segunda-feira, 30 de março de 2015

Mia Couto, voz da Terra


Mia Couto é poesia sem rima, é voz da Terra, sabor do Mar, alma de um povo inteiro.
Mia Couto é a força de uma Terra onde o sentimento resvala nas armas mas sobrevive e se fortalece na dor. É o mensageiro de uma Terra pintada de sangue mas perfumada pelo canto cristalino das sereias no Oceano Índico.
Mas Mia Couto é também o porta-voz da Alma, o cantor do gemido dolorido mas quase musical que emana do peito das gentes; a sua escrita é melodiosa, triste umas vezes, outras cheia daquele humor ingénuo das gentes de África.
E, acima de tudo, a voz de Mia é a voz do génio. Ele é, na minha opinião, o melhor escritor vivo de ficção de língua portuguesa. Ele é a prova viva de que os poetas têm razão: a nossa Pátria é a Língua portuguesa e muito mais é o que nos une do que aquilo que nos separa. Moçambique é da nossa Alma; muito sangue e muitas lágrimas nos uniram no passado e foi em português que sempre choramos as mesmas desgraças. Um fado que nenhuma união europeia ou aliança americana poderão contrariar.
Mia Couto pode não ganhar o Man Booker Prize. Mas para nós já ganhou.
Já ganhaste, irmão!

sábado, 28 de março de 2015

A Casa das Vestais - Steven Saylor


Talvez satisfeito com o comentário positivo que fiz a Sangue Romano, o “Descobridor” (como chamam a Gordiano em Roma no séc. I a.C.) voltou às minhas leituras. E desta vez com um título que induz em erro. Na verdade A Casa das Vestais é apenas um dos nove contos que compõem este livro.
O certo é que cada um destes contos é um painel de um belo mosaico chamado Roma Antiga. A escrita visual de Saylor, que já elogiei no livro anterior, permite-nos “ver” uma Roma castiça, cheia de particularidades que nos espicaçam a imaginação e que quase nos fazem reviver aqueles tempos. Na verdade, cada um dos contos parece ter sido escolhido para descrever um quadro em particular: o teatro onde se desenrola um crime de assassínio (as máscaras que os atores usavam adensa o mistério); um crime provocado por um Testamento adulterado (facto corrente em Roma), um crime muito curioso escondido por detrás de uma crença peculiar dos Romanos: os Lémures, que seriam os espíritos dos parentes falecidos que vagueavam pela terra atormentando os vivos; um episódio rocambolesco em torno de um rapto de César por Piratas muito peculiares; o pretenso roubo de um tesouro em prata durante as festas Saturnais, que nos são descritas com imensa curiosidade; um crime cometido por abelhas (!), um conto que dá título ao livro, com um drama empolgante passado em pleno Templo de Vesta, onde viviam as suas seis sacerdotisas virgens e dois episódios que se passam no Egito; mas convém não esquecer que a ação decorre durante os enigmáticos tempos dos Ptolomeus, onde todos os mistérios eram possíveis.
De tudo isto resulta um painel multicolorido que diverte, entretém e, acima de tudo, nos ensina bastantes coisas sobre a época em que se situa. Mais uma vez, como no volume anterior, destaca-se o papel bastante “terra a terra” do investigador, um cidadão comum não mais dotado que os seus concidadãos (por vezes até é a sua mulher, a bela ex-escrava Betesda ou filho, Eco, quem desvendam os crimes).

