo é sempre o pobre.”
Mas não se pense que este livro é apenas feito de debates e polémicas existenciais. Não! Há também sabedoria para a vida. Pode mesmo ser um livro de auto ajuda tanto para o filósofo deprimido como para o afinador de pianos esquizo. Senão atente-se nesta máxima: “Para o homem branco, Deus existe mais aos domingos”. Ou esta outra: “Um homem infinito é aquele que não tem a parte de fora. Da mesma forma que uma bebedeira infinita não provoca ressaca.”
Seria obviamente exagerado e ridículo se eu dissesse que este livro é o primeiro passo para a criação de uma nova cosmogonia. Digo apenas que este livro é o primeiro passo para a construção de uma nova cosmogonia.
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Woody Allen ressuscitado antes de morrer seria um óptimo subtítulo para este tratado.
Avaliação Pessoal: 9/10

terça-feira, 28 de junho de 2011

O Segredo de Afonso III - Maria Antonieta Costa

Adquiri este livro porque nutro uma especial curiosidade por este período da História de Portugal, a baixa Idade Média, com todos os seus mistérios e equívocos, tanto historiográficos como, principalmente, do foro do senso comum. E também por este rei, que foi o último a derrotar os muçulmanos no território que hoje é Portugal.
Por outro lado, a minha curiosidade foi espicaçada pela recente leitura do D. Dinis, da Cristina Torrão. Inevitavelmente, esta leitura foi condicionada pela comparação com o livro sobre o rei Lavrador, a quem eu prefiro chamar Poeta. E esse condicionalismo é ingrato para a Maria Antonieta Costa porque é muito difícil fazer um romance histórico com melhor qualidade literária. No entanto, cedo reparei que este livro é bem diferente.
A autora encaixa na obra duas estórias que se intercalam: o “romance histórico” propriamente dito e a estória da investigação dos pseudo-factos do romance.
Quanto ao primeiro enredo, narra-se a aventura de uma bela moura que terá sido barregã (amante) do Rei Afonso III. Este teria, na hora da morte (que ocorre no início do livro) revelado um segredo, sintetizado numa única palavra. Mas a bela moura de nome Madragana ver-se-á envolvida numa trama terrível de conspirações na corte, até que seja consumado um trágico destino.
O segundo enredo passa-se no Vaticano, onde Eunice Bacelar, a investigadora, segue as pistas de Madragana, dos cortesãos e físicos do mundo místico e mágico do tempo de Afonso III. Num  tom “Dan Browniano” que já se tornou moda, a autora conduz-nos através dos caminhos tenebrosos de uma investigação pejada de surpresas, amores e ódios perante o cenário da Cidade Eterna, até que tudo se deslinde na mística serra de Sintra.
Pessoalmente não me encanta esta sobreposição das duas estórias. O leitor deambula entre os dois tempos e o ritmo narrativo, a meu ver, é prejudicado. Mas isto, obviamente, é uma posição subjectiva…
O que realmente me parece muito positivo neste livro é o esforço da autora por clarificar a distinção entre os factos históricos e a ficção. Sobressai uma visão muito lúcida da abordagem do conhecimento pelo homem medieval: todo um esforço por passar da superstição à ciência, utilizando vias intermédias como a numerologia e os símbolos. O conhecimento científico confunde-se com a superstição e a alquimia parece ser a síntese entre os dois níveis. Os princípios alquímicos demonstram conhecimentos notáveis para a época, ao nível da química e das ciências naturais mas são utilizados com objectivos algo fantasiosos, como a busca da panaceia universal, do elixir da vida, da pedra filosofal (que transformaria qualquer matéria em ouro) ou então, num plano mais concreto, a procura da arma de destruição total que, nos nossos dias, corresponderia à anti-matéria.
No entanto, este tipo de conhecimento só faz sentido num contexto muito hermético e poucos “sábios” tinham acesso a estas artes. Daí que o próprio conhecimento se identifique com o poder, dando azo a toda a espécie de maquinações, intrigas e conspirações palacianas.
Voltando ao início: parece-me que esta segunda estória, de cariz histórico, se revela bem mais eficaz, emocionante e rica em conteúdo do que a saga da investigadora. Por outro lado, é nítido que é no terreno do romance histórico que a autora se sente mais à vontade e se torna de facto, original, usando a sua criatividade sem necessitar de um estilo que está cada vez mais gasto, como acontece na aventura de Eunice.
Espero portanto de Maria Antonieta Costa um verdadeiro romance histórico que ela aqui dá provas de poder concretizar.
Avaliação Pessoal: 7.5/10

