sábado, 3 de setembro de 2011

Felizmente Há Luar! - Luís de Sttau Monteiro


Raramente um texto tão curto consegue envolver mensagens tão significativas e um conteúdo tão rico. Trata-se de uma curta peça de teatro sobre a vida do  Gomes Freire de Andrade, um corajoso general português que viria a ser condenado à morte em 1817, por ordem do britânico Beresford, aquando da ausência da corte no Brasil.
Viviam-se tempos conturbados. D. João VI havia-se refugiado no Brasil após as invasões francesas, deixando o governo português entregue aos ingleses. Grassavam em Portugal e por toda a Europa as ideias liberais; em Portugal, a Igreja Católica e a aristocracia tradicional lutavam por todos os meios resistir às novas ideias. Freire de Andrade, liberal, era uma ameaça. Por isso foram forjadas acusações de traição que levaram à sua morte.
Mas a peça de Sttau Monteiro vai muito mais além; o alvo é também o regime em que o autor vivia: a ditadura de Salazar; mais ainda, é uma crítica e um lamento profundo perante qualquer forma de governo despótico e perante todas as injustiças sociais que tais regimes provocam.
É um poderoso grito de revolta perante a injustiça, a força bruta do poder político e a miséria das populações.
A Igreja é um dos alvos mais fortemente satirizados e criticados; a Igreja que esteve do lado dos absolutistas, tolerou os ingleses e, mais tarde do lado de Salazar. A Igreja simboliza a antítese das ideias que Stau Monteiro defende: a tolerância, a justiça social e a solidariedade, incarnadas pela personagem Beresford, ou seja, as ideias liberais.
Um outro aspecto que esta peça denuncia é a brutalidade das forças policiais, ao serviço de um governo despótico e que constituem mais um denominador comum entre a monarquia pré-liberal e o Estado Novo.
A linguagem usada na peça é profundamente irónica e sarcástica. O latim, constantemente usado pelos membros da Igreja reforça essa ironia de uma forma quase humorística.
A carga simbólica do luar representa um raio de luz, um assomo de esperança que resiste... haverá sempre uma voz como a de Feire de Andrade; uma voz de coragem; uma voz de esperança...
No fundo trata-se de uma obra intemporal: uma obra que aborda assuntos que estarão sempre na preocupação de qualquer ser humano pensante. Uma obra que ficou indelevelmente marcada nas páginas mais nobres da literatura portuguesa.
Avaliação Pessoal: 9/10

4 comentários:

Kézia Lôbo disse...

Parece lirico, reflexivo e interessante! Adorei muito a dica e o titulo é lindo, com certeza quero ler!

susemad disse...

Um dos livros que mais gostei de ler nos tempos de escola, daqueles que eram os obrigatórios.

Céu Gonçalves disse...

Já li a muito tempo e penso que não se tratava de leitura obrigatória nas escolas.

Ao ler este resumo magnífico estou tentada a tornar a ler.

Unknown disse...

Ainda é de leitura obrigatória, no 12º ano.
Mas garanto que ninguém fica "traumatizado" por ser obrigado a ler este livro, ao contrário do que aconetceu com "Os Maias" ;)