quarta-feira, 25 de março de 2015

Sangue Romano - Steven Saylor


Nunca compreendi muito bem porquê mas sempre senti um fascínio muito especial sobre o mundo antigo, especialmente no que respeita às civilizações clássicas. Por isso foi com especial curiosidade que decidi “dar uma hipótese” a Steven Saylor. Já tinha reparado nestes livros editados em Portugal pela simpática coleção 11/17 da Bertrand. 
Parti para a leitura com o chamado ”pé atrás” pela aparência de literatura “light” que têm e por algumas opiniões que li nesse sentido. Mas mais uma vez se confirma: livros atacados pelos críticos literários são livros divertidos, agradáveis, que fazem as pessoas gostar de ler.  
Este primeiro volume da série Roma Sub-Rosa não é, evidentemente, uma obra-prima nem pretende sê-lo. É um livro policial que tem como pano de fundo a Roma do século I a.C., mais exatamente a ditadura de Sila (ou Sula, nesta tradução), que governou imediatamente antes de Júlio César, na sequência da guerra civil que dizimou a cidade, entre os exércitos de Mário e de Sila.
Este romance, bastante bem estruturado e cheio de emoção, não deixa de cair naquele que é o maior defeito da má ficção: as coincidências, os acontecimentos fortuitos que, por mero acaso, definem o evoluir da ação. Neste caso, o nosso herói descobre a chave da investigação numa conversa casual numa taberna. Isto, obviamente, só acontece na ficção. Aliás, na má ficção. Mas este é o aspeto menos bom da obra. Tudo o resto faz deste livro uma obra que só se pode elogiar.
O herói é Gordiano, uma espécie de investigador por conta própria, ou detetive privado, em plana Roma Antiga. O que dá mais interesse à personagem é o facto de ele não ser um super-herói. Ele é humano e falha. Aliás, no final do enredo podemos ver como o desvendar dos mistérios não se deve a nenhum golpe de génio de Gordiano. Neste episódio Gordiano é contratado por um jovem advogado que é nada mais nada menos que o famoso Cícero. Curiosamente, este Cícero é bem menos prepotente e vaidoso que o Cícero da historiografia. 
Mas o aspeto que mais me seduziu neste livro foi a forma como o autor reconstitui, de uma forma muito clara, visual mesmo, a Roma Antiga, não apenas ao nível dos poderosos mas principalmente das classes inferiores, de um povo que vivia à sombra do poder.
Uma nota final para a editora: o Coliseu, que aparece na capa do livro, não existia no tempo em que decorre a ação. Foi construído cerca de 140 anos mais tarde pelo Imperador Vespasiano.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Cleópatra - Stacy Schiff


Eis um género (o único fora da ficção) que sempre me encantou: a biografia. A história, como a literatura, é feita de pessoas; de seres humanos. E quando olhamos para um rosto, ou para uns olhos, vemos apenas um resquício de um mundo inteiro. Sim, em cada um de nós há um cosmos completo, um mundo difícil de imaginar por qualquer observador. No entanto, escrever uma biografia não é propriamente o mesmo que fazer um retrato ou contar a história de uma vida; escrever uma biografia com qualidade implica penetrar profundamente na alma humana, mais do que desenterrar arquivos.
É tudo isto que esta biografia de Cleópatra nos oferece: a análise de um mundo perdido e de uma alma imensa. É por isso que esta não é uma biografia qualquer: com ela, a autora conquistou o prestigiado prémio Pulitzer.
Cleópatra é uma das personagens históricas mais misteriosas de sempre; além disso, a imagem que dela temos é, em grande parte, falsa e foi criada pelo cinema. A representação de Cleópatra por ElisabethTaylor sempre teve muito mais força do que qualquer retrato historiográfico. 

Mas poucos saberão que Cleópatra tinha um tom de pele que a aproximava muito da raça negra. 

Mas o que mais impressiona na figura de Cleópatra tal como nos é narrada neste livro é a sua enorme cultura. A grande rainha era herdeira da sabedoria grega – a dinastia dos Ptolomeus era descendente da monarquia macedónica. Por outro lado, tanto as tradições macedónicas como egípcias destinavam às mulheres o acesso à cultura tal como acontecia com qualquer homem; além disso, vivia em Alexandria, uma cidade maravilhosa cheia de cultura e encruzilhada de culturas: lá se cruzavam os mundos romano, egípcio grego/macedónico, persa, hebreu, etc. Assim, a poderosa rainha falava nove línguas, era especialista em finanças, conhecia profundamente os filósofos gregos, etc. A sua famosa relação com César teve aliás uma faceta pouco conhecida: ela tê-lo-á influenciado positivamente no amor que o ditador revelava pelo saber; um episódio muito marcante dessa relação foi a célebre viagem no Nilo, em que a curiosidade de descobrir a mítica nascente do imenso rio terá sido causa mais forte do que a aventura amorosa.
No entanto, feito este retrato, é difícil enfrentar esta realidade: Cleópatra ficou na história por ter sido amante de Júlio César e de Marco António, os dois homens mais poderosos do seu tempo!
Na realidade, sobre Cleópatra, as lacunas historiográficas são tão grandes que se justifica a construção de tantos mitos.
Um outro aspeto magnífico deste livro é a forma como a autora nos apresenta o cenário da época, dando-nos a conhecer realidades paralelas de grande interesse historiográfico; é o caso, por exemplo, da descrição que nos faz do grande sábio romano que foi Cícero, com o seu caráter tão peculiar: o mais sábio da época mas um dos mais arrogantes e vaidosos de todos os tempos.
Mas, para além de Cleópatra, a segunda personagem mais importante do livro é sem dúvida a cidade de Alexandria. 