domingo, 26 de junho de 2011

No Coração Desta Terra - J. M. Coetzee

“Será que, afinal, eu não sou prisioneira da casa solitária e do deserto de pedra mas sim deste meu monólogo empedernido?” Magda é uma mulher só. Todo o livro é o seu monólogo da solidão. O pai casou com uma mulher jovem; a mãe morrera quando ela era criança. Hendrik, o criado que há-de ser também um dos seus algozes, casou com uma mulher jovem, talvez ainda criança, que comprara ao pai por 5 notas e 5 cabras.
Neste livro pode sentir-se todo o desencanto de Coetzee para com o seu próprio país; todos, tanto os descendentes de colonos como os negros, dependem da terra, mas o trabalho e a vida são sempre solitários.
A escrita de Coetzee é de uma força brutal. A narradora, Magda, conta-nos os seus pensamentos de uma forma muito dura, violenta mesmo. Ela odeia-se, odeia tudo, odeia todos. É uma mulher feia e abandonada. Sonha matar o pai e a madrasta com requintes de malvadez; talvez seja o ódio que a faz viver.
Só a jovem mulher de Hendrik, Anna, trata a protagonista pelo nome. Afinal de contas, as mulheres são companheiras na desgraça. É também por Anna que Magda sente alguma ternura; o único resquício de amor que sentirá em toda a vida.
O sexo surge na narrativa como uma arma de submissão ao poder masculino; nada mais do que submissão e poder. Lágrimas e sofrimento. “Será que isto faz de mim uma mulher?”, pergunta Magda depois de ser violada.
Este livro foi escrito em 1977. Há 34 anos. No entanto, demonstra a mesma qualidade literária do seu livro mais recente: Verão. Este é um dos aspectos que define um escritor genial: ele não precisa de experiência para atingir a genialidade.
E já neste seu primeiro sucesso literário estão patentes os traços fundamentais da sua obra: a solidão, a pobreza e o desencanto pelos dramas humanos do seu país, a África do Sul.
Avaliação Pessoal : 9/10

sábado, 25 de junho de 2011

Lendo No Coração Desta Terra, de JM Coetzee


Eis um livro poderoso. Que personagens fortíssimas! Ao longo da leitura, que levo a meio, as personagens fazem-me lembrar O Monte dos Vendavais, pricipalmente a protagonista, uma mulher no meio do deserto sul-africano, vítima de um pai abslutamente tirano. Aí ela vai construindo a suas desesperança e a sua loucura. Uma mulher que é raiva e ódio.
A melancolia, o desencanto, fazem lembrar, ao nível do estilo, o nosso António Lobo Antunes. Coettzee é, definitivamente, um escritor do sofrimento. E este é um dos seus primeiros livros (1977). Portanto estamos perante um escritor que, em mais de 30 anos de carreira manteve este tom melancólico que ainda há poucos meses conferi no seu último êxito, Verão.
Mas não é só a melancolia e a descrença que se mantêm ao longo destes trinta e tal anos: é uma imensa qualidade literária. A escrita de Coetzee exibe uma raríssima beleza, sem recorrer a artificialismo, mantendo-se límpida e acessível.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A Boda do Poeta - Antonio Skarmeta

Este livro narra a história de uma ilha imaginária (penso eu) do mar Adriático (e não do mar Tirreno como por lapso escrevi no post anterior), portanto, entre a Itália e a Península Balcânica. Trata-se da ilha de Gema. O enredo decorre no início do século XX, época em que se iniciam os grandes dramas que os povos balcânicos irão viver, ao logo de todo o século XX.
Não podemos esquecer que Skarmeta é filho de croatas e, portanto, trata-se de um assunto que terá, para o autor, o seu cunho pessoal.
Gema é uma terra pobre, vítima de desgraças naturais que destruíram a sua agricultura. A sua população e escassa e pobre. No entanto, é um povo cioso da sua autonomia e vê com receio as ameaças do Império Austro-Hungaro, terrivelmente agressivo, em vésperas da primeira guerra mundial.
Ao longo do livro vai-se desencadeando uma trama em torno da resistência a opor aos austríacos, ao mesmo tempo que os personagens desfilam, todos eles, em torno do casamento do comerciante austríaco há muito aí estabelecido com a donzela mais bonita e cobiçada da Ilha.
Trata-se de um romance divertido. De leitura muito agradável, cheio de peripécias embrulhadas num humor fino e constante, um humor algo fantástico, típico da literatura sul-americana. A sátira e a caricatura estão por todo o lado, abordando temas sempre controversos como a corrupção e o “novo-riquismo” em face da pobreza, a coragem na luta pela autodeterminação da ilha, em confronto com um Império que despreza totalmente a vida humana. Por último, a emigração para a América do Sul como uma esperança que tem tanto de radioso como de falso; aqui entra a ironia de Skarmeta na forma como este povo humilde encarna esta esperança, sem saber das misérias que o espera, também, neste destino. Skarmeta é um escritor algo desiludido com o seu país, o Chile. Daí esta ironia de fazer os seus personagens sonhar com um Chile que seria uma espécie de terra prometida.
Este livro não tem a dimensão poética de O Carteiro de Pablo Neruda, obra-prima de Skarmeta, mas não deixa de ser um excelente exemplar da literatura sul-americano. Um livro que se lê de forma muito agradável, mau grado algumas confusões provocadas por uma tradução que me pareceu bastante sofrível: frases confusas, sem nexo, surpreendem-nos quando menos se espera. Mas é, sem dúvida, um livro a ler.
Avaliação Pessoal: 8/10

