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domingo, 27 de julho de 2014

A Viúva do Enforcado - Camilo Castelo Branco


Comentário:
Fosse pela sua formação literária, fosse pela necessidade de produzir para sobreviver, o certo é que Camilo foi mantendo, ao longo da sua vida de escritor, essa eterna contradição entre a adesão à “moda” realista e a manutenção de uma escrita romântica, bem ao gosto popular. É o caso deste livro. Não estamos aqui, obviamente, a falar daquele romantismo patriótico, historiográfico, como o de Herculano, mas de um estilo que faz lembrar Júlio Dinis. Até certo ponto, apenas. Na verdade, este livro pode fazer lembrar Dinis se lhe retirarmos o bucolismo.
Na base de todo o enredo está um amor fatal. Depois vêm todos os clichés do género: o sogro mau e poderoso, o pérfido rival derrotado logo à partida para gáudio das donzelas leitoras; depois vem o drama; a morte injusta e inesperada; a morte da donzela perdida de amores impossíveis; a tristeza de uma viúva que se entrega a um segundo amor, regenerador mas também fatal. Por detrás da esperança escondia-se a vingança do mal. E tudo há-de acabar em dramalhão. A fatalidade do destino, essa “imagem de marca” do nosso Camilo.
Talvez a graça, a irreverência que emanam da escrita de Camilo tenham origem numa visão crítica sobre a sociedade e os costumes. E essa visão crítica não deixa escapar determinados estereótipos da sociedade portuguesa. Por exemplo,
Joaquim Pereira, pai de Teresa, curtidor de peles em Guimarães, não é fidalgo mas comporta-se como tal. É o exemplo do rústico miguelista, tacanho e sovina. Um pouco como toda a sociedade minhota tal como Camilo a descreve
Mas voltando à matriz romântica; talvez o bucolismo de Júlio Dinis, que Camilo, de certa forma, despreza, seja substituído por esse mesmo espírito crítico; então, a donzela de bom coração ou o padre bonacheirão talvez sejam substituídos pela visão real que Camilo tem do mundo rural: dominado pela boçalidade, pela ignorância, pela religiosidade supersticiosa e pela sovinice. E perdendo a matriz romântica, jovial e cor-de-rosa, Camilo ganha naquele bom humor sarcástico e às vezes cínico. Pena que não tenha conseguido libertar-se desse outro lado do romantismo: a tendência para o dramalhão.

Sinopse:
Teresa, a única filha de um comerciante de Guimarães, é uma moça devota até ao dia em que se encontra e apaixona por um jovem ourives. Perante a oposição do pai, e com a ajuda de um abade, eles casam e fogem para Espanha para fugir à ira do pai dela. Aí ela conhece Inês, a filha do alcaide da cidade onde se refugiam, que está apaixonada por António, um outro português, que foge da forca por homicídio. Este e Inês estão noivos, mas quando Teresa enviúva de repente, a situação altera-se e António, declara-se a Teresa e eles decidem casar. Inês refugia-se em Madrid e mais tarde morre, deixando o alcaide desesperado. Este vinga-se fazendo António cair nas mãos da justiça portuguesa, que o virá a enforcar.
in www.wikipedia.pt


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Novelas do Minho - Camilo Castelo Branco