Era uma espécie de capital de todas as civilizações. Roma tinha a fama de capital do grande império, mas era uma cidade suja e violenta, doente e doentia. Alexandria, pelo contrário, aberta aos ares saudáveis do Mediterrâneo, aliava a herança cultural grega ao encanto místico do Egito dos Faraós e a todo o requinte das civilizações orientais. O império de Cleópatra, que se estendia até à Síria, recolhia preciosidades e luxos que enriqueciam os alexandrinos, muito mais que os sujos e diletantes habitantes de Roma.
Mas também Cleópatra tinha um lado negro, um lado violento e cruel que encaixava perfeitamente na tradição ptolemaica: casou sucessivamente com os seus dois irmãos e acabou por assassina-los ambos (o casamento entre irmãos era perfeitamente aceite, com base na necessidade de preservar a transição do trono e a manutenção do património na família). Na verdade, depois de assassinar o seu jovem noivo/irmão Ptolomeu XIII, viria a fazer o mesmo com o segundo irmão, Ptolomeu XIV e ainda com a irmã, Arsinoe, elevando o seu filho (e de César) a imperador, com o nome de Cesarião.
Cleópatra ficou famosa pelo seu relacionamento com César mas foi depois da morte deste que ela revelou todo o seu génio como governante, negociando a autonomia e a liberdade do seu país e do seu povo com o poderoso Octávio César Augusto, que viria a ser o herdeiro de Júlio César e primeiro imperador de Roma. Nessa altura ele gere com extrema mestria o seu intenso, escaldante e profundo relacionamento com Marco António, o grande rival de Octávio.
A parte final do livro é dedicada, como não podia deixar de ser, ao destino trágico da grande rainha. Mas até aqui, na mais profunda das desgraças, Cleópatra foi brilhante. Cleópatra foi espetacular até na morte e a autora apresenta-nos aqui o seu suicídio de uma forma tão atrativa que o leitor sente estar a ler um romance, tal a forma como a verdade, por vezes, imita a ficção.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Uma Questão Pessoal - Kenzaburo Oe

Comentário:
Antes de mais nada gostava de deixar aqui expressa a minha incompreensão pelo facto de este livro, o mais importante do autor (que foi Prémio Nobel) não estar editado em Portugal. A edição que usei é um e-book brasileiro.
Um dos livros mais perturbadores que li nos últimos tempo. O tema acarreta desde logo um tom perturbador, que assusta pela estranha realidade de um fenómeno que a nossa mente só concebe como irreal: o desejo de morte de um filho… o que perturba mais não é a iminência da morte do bebé nem a monstruosidade da deficiência com que nasceu. O que choca mais é o realismo, a lógica, do desejo que o pai sente de que o seu próprio filho morra.
O pai é Bird de alcunha; “pássaro”: alguém que inocentemente procurava a liberdade; como se isso fosse coisa simples… ele é um modesto professor japonês que vive obcecado por colecionar mapas de África. Absurdo? Infantil? Ilógico? Talvez não… África era a liberdade. Estranha e distante. Inimaginável.
À medida que Bird vai sendo confrontado com a realidade da deficiência do filho, perante a quase insignificância da mãe, Bird deambula pela vida à procura de um sentido; nem a amante, que o leva ao extremo do prazer carnal, lhe pode dar esse sentido; e, lentamente, a partir do nascimento de um filho horrivelmente deformado, Bird leva o leitor a colocar a terrível questão: até onde pode chegar a degradação? Bird mostra-nos que se pode ir cada vez mais fundo, até atingir limites inimagináveis de desumanização…
Kenzaburo Oe foi Prémio nobel da literatura (1994) e facilmente se percebe porquê; 
só talvez Kafka exprimiu melhor a desumanização. No contexto de um país industrializado como o Japão…
Estamos perante um livro revoltante pela crueza com que a vida pode submeter um ser humano à mais degradante desumanização; um livro original pela forma única como as palavras ferem como facas, palavras simples, diretas, cortantes. E, finalmente, em termos formais, uma escrita algo surrealista, em que o Hospital pediátrico onde o bebé é destinado à morte, faz lembrar a estrada no deserto, de Outono em Pequim, em que nada faz sentido a não ser a dor, a tortura da alma…