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Lendo A Boda do Poeta, de António Skarmeta

De António Skarmeta só tinha lido essa maravilhosa história que é o Carteiro de Pablo Neruda, que deu origem a um belíssimo filme com Phillipe Noiret.
Quanto a esta obra, a receita é simples: aliás, de um escritor chileno descendente de croatas só poderia resultar algo como isto: a história de um povo pobre e à procura de identidade, algures na costa do mar Tirreno, uma história angustiada e melancólica, à mistura com um estilo tipicamente sul-americano; um estilo leve e a roçar o fantástico, cheio de humor, mesmo entre a desgraça.
Um livro que promete.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Maigret e a Mulher Desaparecida - Georges Simenon

Às vezes é bom regressar à adolescência. Estes eram os meus livros dos 15, 16 anos: a Colecção Vampiro dos Livros do Brasil, comprados em segunda ou terceira mão no “velhote” da Arcada, no centro de Braga, que tinha uma arca metálica verde-escura cheia destas preciosidades a preços de saldo.
Enquanto a malandragem lia “livros de cow-boys”, as meninas liam a Bianca e os “betos” liam o Jornal das Letras, eu lia disto! Era uma verdadeiro drama quando acabava o livrinho sem ter outro para ler a seguir.
Um dos meus exemplares que sobrou desses saudosos anos 80 foi este Maigret.
Reler Simenon foi um verdadeiro regresso ao passado e, receio, um regresso ao viciozinho dos policiais.
O que tem de encantador este tipo de livros é a habilidade extraordinária destes escritores par criar sempre um final absolutamente imprevisível: a gente imagina que o criminoso é o sempre suspeito mordomo, depois convence-se que é a esposa infiel, mais tarde desconfia do amigo traiçoeiro da vítima para no final descobrir que afinal o assassino era aquele tipo discreto e às vezes boa pessoa com quem até simpatizávamos.
Mas há algo ainda mais interessante: é que o leitor fica sempre com a sensação de que a resposta ao enigma estava ali mesmo à mão, bem visível e a gente nem reparou. Um bom escritor de policiais deixa boas pistas ao leitor e nem mesmo assim ele desvenda o mistério antes do final apoteótico em que o inspector explica a trama toda. Mau escritor é aquele que resolve o mistério com um passe de mágica, apontando o assassino sem ter dado qualquer pista ao leitor. Mas não é o caso de Simenon. Longe disso. Este é um mestre. Lembro-me de um outro livro dele, que não vinha na Vampiro mas que foi publicado pelo jornal Público na célebre colecção Mil Folhas. Chama-se O Homem que Via Passar os Comboios e hei-de relê-lo em breve. Esse sim, é uma obra-prima do género. Este Mistério da Mulher Desaparecida é um policial típico. Não tem nada de extraordinário mas não deixa de ser pura diversão.
Aconselhável para levar para a praia!
Avaliação pessoal: 8/10

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ratos e Homens - John Steinbeck