Comentário:
Quem conhece Camilo Castelo Branco do Amor de Perdição e desse conhecimento formou opinião, certamente ficará surpreendido com estas Novelas do Minho. Trata-se de uma obra em que o nosso genial Camilo demonstra toda a sua versatilidade como escritor, pondo em evidência dotes de sátiro notáveis, capazes de fazer rir e sorrir o leitor mais sorumbático. Que grande distância marca este Camilo realista em relação ao Camilo romântico! Mas este realismo é substancialmente diferente daquele que foi cultivado pelo seu rival Eça! O realismo de Camilo vai mais longe na sátira, quer de determinados padrões sociais quer mesmo do próprio romantismo e do naturalismo, tão em voga no século XIX português; na verdade, o mundo rural, tão bucólico e romântico em Júlio Dinis, aqui é povoado de gente interesseira e paisagens dominadas pelo estrume dos animais.
Por exemplo, na introdução ao conto O Comendador, Camilo faz uma exposição delirante da cidade de Braga, com um humor muito sarcástico: os seus hotéis pouco higiénicos, o passeio público com toda a sua futilidade, as farmácias com preços exorbitantes, enfim, com toda a ironia, “uma segunda Paris”.
Camilo conhecia como ninguém o carácter minhoto: alegre, folgazão,  beberrolas, bom anfitrião, mas também vingativo em questões de honra e malandro quanto baste no que aos negócios diz respeito.
Mas também a crítica social é uma preocupação constante. No conto O Comendador, aborda o tema dos enjeitados de uma forma crítica e cómica: Belchior, o enjeitado, haveria de vingar-se da sociedade e recuperar a mulher amada, a riqueza e a honra.
A crítica social é o tema fundamental, também, do livro O Cego de Landim: o cego é uma figura de estilo que envolve um certo sarcasmo; é caso para dizer que ele de cego nada tinha: enganava tudo e todos, agindo com a ladroagem e ganhando outro tanto denunciando-os à polícia. É o retrato típico do malandrote à minhota que fez fortuna com base nos negócios pouco claros que, naqueles tempos, muitos procuravam no Brasil, regressando ao Minho como beneméritos.
No entanto, o Destino, como sempre nas novelas de Camilo, teria uma palavra a dizer…
A crítica política e social, em A morgada de Romariz: Silvestre de S. Martinho era um fogueteiro que encontrou por acaso um tesouro escondido pelo avô. E assim se fez nobre, comprando uma propriedade da fidalguia.
Em O Filho Natural, Vasco Marramaque foi eleito deputado por “novecentos mil-réis, trinta e nove cabritos e duas e meia pipas de vinho verde”. Aí “Chegou, no delírio da sua alucinação, a imaginar que no Parlamento era necessário saber a língua portuguesa!” Esta passagem faz lembrar A Queda de um Anjo na sátira política. 
Álvaro, filho enjeitado de Vasco vai enriquecer no Brasil, levado por outro Álvaro enjeitado que lá enriquecera: o Brasil é encarado como uma espécie de terra prometida, último recurso dos enjeitados.
Também o conto O Degredado está repleto de “farpas” políticas. 
Um belo conto é sem dúvida Maria Moisés. Nesta novela, mais do que em qualquer outra, CCB satiriza a sabedoria popular baseada em crendices e na ignorância. Mas o alvo maior é um conceito de honra e uma moral hipócrita e violenta, cujas maiores vítimas eram as mulheres que engravidavam fora do casamento e os filhos naturais daí resultantes. Os homens, esses, vivem alheios a tudo isso… 
Mau grado esta tendência antirromântica, CCB não consegue afastar-se totalmente das suas raízes românticas. Por exemplo este livro, Maria Moisés, é uma narrativa capaz de fazer chorar as pedras da calçada… Sem dúvida um belo exemplar da criatividade, da imaginação e do humanismo deste enorme escritor português.
Pela sua extensão, e também porque foi publicado em separado, decidi não incluir neste comentário a novela A Viúva do Enforcado, que será comentada em separado.

Sinopse:
Livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura, "Novelas do Minho" teve apenas uma edição em vida do autor, publicada entre 1875 e 1877. O 1º volume, "Gracejos que Matam", publicou-se em final de 1875. No ano seguinte foi a vez dos 2º ao 7º volumes, respectivamente, "O Comendador", "O Cego de Landim", "A Morgada de Romariz", "O Filho Natural" e "Maria Moisés". No ano seguinte publicou-se a continuação de "Maria Moisés" (8º volume), "O Degredado" (9º) e a mais conhecida das novelas, "A Viúva do Enforcado" (volumes 10 a 12).
in www.fnac.pt