“e à abominável e obscena miséria humana de toda a espécie, que os indiferentes fingem ignorar e, coniventes, chamam a esse fingimento humanismo.” Pg. 54

Mesmo assim, no final há sempre a hipótese de uma redenção. E a perturbação com que lemos o livro esvai-se, alivia-se um pouco num final de esperança e crença no ser humano. É sempre possível reformular o sentido da vida…

Sinopse:
Em 1964, o romancista japonês Kenzaburo Oe recebia a notícia de que o seu primeiro filho nascera com uma anomalia cerebral. É a mesma situação enfrentada pelo protagonista de Uma questão Pessoal, o professor Bird. Aos 27 anos, Bird leva uma vida medíocre, bebendo pelos bares de Tóquio a sonhar com aventuras no continente africano. A gravidez da mulher acrescenta angústia ao quotidiano de Bird. A ideia de que será pai e chefe de família faz com que se sinta condenado à vida quotidiana. Para piorar, depois do parto, os pais descobrem que a anomalia cerebral fará o menino ter uma vida vegetativa. Bird não suporta a possibilidade de se ver atrelado para sempre a um filho anormal. Passa, então, a desejar a morte da criança. Aos poucos, porém, dá-se conta de que a crise era uma oportunidade. Bird deve percorrer um longo caminho de conquista da realidade, enfrentando os desafios de amadurecimento da vida adulta.
Sinopse in http://chaehistorias.com/

segunda-feira, 9 de março de 2015

Nicholas Nickleby - Charles Dickens


Comentário:
Só agora, à medida que vou conhecendo a obra de Dickens, começo a compreender porque é que os seus livros me fazem sentir jovem. É que livros como este despertam o sonho; são dramas da vida real em que o bem e o mal entram em confronto, mas sendo o Bem o eterno vencedor. Esta ingenuidade não é mais que o reflexo da bondade natural que caraterizava este magnífico ser humano chamado Charles Dickens. Os famosos finais felizes de Dickens não são apenas elementos de simplismo romântico; são um manifesto da sua crença no futuro da humanidade, com base na bondade natural do ser humano.
Este é talvez o seu livro mais dramático, em que as situações de injustiça e de maldade são mais cruas e violentas; mas é também o livro (dos que já li) em que a redenção é maior, em que os castigos são mais pesados e em que os bons são mais magnanimamente premiados, a fazer lembrar as mais românticas novelas dos séculos XIX e XX, com personagens profundamente maniqueístas
Este é talvez o livro de Dickens em que a sua experiência como jornalista é mais notória, com descrições objetivas, claras, quase visuais. Daí advém uma leitura simples e agradável.
Ao longo do livro, o protagonista vai reforçando o seu caráter. De início ele é uma boa alma, mas de comportamento algo amorfo. Mas a violência da sociedade leva-o à necessidade de moldar esse carater forte e na segunda metade da obra deparamos com um Nicholas com grande força de caráter, um justiceiro, um elemento de força e de crença capaz de servir de modelo aos políticos amorfos e interesseiros que Dickens também ridiculariza. Na verdade, o que distingue os personagens, mais do que o Bem ou o Mal é a Vontade; é o querer, é a força para querer mudar, para salvar uma sociedade manchada violentamente pela desigualdade e pela injustiça.
Ou seja, o âmago do livro assenta uma profunda crítica social acima de tudo, mas também critica política. Os alvos são o lorde, ou seja, o aristocrata balofo, interesseiro e ignorante, o burguês explorador e egoísta mas também os políticos, desinteressados do bem público. Convém notar que o livro foi escrito em 1838/39, 4 a 5 anos depois da publicação das leis conhecidas como Poor Laws, em que o governo britânico adotava uma estratégia de apoio aos pobres com base na segregação. Dickens, como é óbvio, esteve na charneira do debate.
A crítica ao sistema de ensino parece estender-se, de uma forma mais global, a todo um sistema social assente sobre o materialismo e uma certa ordem racionalista. A crítica assume uma forma satírica, mau grado o dramatismo da forma como são tratados os alunos do internato onde Nicholas trabalha; o mestre-escola, avaro, pérfido, é a imagem do personagem a quem apenas interessam os bens materiais e a escola pratica um sistema de castigos corporais violentos justificados pela necessidade de ordem; ora, esta ”ordem” parece ser também o motivo de uma repressão social mais global que Dickens acusa na figura dos políticos, dos comerciantes sem escrúpulos, dos funcionários do estado, enfim de toda a classe burguesa reinante na época.
Mas não se pense que o livro redunda numa pesada e austera crítica; de repente o livro deixa de ser um drama para se ir transformando num quase alegre livro de aventuras;  a transformação de Nicholas em ator e o contacto com as novas personagens dão ao livro uma leveza, uma graça que à partida não se descortinava, tal era o peso das desgraças da família Nickleby.


