segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Enquanto Salazar Dormia - Domingos Amaral


Com oitenta e cinco anos de idade, Jack Gil, espião britânico em Portugal durante a segunda guerra mundial, recorda as suas aventuras naquele período, numa Lisboa que vivia a Guerra de uma forma diferente, num autêntico ninho de espiões e contra-espiões.
No entanto, mais do que um relato dos problemas políticos da época, é um reviver de memórias pessoais e românticas. O rumo da narrativa é mais “as mulheres de Jack” do que “Jack, o espião”. Quer dizer, estamos perante uma espécie de James Bond para quem as bond girls são mais importantes do que as suas funções como espião.
Não se trata de uma obra literária de grande fôlego; as personagens são caracterizadas de forma algo superficial e o enredo é algo previsível. Mas há outros aspectos que me fazem recomendar este livro.
Em primeiro lugar, é uma leitura fácil e divertida. A emoção não falta, os diálogos são simples e directos, não há descrições nem reflexões enfadonhas. É uma leitura que prende o leitor pela emoção e suspense.
Em segundo lugar (e este é o aspecto que considero mais importante), é um romance bastante pedagógico porque desfaz alguns mitos muito arreigados na mente simplista de muita gente: tal como a revista Visão explicava há pouco tempo, Salazar não teve grande mérito na famigerada neutralidade portuguesa durante a Segunda Guerra Mundial. Salazar manteve Portugal fora da Guerra porque, na verdade, a Inglaterra nunca teve qualquer interesse na nossa participação porque não estava interessada em criar mais uma frente de combate. Por outro lado, foi Hitler que nunca quis invadir a Península Ibérica por considerar Portugal e Espanha países amigos.
Por outro lado, este livro mostra-nos bem que essa neutralidade nunca existiu: o Portugal de Salazar colaborou claramente com a Alemanha de Hitler, quer através do fornecimento de volfrâmio para o armamento alemão, quer pelo apoio ou pelo menos o “fechar os olhos” a combates aéreos que se deram em território nacional, a ataques sistemáticos dos submarinos alemães a navios aliados em águas portuguesas ou a perseguições a refugiados por parte dos espiões alemães.
Em suma, estamos perante um livro que merece ser lido pela leveza com que aborda o assunto mas também pela informação que podemos retirar do livro sobre este período tão controverso da história contemporânea portuguesa.
Avaliação pessoal: 8.5/10

10 comentários:

Unknown disse...

olá,
Não gostei deste livro precisamente porque, esperando um romance histórico, as minhas expectativas foram completamente defraudadas pela leveza com autor abordou este tema. E tive precisamente a sensação de o livro era muito mais “Jack e as suas mulheres” do que o que pretendia ser. Por tudo isso não sou tão “boazinha” e se tivesse que lhe dar uma nota nunca passaria do 6/10. Por acaso conhece o livro “Uma companhia de estranhos” do Robert Wilson? Aprendi muito mais sobre o Portugal de Salazar na segunda guerra mundial nesse do que neste livro.
Boas leituras

Cristina Torrão disse...

"Por outro lado, foi Hitler que nunca quis invadir a Península Ibérica por considerar Portugal e Espanha países amigos" - é bem verdade. Além disso, Hitler estava bem mais obcecado com a Rússia e virou-se para leste, quando tinha praticamente toda a França nas mãos. Na minha opinião, se ele tivesse conseguido subjugar a Rússia, virar-se-ia para a Península Ibérica e não haveria Salazar que nos valesse!

Unknown disse...

Olá Patrícia
Concordo com o que dizes, mas a minha avaliação é apenas uma nota pessoal que tem em conta mais o prazer da leitura do que a qualidade literária.
Gostei muito de ler este livro embora não lhe reconheça tanta qualidade como o 8.5 pode dar a entender.
Nunca tinha ouvido falar desse livro... vou pesquisar.

Olá Cristina
Salazar foi um génio mas noutros domínios: na forma como conseguiu cultivar a ignorância e o fanatismo do povo. Cultivou a estupidez para se servir dela. Esse é que foi o seu "mérito". E ainda hoje estamos a pagar parte da factura...

legião 1143 disse...

o livro é uma ficção , tais como certas mentiras que dizem que se tornam verdades , frases feitas há muitas , provas é que poucas , uma chatice...

1143

Anónimo disse...

Olá !
Gostei muito de ler este livro e até passei a gostar mais do autor, pode nao ser totalmente histórico...mas que tem força e sentimentos profundos tem!
Natalia

Anónimo disse...

ola Ptricia... achei um pouco estranho a ideia que apreendeste do livro. a verdade é que este livro está carregado de história. a cima dos amores de Jack, o livro conta de tal forma os pormenores da guerra que ,por vezes, torna-se um pouco denso. o facto é que "enquanto Salazar dormia..." relta muito bem a II Guerra Mundial e não se pode criticar isso. atribuo um 9/10 a este magnífico livro...

Anónimo disse...

Por acaso este é o livro que estou a ler no momento e que me está a deixar com uma certa sensação de "desapontamento".
Concordo quando diz que é um livro leve, na minha opinião até demasiado leve. As personagens são pouco desenvolvidas e as descrições praticamente nulas. Deixa-nos com uma sensação de que falta ali muita coisa, muita história por trás.
No entanto, se, na minha opinião, peca por excesso de leveza, é um livro indicado para quando pretendemos apenas uma leitura que nos distraia. Nesse campo, julgo que cumpre a sua função.
Tenho o hábito de intercalar livros com mais "substância" com livros mais leves, e este ficará certamente na 2ª categoria.

Sou capaz de ler "O Retrato da Mãe de Hitler", agora já sabendo o que me espera, uma leitura descontraída.

Marisa

Unknown disse...

Olá Marisa
concordo com a sua opinião.
Mas estou disposto a dar uma segunda hipótese ao autor e talvez "O Retrato da Mãe de Hitler" seja uma boa opçao...

sotôr disse...

"Salazar foi um génio mas noutros domínios: na forma como conseguiu cultivar a ignorância e o fanatismo do povo. Cultivou a estupidez para se servir dela. Esse é que foi o seu "mérito"."

O capítulo em que se refere o Casablanca e as reacções no cinema espelha exactamente isso: Uns a cantarolarem a Marselhesa e outros a gritarem pelo Benfica.

Anónimo disse...

"O capítulo em que se refere o Casablanca e as reacções no cinema espelha exactamente isso: Uns a cantarolarem a Marselhesa e outros a gritarem pelo Benfica."

Esta frase relata o que ainda hoje se passa. Vejo as pessoas mais preocupadas com a pobre pré-época do Benfica, do que descobrirem quem é que vai pagar a factura do BES.

Carlos