sábado, 15 de março de 2014

Coração, Cabeça e Estômago - Camilo Castelo Branco


Este livro é, acima de tudo, mais uma prova da enorme versatilidade deste escritor. Poucos como ele foram capazes de construir um estilo que perpassou três “escolas” oitocentistas: o romantismo, o realismo e até o naturalismo.
Nesta obra podemos encontrar um pouco de tudo: uma abordagem de notável crítica social, uma sátira de costumes e, acima de tudo, um exercício literário do mais fino e requintado humor, ao nível das suas obras mais hilariantes, como A Queda de um Anjo ou Eusébio Macário.
Esta é a história de um desgraçado; talvez mesmo apaixonado pelo fado se fado houvesse naqueles tempos. Silvestre segue os ditames do coração, depois da cabeça e depois do estômago mas só encontra a desventura; talvez seja esse o destino de quem se deixa conduzir pelas exigências do corpo.
As donzelas e senhoras por quem ele se apaixona são o reflexo de todos os males da época, que Camilo aponta com mordacidade: a ignorância da donzela destinada apenas ao casamento, a menina que lê romances de amor construindo castelos encantados que depois troca pela paixão de um caixeiro bêbado, a senhora que apenas vê o estatuto social e a renda, ou a pobre que se desgraçou porque a sociedade a julgou pela aparência.
É muito curiosa, por exemplo, a forma como Camilo, na voz do narrador (o próprio Silvestre) se refere à mudança de padrão de beleza feminina: “Estas meninas de quinze anos, que eu hoje conheço no Porto, são as filhas das robustas donzelas, que me enchiam de satisfação os olhos na minha mocidade. Que degeneração!”
Também os homens acabam por ser vítimas de uma mentalidade e de um enquadramento social que Camilo ridiculariza em cenas quase queirosianas: os duelos patetas e a cobardia de quem nem essa patetice enfrenta, o ridículo dos cavalheiros que encaram o amor como uma forma de obter distinção social e que exploram de forma abjeta a posição inferior da mulher na sociedade.
Em conclusão, estamos perante um dos livros mais divertidos de Camilo Castelo Branco: singelo, fácil, de escrita fluida e despretensiosa, própria de um escritor que trabalhava para sobreviver. Mas nem por isso deixa de ser uma obra com grande impacto na sociedade do século XIX, à qual Camilo não hesitou em apontar os defeitos: o snobismo das aparências de uma aristocracia falida, a futilidade interesseira do pensamento burguês ou a ignorância e mesmo o obscurantismo de um Portugal ainda (e sempre) algo medieval.

