terça-feira, 3 de agosto de 2010

Anjos e Demónios - Dan Brown

Neste livro, Brown imagina um atentado contra o Vaticano pretensamente perpetrado por uma organização antiga e que se julgava extinta, os Illuminati, que reunia cientistas perseguidos pela Igreja desde o século XVI. Os seus primeiros grandes mestres teriam sido Galileu e o grande escultor do Vaticano, Bernini. O método utilizado para ameaçar o Vaticano de destruição total (após terem assassinado o próprio Papa) seria a antimatéria, uma substância com capacidade destrutiva centenas de vezes superior à energia atómica. Brown não consegue escapar ao cliché (o certo é que sem ele dificilmente obteria sucesso), escolhendo um herói super inteligente que resolverá todo o enigma. Para evitar a destruição total da Cidade de Deus, o director do CERN (centro europeu de investigação cientifica onde se desenvolvera a investigação) apela a um especialista em simbologia religiosa para resolver o problema (Robert Langdon). Ele será o herói do livro, juntamente com (o cliché total) uma bela mulher (Vittoria Vetra), filha e parceira de investigações do cientista assassinado pelos Illuminati e que fabricara as primeiras amostras de Antimatéria. É a maior dessas amostras que os assassinos colocam no Vaticano e que os nossos heróis vão tentar recuperar.

As relações entre a ciência e a religião são tema de discussão e de atritos há milhares de anos. A luta continua e continuará. Durante séculos, a Igreja Católica recorreu a meios pouco piedosos para tentar afirmar a sua supremacia na busca da verdade. Muitos foram os cientistas sacrificados nos altares, masmorras e fogueiras. Galileu é apenas o mais visível dos tenebrosos processos da Inquisição. É este o tema que, com coragem e conhecimento de causa, Dan Brown aborda.
Em primeiro lugar, devo dizer que, a julgar por este livro (o único que li de Brown) continua a ser muito despropositada e exagerada a polémica movida por alguns meios católicos. Alguns dos argumentos que defendem a Igreja Católica nesta querela com a ciência, são muito bem defendidos e fundamentados por Brown. No entanto, os maus católicos existem e seria disparatado alguém ter a veleidade de o negar. Assim como os maus cientistas. Não é apenas à Igreja Católica que Brown aponta o dedo acusador: é às Igrejas, à ciência, à Comunicação Social e à maldade humana em geral. Ao Satanás que existe em todo o ser humano.
Para lá das querelas religiosas, há três verdades a meu ver inegáveis na escrita de Brown: a sua infinita imaginação, a capacidade de manter um nível inimitável de suspense e conhecimentos profundos de História, de Física e do funcionamento das mais secretas estruturas da Igreja.
A criatividade de Brown é insuperável: quando o leitor julga ter descoberto o “infiltrado” ou o “traidor”, Brown encarrega-se de o surpreender mostrando-lhe como a pistas que seguira eram falsas. A surpresa do leitor só é superada pela surpresa seguinte. E é assim até ao final do livro: as revelações sucedem-se de forma cada vez mais incrível mas raramente descambando na inverosimilhança que por vezes perturbam este tipo de narrativas. Essas anomalias raramente acontecem em Brown: todos os acontecimentos acabam por encaixar numa lógica perfeita.
Trata-se de uma excelente leitura para férias, desde que a leitura seja acompanhada por uma boa dose de espírito crítico e um certo desprendimento em relação a preconceitos e pré-conceitos. Não fossem os inevitáveis clichés e estaríamos perante uma obra-prima da literatura de suspense. Mesmo assim, Brown fica bem perto desse estatuto.
*Tom Hanks e Ayelet Zurer como Robert e Vittoria no filme de Ron Howard (2009)

4 comentários:

N. Martins disse...

Do Dan Brown li esse e O Código Da Vinci. Gostei mais do O Código Da Vinci, embora livros que, enquanto os leio, me fazem pensar em argumentos para filmes não sejam os meus favoritos. Achei o Anjos e Demónios mais óbvio e o final fez-me rolar tantos os olhos por ser tão cliché. Os livros do Dan Brown são realmente muito bons de ler, o problema é que depois acabam por ser todos muito parecidos. :)

Anónimo disse...

Olha Manuel,
já começei a ler este livro algumas vezes mas sempre paro e deixo para uma outra hora, não sei se é birra de historiadora. Agora o perfume Ange Ou Demon by Givenchy é um por ano meu amigo, desde o lançamento. Só não é mais pq o preço não deixa.
Bjs.

susemad disse...

Li este e o "Código da Vinci" e considerei este último melhor. Depois ainda li "Fortaleza Digital" e "A Conspiração" e ao fim destes quatro livros cansei do autor ao ponto de não querer ler este último dele, "O Símbolo Perdido". ;)
Tal como a N. Martins refere os livros são "bons de ler", mas depois parece realmente que não passam dali. Vai tudo dar ao mesmo, por serem "todos muito parecidos".

Unknown disse...

Vocês têm uma vantagem sobre mim: já leram outros livros do Brown. Eu, como principiante, fiquei um pouco ofuscado com aquela capacidade de nos colar ao texto mas admito que outros livros sejam mais do mesmo.
Mas um dia ainda hei-de ler o Código da Vinci.