quinta-feira, 16 de agosto de 2007

As Loucuras de Brooklyn - Paul Auster

Antes de mais, uma chamada de atenção para o facto de o título original ser muito mais sugestivo: The Brooklyn Follies. No entanto, a palavra "Follies" é, como se compreende, de difícil tradução, pelo que se compreende a solução adoptada ("Ilusões"). Aliás a tradução do habitual tradutor de Auster para a ASA (Pires de Lima) parece-me muito boa. Pelo menos muito atenta, com notas de rodapé muito úteis. As Loucuras de Brooklyn confirma a fixação de Auster num estilo preponderantemente lúdico e narrativo. Atingindo a maturidade como escritor, parece ter neste romance atingido aquele ponto em que já não precisa de inovar. É, por isso, talvez, o romance mais bem conseguido deste nova-iorquino que não norte americano (palavras suas). É, seguramente, o seu livro politicamente mais interventivo e comprometido desde a Triologia de Nova Iorque. Todo o pano de fundo é preenchido pela Nova Iorque dos anos 2000 e 2001: desde a reeleição de Bush à tragédia do 11 de Setembro. Fica mais uma vez clara a revolta do autor perante os caminhos sórdidos e absurdos da política norte-americana, não hesitando em deixar clara a fraude eleitoral cometida pelo partido republicano. Mesmo assim fica a ideia de que Nova Iorque pré-11 de Setembro é um sítio feliz. Magnifica a descrição da gente simples da grande maçã, que Auster admira profundamente. Aí reside grande parte da genialidade deste livro: a maneira eficaz como se conta histórias simples, de gente simples. Neste romance, ao contrário do habitual nos livros de Auster, o protagonista não é escritor. Nathan Glass é um apaixonado pelos livros que, na fase final da sua vida, vítima de uma doença grave decide mudar-se para Nova Iorque a aí procurar um final de vida tranquilo. Mas não é tranquilidadde que ele encontra; encontra os problemas e as peripécias de gente simples a quem acontece um pouco de tudo. Envolve-se com personagens estranhas mas autenticas, quase diria estranhamente reais: homosexuais, assassinos, pobres desgraçados de minorias étnicas, ricaços desprovidos de ética e inteligência e um sobrinho vítima da vida que lhe reabre a porta da família e o enreda em novos laços de ternura que Glass julgava já impossíveis de recuperar. É o ranascer para a vida, é a redenção sempre presente nos livros de Auster: a solidão como caminho para a felicidade, mas sempre uma felicidade difícil, só conseguida por árduas lutas interiores e perante os outros. A afirmação do ser humano como único, só é possível perante uma sociedade que, à partida, o despreza. Mas, neste livro, parece haver um pouco mais de luz do que nas obras anteriores, mais sombrias e pessimistas. Um final feliz na medida do possível, compensam a tragédia que persiste, a espaços, na vida.

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