domingo, 9 de março de 2014

Mistérios de Lisboa - Camilo Castelo Branco





Sinopse:
Alexandre Cabral em Dicionário de Camilo Castelo Branco considera os Mistérios de Lisboa o "produto de uma imaginação truculenta e incontrolável". "Os enredos - múltiplos e diversificados - entrelaçam-se no conjunto dos 3 vols., sendo os seus protagonistas personagens estranhas que têm em comum a faculdade exótica de mudarem de nome com a mesma facilidade como quem muda de camisa. Assim, Pedro da Silva, conhecido por João, chamar-se-á também Álvaro de Oliveira; o "Come-Facas" usava os seguintes pseudónimos: Barba-Roxa, Leopoldo Saavedra, Tobias Navarro e Alberto Magalhães, e Sebastião de Melo faz-se passar pelo padre Dinis Ramalho e Sousa e duque de Cliton. Por outro lado, a vastidão do mundo (Portugal, França, Bélgica, Inglaterra, África, Japão e Brasil) é o cenário onde se desenrolam os conflitos ficcionais, marcados por vectores que perdurarão na novelística camiliana: a vingança, o anátema, o amor de mãe, a passionalidade, que se confunde com a ganância, a perversidade e a santidade. De permeio indícios vários de reminiscências biográficas do autor." Mais de 150 anos após a sua publicação original o livro "em que os pecadores podem ascender à virtude, e a virtude se conquista através de sofrimentos e lágrimas" é levado ao cinema pelo realizador Raúl Ruiz.
In wook.pt
 Comentário:
Camilo Castelo Branco publicou esta obra com apenas 28 anos, constituindo a sua primeira obra de grande folego. Não é, nem de perto nem de longe, uma leitura agradável; trata-se de um livro muito extenso, com centenas de personagens e um enredo algo complexo, em que as personagens aparecem e desaparecem de cena de forma algo abrupta. Também as coincidências, essas inimigas da boa ficção, se multiplicam de forma perturbadora. Talvez, nesta fase da sua vida, Camilo ainda procurasse um estilo, mas a experiência acabou por redundar num livro excessivamente extenso e exagerado em vários aspetos.
É conhecida a famosa instabilidade de Camilo enquanto escritor. Ele é, na sua base, um romântico mas vai mesclando esse predomínio com traços realistas e até naturalistas. No entanto, neste livro reina um forte e exagerado romantismo, na análise psicológica das personagens e, principalmente numa visão catastrofista da vida.
Nas novelas tipicamente românticas do século XIX, a tendência das personagens femininas vai para o desmaio fácil, o choro e o desespero. Aqui, pura e simplesmente, elas morrem! Convento, loucura e morte. Isto, para o leitor comum, como é o meu caso, chega a ser desesperante. Desistir da leitura foi uma tentação constante. Não o fiz por saber que se trata de uma obra fundamental na bibliografia de Camilo; mas chega a ser desesperante a forma como Camilo deixa as suas mulheres cair numa profunda e dramática instabilidade mental e na velha e irritante estória da morte por amor!
Quanto aos homens, esses chafurdam no amor, deixam-se ridicularizar pelas paixões e acabam em duelos de honra! Irritante! O aspeto mais positivo desta obra é, a meu ver, a abordagem de temas fulcrais da realidade social e política da época, nomeadamente as convulsões provocadas pela guerra civil entre miguelistas e liberais e, acima de tudo, a crítica ao sistema de morgadio vigente na época. É nítida uma certa compaixão e mesmo revolta do autor perante o desprezo a que eram votados os filhos segundos, em detrimento do morgado. Também os filhos ilegítimos, os direitos das mulheres, a ignorância da burguesia e a arrogância da nobreza são temas fulcrais na época, a partir dos quais a escrita de Camilo se aproxima da abordagem realista, tão bem cultivada pelo seu contemporâneo Eça de Queirós.
Em suma, trata-se de uma obra onde Camilo parece ter procurado uma certa erudição, uma profundidade narrativa talvez influenciada pelo romantismo francês mas que redunda num enredo pastoso, difícil, pejado de coincidências inacreditáveis e, acima de tudo, uma melancolia quase macabra onde a morte espreita por todos os lados, até dominar todo o enredo.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A Queda de Um Anjo - Camilo Castelo Branco