Sinopse: (in wikipedia)
O romance retrata os percalços de um jovem britânico, Nicholas Nickleby que, com a morte do pai, tornou-se responsável pela família composta por sua mãe e irmã. Nicholas, porém, não tinha emprego nem dinheiro e sua mãe escreve para Ralph Nickleby, irmão de seu marido recém-falecido, solicitando ajuda. Ralph é um homem desalmado, com muito dinheiro e amigos desagradáveis e perigosos. Sua ajuda tem um quê de crueldade levando Nicholas a separar-se de sua família e a conviver com situações muito dolorosas. O jovem, porém, digno e sensível, direciona seus esforços para ajudar a sua família e seus amigos que direta ou indiretamente passam a ter suas vidas atormentadas pelas ações do tio Ralph.

quarta-feira, 4 de março de 2015

The Ring - O Aviso - Koji Suzuki


Terminei a leitura deste livro sem saber muito bem o que pensar dele.
Por um lado, é um livro que entretém, pela sua escrita simples e cinematográfica. Na realidade, deu até origem a um filme japonês de grande qualidade e também a uma produção norte-americana, e respetiva sequela, quando se anuncia já uma terceira filmagem. Para os cinéfilos, aqui ficam os filmes no IMDB, sendo que o primeiro é, sem dúvida, o mais cotado:
Ringu – A maldição (produção japonesa) 
The Ring – produção norte-americana 
The Ring 2 - a sequela 
Receio que a minha opinião sobre o livro esteja algo contaminada pelo facto de ter visto os filmes anteriormente. Na verdade, parece que estamos perante um caso, muito raro, em que o filme supera o livro (no caso do filme japonês, obviamente). Lembro-me de ficar absolutamente petrificado quando vi o filme e, por contraste, agora, o livro não me despertou qualquer interesse.
Terminei a leitura mais cansado com este livro de 250 páginas do que com qualquer livro de mil páginas do Ken Follett.
A narração pareceu-me muito lenta, com um ritmo narrativo pastoso que obriga o leitor àquele sacrificiozinho tão aborrecido de aguentar umas dezenas de páginas para saber o que vai acontecer a seguir e, pior que isso, o livro chega a um ponto em que a única coisa que interessa ao leitor é o desfecho; ora o desfecho chega a 50 páginas do final e depois o leitor ainda tem de aguentar mais 50 paginas que, sinceramente, não compreendi bem que interesse possam ter. O final mais ou menos aberto (ou confuso) só se pode explicar pela vontade de o autor querer futuramente explorar mais a estória. Mas não me pareceu nada boa ideia.
Enfim, de um país que deu à literatura nomes como Yukio Mishima, Kenzaburo Oe ou Murakami, esperava-se bem mais, para mais tratando-se de um escritor a quem já chamaram o Stephen King japonês e de um livro que vendeu mais de 4 milhões de exemplares.
Até o principal atrativo do livro, o seu enredo linear e fácil, baseado numa ideia genial (como se vê abaixo, na sinopse) se vai perdendo ao longo da leitura.
Aqui fica, para os corajosos, o trailer do filme japonês.



Sinopse: (in www.wook.pt)
Numa noite em Tóquio quatro jovens morrem simultaneamente, vítimas de paragem cardíaca. O jornalista Asakawa começa a investigar este estranho caso e descobre que os quatro amigos viram juntos uma cassete de vídeo, uma semana antes de morrerem. Quando Asakawa vê essa cassete de vídeo, é avisado que também ele tem uma semana de vida a não ser que consiga decifrar a sua mensagem subliminar. A partir daí, solucionar este mistério torna-se absolutamente urgente e imprescindível. The Ring - O Aviso é o livro que inspirou o filme de culto japonês Ringu, em 1998, e a versão americana de sucesso, The Ring, em 2002. Mesmo para quem já viu os dois filmes, a surpresa é garantida ao ler este livro, pois a sua adaptação ao cinema alterou as personagens e o final.