Numa obra muito menos ambiciosa do que a obra-prima “As Vinhas da Ira”, John Steinbeck conta-nos a história de George e Lennie, dois homens que percorrem as grandes propriedades agrícolas à procura de cumprir um sonho: juntar dinheiro para um pequeno pedaço de terra onde possam criar coelhos. Ou melhor, onde possam ser livres e trabalhar para eles próprios. George é inteligente e corajoso. Lennie é forte como um touro mas é, na perspectiva do comum dos mortais, um idiota.
Mas a extrema sensibilidade de Steinbeck mostra-nos um Lennie profundamente sensível, uma espécie de criança grande, sujeita a todas as ameaças que a sociedade expõe às almas simples. Esta alma simples, no entanto, é vítima da sua força bruta. O que prevalecerá? O seu coração de criança ou a sua força ameaçadora para aqueles que existem para dominar os outros?
Lennie, na sua inocência, é uma criança. Mas para os poderosos ele é uma ameaça. Um alvo a abater pela sociedade.
À volta de George, outros sonhadores surgem. Mas todos eles encontrarão o desencanto da realidade. Não obstante, como diz o poeta, a primavera é inexorável.
O sonho de George, também ele, será espezinhado. Não morrerá porque ser eterno é apanágio dos sonhos. Fica o sofrimento: a vida dos que percorrem o mundo à procura de uma sobrevivência que só pode ser adornada pelo sonho; a vida de quem só nos sonhos pode ser livre.
Tal como As Vinhas da Ira, este é um livro sobre os limites do sofrimento humano mas também sobre os sonhos que, esses, não conhecem limites. Mas é também uma crónica sombria da maldade e do egoísmo humano; a crónica de um caminho a que alguns chamam “espírito capitalista”. E a que outros chamam exploração do homem pelo homem. Infelizmente, esta é uma mensagem actual.
É um livro pequenino, que se lê com prazer mau grado o sofrimento que nos invade a alma.

Avaliação pessoal: 8/10

sábado, 18 de junho de 2011

Lendo Ratos e Homens, de John Steinbeck

Comecei hoje a ler este livro. Nada de surpreendente: mais uma exelente obra do autor de A Leste do Paraíso e Vinhas da Ira.
Lembro-me de ter lido As Vinhas da Ira há uns anos e ter ficado com a sensação de que estava perante uma das maiores obras da história da literatura. Quanto ao filme, já o vi várias vezes.
Este Ratos e Homens não tem o mesmo fôlego porque não é um romance. Digamos que é um conto em tamanho grande: uma estória de dois homens abandonados à sua sorte no mundo rural dos EUA, algures na primeira parte do século XX. Portanto, está escrito na mesma linha de As Vinhas da Ira, um estilo que tanto influenciou a literatura do século XX em vários países, nomeadamente em Portugal com o neo-realismo de Aquilino Ribeiro, Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, Carlos de Oliveira, etc.
Opinião completa amanhã.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O Alibi Perfeito - Patrícia Highsmith

Nesta edição da revista Visão, já publicada há uns 8 anos, O Álibi Perfeito é o primeiro de cinco pequenos contos, muito compactos. Ou seja, numa escrita económica onde Patrícia Highsmith não desperdiça palavras; não há descrições inúteis nem esse vício que alguns escritores do género parecem cultivar que é “desviar” o leitor para pistas falsas. Aqui tudo converge para um final de enredo que o leitor não adivinha porque a arte do escritor policial consiste precisamente na sua capacidade de surpreender o leitor. Também neste aspecto, esta escritora é genial.
Nestes cinco contos há alguns aspectos que convém realçar: quase sempre (em 4 dos 5 contos), o crime não compensa. O cérebro humano é capaz de engendrar estratégias incríveis para atingir os seus objectivos; as pessoas, quando dominadas por determinados sentimentos, são capazes de pôr em prática toda a maldade possível e imaginável. No entanto, por mais forte que seja a inteligência humana, há uma espécie de destino com a qual ela se confronta. Fatalidades que acabam por fazer com que o crime não compense.
O último conto, "Maquinações" é um delicioso exemplo de humor negro; uma estória hilariante de um casal em que ambos tentam assassinar o outro, até que tudo acabe de uma forma absolutamente irónica e surpreendente.
Outro aspecto interessante é este: em 5 contos há 4 triângulos amorosos e 6 assassínios. Quer dizer, o amor e a morte lado a lado. De braço dado. De facto, que outra razão mais forte pode haver para matar e morrer?
Enfim, um livro simples que é um verdadeiro exemplo do melhor que há na literatura policial. Um livro que se lê de um fôlego, com aquele suspense que não nos deixa abandonar o livro antes de o terminarmos.
Avaliação pessoal: 8/10

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Lendo O Álibi Perfeito, de Patrícia Highsmith

Patrícia Highsmith é um dos nomes mais brilhantes da escrita policial no século XX.
Pessoalmente, tenho neste género uma paixão antiga, que vem dos tempos da velhinha colecção Vampiro (Rex Stout, Stanley Gardner, Van Dine, Agatha Christie, Ellery Queen, etc.). Tempos em que li tudo quanto havia para ler de policiais! Era capaz de passar um ano só lendo policiais!
Foi ler até enjoar :)
Agora, muitos anos depois, voltei aos clássicos dos livros de bolso policiais e decidi recomeçar com este livrinho de contos, desta famosa escritora.
A meio da leitura sou capaz de dizer que estou encantado com este regresso ao passado. Isto lê-se como quem vê um filme :)
Imagem daqui.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os Dois Irmãos - Germano Almeida