Li este livro pela primeira vez quando ainda era estudante. Hoje, uns 30 anos depois, deliciei-me da mesma forma com as aventuras e desventuras deste deputado transmontano do século XIX mas que nos faz lembrar, a cada passo, os políticos de hoje em dia. Afinal, há vícios que são intemporais.
Calisto Eloy de Silos e Benevides de Barbuda, o morgado de Agra de Freimas era um ingénuo, o puro, o quase santo miguelista, defensor acérrimo da moral e bons costumes. Logo no início da carreira tentou impor na câmara de Miranda do Douro as leis do foral de Afonso II. Não lho permitiram, afirmando os progressistas que tais leis estavam desatualizadas. Calisto ficou despeitado! Furioso! Como podem a moral e os bons costumes estar desatualizados? Esta pureza de sentimentos, esta generosidade na defesa dos valores maiores, fazia de Calisto o verdadeiro anjo! Uma preciosidade!
Casado era com a prima Teodora, uma mulher pouco afortunada pelas belezas temporais mas um exemplo de qualidades morais; um poço de virtudes. Uma mulher ignorante mas pura, feia mas adornada pelas maiores virtudes da alma.
No entanto, bastaria avançar uns dez anos na linha do tempo para encontrarmos um Calisto Eloy deputado em Lisboa, elegantemente vestido, fumando charuto e acompanhando uma bela e elegante amante, nos teatros da capital. Até de partido mudara: tornara-se deputado do governo, traindo todos os princípios conservadores que tão acerrimamente defendera.
Esta é a caricatura de toda a corrupção a que o poder conduz. Um livro que se afasta imenso do tradicional romantismo camiliano para formar um quadro de crítica social que o aproxima, por exemplo, da crítica queirosiana.
O provincianismo é o menos mau dos males. Muito pior que ser provinciano é defender ideias ao sabor das conveniências. O tradicionalismo de Calisto é visto como expressão de uma certa ingenuidade. Pelo contrário, a sua adaptação aos luxos e vícios do poder são expressão de toda a hipocrisia que o próprio poder gera.
É um pouco injusto considerar Camilo um escritor romântico ou de novelas “fáceis”. Ele revelou uma qualidade que poucos conseguiram superar: a versatilidade. Este livro é incomparável, como foram incomparáveis As Novelas do Minho ou Eusébio Macário.
O que mais surpreende neste livro é a extensão da visão crítica de Camilo; não é só a hipocrisia da classe política que está em causa; é o seu intemporal oportunismo, mas é também a crítica de costumes, a crítica social a uma fidalguia pedante, beata e ignorante de que ainda hoje encontramos eco nos corredores do poder político.

Enfim, um livro agradável, por vezes hilariante, inteligente e… atual!

domingo, 7 de março de 2010

Eusébio Macário - Camilo Castelo Branco



Quando Camilo Castelo Branco escreveu esta obra, em 1879, fervilhava-lhe no cérebro um tédio nauseado provocado pela abundante literatura bucólica do século XIX. Por isso, todo o livro é uma sátira sarcástica mas bem-disposta a esse tipo de literatura em que os personagens parecem viver no jardim do éden, rodeados de borboletas coloridas, flores campestre e passarinhos de canto melodioso. Em vez disso, CCB descreve-nos a natureza minhota pejada de moscas, porcos e estrume. Em vez dos amores perfeitos de Júlio Dinis, CCB apresenta-nos as aventuras sexuais do padre Justino, gordo e sebento ou as investidas do José Fístula nos bordeis de prostitutas baratas de Braga, onde estudava para padre.
Eusébio Macário é um boticário da região de Basto, no Minho profundo, que sabe de cor as mezinhas e remédios para todos os males. Mas é também um exemplo de sujidade, boémia saloia e devassidão.
A filha, Custódia, é uma moça roliça, gorda, penugenta, cheia de “desejos animais” e muitos ardores, “com cheiros de mulher suspeita”.
O filho, José Fístula (!) estudara para padre, onde se tornara devasso, bêbado e cliente de prostitutas sujas e mal-cheirosas. Voltara para casa pobre esfarrapado e tornara-se auxiliar do pai. Tocava fados que faziam tremer as nádegas do pai, animando os serões etílicos do pai e do padre.
O padre Justino vive com Felícia (“é ela abaixo de Deus”), uma mulheraça frescalhona, farta de carnes e seios intumescidos, a quem se agarrou quando duvidara da existência de Deus, acreditando que o Céu estava roto por causa da vitória dos liberais. Mais que mulherengo, é boémio e devasso, não se contentando com as frescuras de Felícia. Tornara-se herói quando matou um lobo a tiro e até foi promovido a abade e disputado por políticos com ambições eleitorais.
O abade, já de carnes amolecidas, atormentado por irritações, congestões, enterites e hemorróides não deixa de deitar o olho a Custódia, gabando-lhe as curvas roliças.
O irmão de Felícia, Bento, chegado do Brasil, é bruto e ignorante, gordo e feio. Mas desdenha do “país atrasado”. Recebido com honras de fidalgo, é feito comendador e espera o título de Barão.
Com o casamento de Custódia com o Barão Bento, Eusébio Macário, José Fístula, Felícia e Custódia tornam-se membros da mais fina sociedade nortenha.