domingo, 17 de julho de 2011

Orlando - Virgínia Woolf

Se fizermos um pequeno periplo pela internet depressa encontramos uma panóplia de leituras e interpretações deste livro, como se ele fosse uma pintura abstracta. Este é um dos equívocos, a meu ver, da crítica literária: tanto se quer ver o que ninguém mais vê, de tanto se querer inventar, faz-se um enigma nebuloso de um simples romance. Estas análises obscuras por vezes são a desgraça de um escritor. Woolf criou a fama de escritora complicada devido, em grande parte a estas abordagens. Em Portugal, já o disse, está a acontecer o mesmo com Gonçalo M. Tavares… mas adiante.
O esquema básico do enredo deste livro é muito simples: Orlando é um jovem aristocrata inglês do século XVI, na época de Isabel I, com quem acaba por privar. Sacha, uma jovem russa, era a sua paixão. Mas grandes obstáculos se deparam.
Orlando, no entanto, tem uma particularidade: por vezes adormece a avança no tempo. No século XVIII é nomeado embaixador da Inglaterra em Constantinopla, junto da corte do Sultão. Orlando é um jovem de sucesso, tanto financeiro como pessoal; adorado pelas mulheres e respeitado pelos homens.
Um dia, há uma revolta na cidade. Orlando adormece e acorda mulher. É recolhida por ciganos e regressa a Inglaterra. A viagem no tempo prossegue até Orlando chegar ao século XX com 36 anos.
Desta estória parece-me ser possível extrair uma ideia muito simples, que não exige teses de doutoramento ou análises eruditas: a vida de Orlando é a procura do amor; e o amor não tem tempo nem sexo (género). Ser homem, ser mulher, ser jovem ou velho, viver no século XVI ou XX, tudo isso são variáveis que não afectam a busca incessante da felicidade pelo amor. Orlando é imortal como o seu amor por Sasha. Orlando, mesmo desprovido da sua masculinidade, continua a amar Sacha.
É nítido o desencanto de Woolf para com uma humanidade que despreza as mulheres. Mas a autora não cai no feminismo fácil, tão em voga no seu tempo; antes empreende uma análise profunda da desigualdade entre homens e mulheres. Quando Orlando regressa a Inglaterra, os cães e outros bichos foram os únicos que o reconheceram. Os cães são os únicos que reconhecem a pessoa independentemente do seu sexo.
São as aparências que determinam o estatuto do indivíduo na sociedade; porque ao nível da personalidade, é muito ténue a linha que separa o masculino do feminino. As emoções e os sentimentos são os mesmos. Tudo o resto é artificial.
Para além de tudo isto há outro aspecto pouco divulgado em Woolf: o seu magnífico sentido de humor. Do sorriso à gargalhada vai, por vezes, um pequeno passo. Isto dá a narrativa um tom leve, reforçado pela notável capacidade de expressão da autora e a uma imaginação absolutamente prodigiosa.
Avaliação Pessoal: 9/10

6 comentários:

Paula disse...

Gostei bastante do teu comentário Manuel...
O livro parece bastante interessante. Realmente o amor não obedece a regras nem a preconceitos, apenas acontece...
Quanto às diferenças entre homens e mulheres ainda hoje, infelizmente, se detectam algumas...

E a tua próxima leitura qual é?

Ps- Espero a foto da tua "torre" por ler :D

Continuo a ler "O Grande Gatsby" (já devia ter terminado)mas este fim de semana não consegui ler muito :)

Unknown disse...

Olá Paula
vou ver ainda hoje fotografo a torre :)
Agora estou a ler Alma, do Manuel Alegre. Sabes uma coisa? Nunca imaginei que Alegre escrevesse um livro tão alegre! Mesmo falando de coisas muito sérias, é divertidissimo.
O GRANDE GATSBY é, como sabes, um dos livros da minha vida. Só te peço que não desanimes com as primeiras 40 ou 50 páginas que são um pouco maçadoras!
Abraço..

Rubi disse...

Parabens pelo blogue e gostei muito da analise. Peco desculpa pela falta de acentos, teclado ingles!

Paula disse...

Acabei de ler esta obra hoje.
Adorei!
Para além do amor que acompaha Orlando, acompanh-o também a literatura e as suas mudanças. Uma escrita excelente.
Penso que agora terei de reler "Mrs Dalloay" da autora, li o ano passado e não gostei :P

vinicius disse...

essa é uma obra que às vezes povoa meus pensamentos. concordo contigo, no tocante às várias interpretações de uma obra que acabam confundindo uma visão geral, mais simples. essa é uma obra como a música "mal necessário" cantada por ney matogrosso e que no fundo fala de amor, simplesmente. gostaria de ver uma resenha sua a respeito de knut hamsun, já que há algumas sobre hesse e thomas mann. abraços

Unknown disse...

resolvi ler este livro por conta de sua resenha, obrigada! bela resenha.