A precariedade da justiça em Cabo Verde é, aparentemente, o tema central desta obra de Germano Almeida. Mas é algo mais que isso. Muito mais que isso, aliás:
André regressa a Cabo Verde, depois de três anos a trabalhar em Portugal. Aí conheceu outra mulher mas era Maria Joana, sua esposa, quem ele esperava encontrar à sua espera. No entanto, o que encontrou foi um pai e uma mãe envergonhados. O pai encontrara Joana “enrolada” com o irmão de André, João, no palheiro. A vergonha do pai resulta do “crime” de João, mas também de uma vingança ainda não consumada. Inicialmente, André parece aceitar a verdade e até restabelece boas relações com João; no entanto, a força da tradição, a honra que o povoado e até o próprio pai exigem lavada em sangue, levarão André, três semanas depois, a cometer o crime: mata João à facada. Será condenado pela justiça, como sabemos logo na primeira página do livro.
No entanto, a riqueza do enredo não está no mistério; está na leitura precisa do pensar e do sentir daquele povo, em confronto com uma justiça que mais parece uma réstia de colonialismo do que qualquer repositório ético ou legal.
Sem a vingança, André nunca seria aceite no povoado. Mesmo sendo ele o traído, a vítima, ele seria sempre visto como o cobarde que não lavou a honra. Esta pressão leva o autor a questionar o verdadeiro sentido da justiça: até que ponto é justo condenar um homem quando os seus actos são determinados, ou pelo menos condicionados, pelo meio sócio-cultural? Poderia o próprio fratricídio ser encarado como um crime horrendo quando é o próprio povo que o incentivou?
Enfim, um livro de leitura rápida, muito agradável, com um conteúdo cheio de fortes implicações éticas e que levanta questões muito profundas no que respeita à ética da justiça e às consequências do confronto de culturas. Para mim, que não tinha lido nada deste escritor, foi uma agradável surpresa. Um livro cheio de leveza mas também de uma incrível sensibilidade e humanidade. Não descansarei enquanto não ler algo mais de Germano Almeida.
Quando deixará a literatura africana de me surpreender?
Avaliação Pessoal: 9/10

terça-feira, 14 de junho de 2011

Lendo Germano Almeida - Os Dois Irmãos

Os Dois Irmãos, escrito em 1995 é um romance muito peculiar, escrito num estilo muito próprio, deste escritor cabo-verdiano nascido em 1945 e cuja obra mais conhecida é, talvez, o Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo.
Uma escrita algo diferente, original e uma história cheia de mistério mas também de significado. Um homem volta de Portugal onde é emigrante. À sua espera está uma notícia terrível: o envolvimento de sua esposa com o seu irmão. O final da história é anunciado logo na primeira página: André matará seu irmão João e será condenado. Desta forma surpreendente, Germano Almeida prescinde, logo ali, do mistério. Mas fá-lo conscientemente; o escritor sabe que o valor deste livro está muito para lá do mistério; e outros mistérios se escondem por detrás da verdade aparente.
Um livro interessantíssimo.
Opinião completa amanhã.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Mãe - Máximo Gorki

Gorki é o escritor russo que melhor faz a transição entre a monumental literatura russa de finais do século XIX e a literatura ideológica desse país no século XX.
"A Mãe" é uma história revolucionária em todos os sentidos. Talvez nunca o espírito revolucionário tenha sido expresso de uma forma tão pungente, sincera e romântica. Diria mesmo, de uma forma tão ingénua, em todo o bom sentido que este adjectivo pode ter.
Escrito e publicado em 1907, este romance descreve em pormenor a desgraça, a tristeza e a miséria em que vivia o povo russo no tempo do czar Nicolau II. É entre essa miséria que emerge um grito lancinante de revolta, o grito profundo das almas feridas que arrancará a esperança das profundezas da injustiça.
Um grupo de jovens operários desperta para as ideias bolcheviques e encara-as como a solução para pôr fim à miséria e à injustiça de que eram vítimas os operários e camponeses russos. Mas essa revolta que se sonha é encarada como um movimento universal, capaz de libertar todos os injustiçados do mundo. É nesse sentido que se trata de uma mensagem ingénua. Essa mensagem não encerra em si qualquer ambição de poder. Pelo contrário, o que se pretende é acabar com o poder como forma de opressão.
Pavel é o mais brilhante desses jovens. Mas por trás dele, ou melhor, ao lado dele emerge a força imensa de uma mulher: a sua mãe, Pelágia. Sinceramente não faço a mínima ideia de Gorki conhecia a história da Península Ibérica mas o certo é que este nome é semelhante àquele que é considerado um dos maiores guerreiros da história ibérica: Pelágio, primeiro rei das Astúrias, herói da resistência e guerra aos Muçulmanos na Reconquista Cristã. Seja como for, Pelágia é a grande guerreira, que sofre em silêncio todas as vicissitudes de uma mulher pobre na Rússia czarista: vítima da miséria mas também de um marido bêbado e violento. Até que ele morre e Pelágia passa a seguir o caminho do filho na senda da revolução.
Pelágia sente-se a mãe de todos os revolucionários; a mãe da revolução. Neste aspecto, Gorki estabelece um curioso paralelismo entre o amor maternal e uma espécie de amor universal que comanda a mente e a acção destes revolucionários; uma espécie de “amor ao próximo”, ao fim e ao cabo. Aliás é bem clara a proximidade entre este comunismo nascente e o verdadeiro espírito do cristianismo.
Esta pureza do ideal revolucionário fica bem clara nesta ideia: não devemos derramar sangue dos inimigos porque ele envenenará a terra; o nosso sangue, pelo contrário, quando derramado, purificá-la-á. No entanto a luta irá, mais tarde ou mais cedo desencadear a violência, quando o ódio vencer. E ele vencera mais tarde… dez anos após a publicação desta obra Lenine liderará, finalmente, a Revolução. E mais tarde Estaline encarregar-se-á de a manchar com todos os crimes.
Avaliação Pessoal: 9/10

sábado, 11 de junho de 2011

C - Tom McCarthy

Serge é um jovem entusiasmado pelas comunicações, na Inglaterra do inicio do século XX. Estávamos num dos períodos de maior progresso técnico de toda a história europeia; por todo o lado viviam-se as consequências da segunda revolução industrial, marcada por duas novas e poderosas fontes de energia: o petróleo e a electricidade.
Neste contexto, a Inglaterra afirma-se, em definitivo, como a nação mais poderosa do mundo. No entanto, começam a soprar os ventos de guerra, que tornam as comunicações (essencialmente telégrafo e rádio) um alvo preferencial dos investimentos e do encanto dos curiosos, como era o caso do pai de Serge. É nesse ambiente que Serge e a irmã descobrem um mundo de inovação, de encantamento perante o futuro. Se bem que a guerra se aproximava, vivia-se num mundo de optimismo em que a ciência e a técnica prometiam a felicidade suprema. Era a chamada Belle Epoque.
Trata-se de uma obra em que se distinguem com clareza três partes bem definidas. No primeiro capítulo, a meninice e primeira juventude de Serge Carrefax, o autor presenteia-nos com um extraordinário sentido de humor em torno das diabruras das crianças (Serge e sua irmã). Serge e Sophie brincavam com o fogo. Literalmente. Para nós, pais do século XXI é inconcebível imaginar crianças de 10 anos que faziam experiencias a partir de um livro chamado “Ciência a brincar” que ensinava a fabricar pólvora. O pai de Serge é responsável por uma escola de surdos-mudos e na festa anual dos alunos, Sophie usa explosivos para criar os “efeitos especiais” que acompanham a representação teatral. Até que um dia a tragédia acontece. Inevitavelmente. No entanto, a tragédia da morte de uma criança é encarada com uma naturalidade que a nós, um século depois, nos arrepia. Sophie, uma inteligência rara, daquelas que fazem mover o mundo, uma personagem magnífica, morrerá vítima da ciência. A ciência que dá e leva a vida das pessoas.
Serge vai crescendo e apaixona-se pelas comunicações de rádio. O autor apresenta-nos estas experiências com um notável sentido de humor. O ser humano tem uma autêntica compulsão pela comunicação. No entanto, o que distingue Serge é o facto de ele ser um dos pioneiros. É a homens como ele que devemos a aldeia global em que o mundo se transformou; o lado bom do nosso mundo, aliás. Às vezes parece que a história do mundo (e da nossa vida) é um longo combate contra a solidão. Serge procura algo nas transmissões de rádio; talvez algo que o ligue ao mundo após a perda da irmã.
Aproxima-se a guerra. Serge é internado numa clínica onde encontrará a cura mas também o amor. O amor nas vésperas da guerra. Na clínica há pessoas doentes de vários países da Europa: as pessoas como os países: doentes.
Depois Serge irá para a geurra; o livro evolui para um lado sombrio do qual já não sairá. Um dos grandes desencantos desta obra é precisamente este: a partir de certa altura o contexto político impõe ao desenrolar dos acontecimentos um tom cinzento que torna a leitura menos agradável sem que a riqueza do livro fique a ganhar com tal derivação. Serge alista-se na força aérea. A tecnologia entra ao serviço da guerra; o contacto com a morte torna-se vulgar. Serge caminha agora por caminhos obscuros, já não a fugir da solidão mas da morte; a droga entre a coragem e a loucura; caminhos tenebrosos… a guerra foi um motor de progresso, mas à custa de muito sangue…
Na parte final do livro, Serge C (C de Carrefax mas também do Carbono, o elemento mais essencial da vida) trabalho no Egipto, nos confins do Império Britânico. Aliás, no Egipto onde morrerá o Império. E Serge. Sem honra nem glória.
É por isso que este livro é uma homenagem aos heróis anónimos que construíram o nosso mundo. Um livro encantador, que perde muito do ritmo narrativo na parte final mas que não deixa de ser uma obra notável, aliás que só foi superada pelo magnífico “A Questão Finkler” na conquista do Man Booker Prize 2010.
Avaliação Pessoal - 8.5/10

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O Último Voo do Flamingo - Mia Couto

Publicado em 2000, este é um dos primeiros grandes êxitos de Mia Couto, que iniciara a sua carreira literária com Terra Sonâmbula (1992).
Na minha opinião este livro ainda não exprime todo o génio que Mia Couto revelou naquela que eu considero uma verdadeira obra de génio: Jesusalém.
Mesmo assim, estão aqui todos os ingredientes deste que é, a meu ver, um dos mais brilhantes escritores contemporâneos de língua portuguesa: uma finíssima ironia, uma escrita que faz sorrir e sonhar e uma forma originalíssima de brincar com a língua portuguesa criando pérolas como esta: perante o aparecimento misterioso de um pénis nos ramos de uma árvore, resultado da misteriosa explosão de um soldado dos capacetes azuis da ONU, mandaram chamar Ana, a prostituta mais famosa da terra, para que ela tentasse reconhecer o órgão: “essa Ana era uma mulher às mil imperfeições, artista de invariedades, mulher bastante descapotável. Quem, senão ela, poderia dar um parecer abalizado sobre a identidade do órgão? Ou não era ela perita em medicina ilegal?”
Este tom mantêm-se por todo o livro: jogos de palavras, trocadilhos, como quem brinca com a escrita.
O que é certo é que, em comparação com outros livros de Mia Couto, há neste um certo tom nostálgico e mesmo negro, um certo pessimismo perante por destinos seguidos por esse país tão martirizado que é Moçambique.
Os capacetes azuis da Onu explodem misteriosamente; é a vingança da terra perante as armas dos homens. Eles não trazem a paz; eles testemunham a guerra, impassíveis, pouco interessados na terra e sem a compreender; é que o povo e a terra são um e único corpo. Mas isso ninguém compreende. Todos os estrangeiros (os de fora e os de dentro) querem extrair da terra o dinheiro que lhes saciará os vícios. Assim, todo o livro é um testemunho da vingança da terra perante o colonialismo. Nessa altura, em teoria geo-política, Moçambique era um país independente. Mas não o era na realidade: os colonialistas continuavam a sugar a terra em seu proveito: colonialistas externos representados por todos os estrangeiros que a exploravam e os “colonialistas internos”, ou seja, os moçambicanos oportunistas, poderosos, que desprezam a terra por que só a encaram como fonte de lucro e poder.
Com todo este oportunismo, este desprezo pela terra dos antepassados que a fizeram, a esperança vai morrendo: o flamingo, mensageiro das boas-novas, voa cada vez menos. E um dia voará pela última vez... 
Embora algo negro, o final é belíssimo: a “terra” engole a terra… só lendo mesmo é que se compreende. Portanto, não tenho dúvidas em afirmar que se há livros de leitura obrigatória para compreender a literatura africana de língua portuguesa, este é um deles.
Avaliação Pessoal: 9/10
Imagem daqui.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Lendo Mia Couto - O último voo do flamingo

Em dias como estes, de intenso trabalho, nada como os escritores africanos, com a sua poesia prosada, como diria Mia Couto, para nos ajudar a relaxar, com esta escrita feita de terra, verdade e poesia.
Depois de ler Agualusa decidi-me por este que é considerado o primeiro êxito de Mia Couto.
Na verdade, é um livro onde a escrita deste formidável poeta da prosa se encontra ainda num certo "estado bruto", anunciando já o génio mas ainda sem a leveza de, por exemplo, Jesusalém, que considero a sua obra-prima.
Seja como for, é um livro cheio de beleza, de humor e de significado.
Opinião completa amanhã.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O Lugar do Morto - José Eduardo Agualusa

Não é fácil emitir a minha opinião sobre este livro. Agualusa confundiu-me um pouco. Por um lado, a ideia é genial: colocar escritores falecidos a falar dos problemas do mundo actual. Por outro lado, isto foge completamente aquilo que Agualusa nos habituou a fazer: uma maravilhosa, fantástica e poética ficção. Por isso estranhei o livro. Fiquei com a sensação que o tema era tão abrangente que constituía um verdadeiro filão para que se conseguisse algo de mais interessante.
É preciso não esquecer que se trata de uma colectânea de textos publicados numa revista. Só o formato já é bastante limitativo: textos demasiado curtos que impedem uma explanação coerente das ideias.
Mas não deixa de haver momentos excelentes neste livro. Alguns exemplos:
Eça de Queirós acha que nós, os portugueses, até ao errar somos pequenos: erramos em ponto pequeno. No passado, pelo contrário, errávamos em grande; Cabral queria ir para a Índia, errou e descobriu o Brasil. Em África recorremos à escravatura; um erro que deu origem à gloriosa colonização do Brasil. Eu acrescentaria que só nos faltou um erro: se D. Afonso Henriques tivesse errado seriamos hoje um povo bem mais feliz. Mas adiante.
Na voz do grande filósofo que foi Bertrand Russell, Agualusa dá-nos uma leitura curiosa do ateísmo: “a haver um Deus – terá de ser ateu”. Ou seja: se Deus nunca se revelou inequivocamente é porque não quer. Quer ser discreto; quer ser anónimo. Então, ao manifestarmos abertamente a crença em Deus estamos a afrontar a vontade divina, logo, estamos a ofende-lo. Os ateus, pelo contrário, agradam a Deus porque respeitam a sua discrição. Confesso que este raciocínio me encantou.
Muito curiosa a leitura que Agualusa faz da obra do seu amigo Mia Couto pela voz de Sophia: ela encara o Jesusalém como a melhor obra do autor moçambicano. Dela extrai uma curiosa definição de amor. Não resisto a transcrevê-la: “o amor é inútil, muito inútil mesmo. Arde sem préstimo e sua luz não ilumina ninguém. O amor não nos protege, não dá sentido a coisa alguma: arde e o que sobra são cinzas, e depois é maior a escuridão.” Falou e disse!
Last but not least, o famigerado acordo ortográfico. Mais uma vez polémica, a opinião de Agualusa. E, atrevo-me a dize-lo, algo redutora. É na voz dos grandes Machado de Assis e Padre António Vieira que Agualusa aborda o assunto, defendendo uma ideia um tanto obtusa: Lula da Silva está mais próximo do linguajar de Cabral do que Cavaco Silva. Custa-me entender este argumento que coloca o Brasil como centro gravítico da língua portuguesa. Numa coisa é preciso concordar com Agualusa: o ideal maior é a universalidade da nossa língua; é aquela bela ideia que ele já defendeu noutras obras, principalmente Milagrário Pessoal, segundo a quyal a nossa pátria é, parafraseando Pessoa, a Língua Portuguesa. Simplesmente, a pergunta que fica no ar é: será preciso inventar acordos e regras obtusas para construir esta pátria? Por mim, adorava ouvir a resposta de Agualusa. E estranho muito a defesa intransigente de uma tão forçada unificação da língua, precisamente por parte de um escritor que tão bem usufrui da liberdade linguística. Liberdade essa que faz da escrita uma arte…
Avaliação Pessoal: 8/10

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Lendo Agualusa - O Lugar do Morto

Habitualmente não leio a revista Ler. Embora admire o seu director; Francisco José Viegas, considero a revista demasiado dogmática e maniqueísta na maioria das opiniões. Por isso não conhecia as crónicas aí publicadas por Agualusa, crónicas essas que compõem este livro.
A ideia é genial: o autor dá voz de grandes escritores já desencarnados (como diria Mia Couto) para se pronunciarem sobre o mundo actual. Será curioso imaginar, por exemplo, o que diria Eça da crise que actualmente vivemos em Portugal.
No entanto, devo dizer por amor à verdade que está a acontecer o impensável: pela primeira vez, um livro de José Eduardo Agualusa não me está a encantar...
Mas ainda vou a meio, portanto... aguardemos.

A Questão Finkler: a melhor leitura do mês

Foi um mês magnífico, não tanto em quantidade mas em qualidade!
Sete livros não é muito, mas foi gratificante regresssar a Lobo Antunes, descobrir um refrescante Fernando Évora, alimentar esta paixão pelos livros de Mário de Carvalho, revisitar o geniozinho de Ondjaki, descobrir o Brasil em Machado de Assis, encontrar um novo (para mim) génio russo que foi Tchékov e... acima de tudo...
descobrir um novo génio: